Pensamento do Dias

 Os dias demoram

É assim que minha vida atual se resume. 

E se me permitem proclamar um elemento canalizador e catalisador destes dias, o proclamo: o calor.

Longe de querer entrar em polêmicas com minha querida e leal amiga Isab-El Cristina, defensora ferrenha dos dias quentes (e não entro justamente por saber os nobres motivos que a levam a preferí-los), nada me irrita mais que o calor. Nem mesmo direitistas. Porque direitistas são seres humanos (biologicamente, ao menos) e todo ser humano tem seu fim, um dia. Mas o calor é uma força da natureza. E nenhum de nós pode com as forças da natureza. Mas porque o calor é o catalisador das nefastas emoções que se abraçam em meus ossos, tal qual cheiro de carniça em dia...quente? Porque o calor da mais desgraçada das estações do ano, me recorda que não tenho ar-condicionado. O que me recorda, que não tenho, porque não posso comprar um. O que me recorda, que não posso, porque estou fora do mercado de trabalho, já faz 4 anos. O que me recorda, de tudo o que me aconteceu naquele 2021, que desgraçou (receio que pra sempre) minha mente. Recordo tudo que veio na sequência: medicamentos tarja preta, psiquiatras, processos judiciais, laudos médicos, técnicos me ferrando propositadamente  e gananciosamente em perícias. E lembrar disso, me faz querer respirar. Os budistas tem como principal mantra o "não esqueça de respirar". Porque quando você respira, você se acalma. E quando você se acalma, você pensa. E quando você pensa, é provável que alguma solução apareça. 

Eu não respiro já faz 4 anos. Apenas ofego. E as vezes paro de respirar, só pra ver se a dor acaba. Mas sei lá. Já tive ideação suicida. Mas acredito que o medo de dar errado e ficar dando trabalho para as pessoas, sem ser de propósito (o que é bem mais divertido) seja mais forte que a vontade de morrer. Então paro de segurar o ar e volto a ofegar. E aí lembro que fica bem mais fácil ofegar, em meio ao calor absurdo que faz dentro deste sobrado mal projetado deste condomínio onde moro. Sobrado que me faz recordar que a porta e as janelas precisam ficar 24 horas fechadas, para que meu gato não seja novamente vítima de assassinato, ou de uma tentativa de captura e envio para não sei onde, como foi ano passado. E isso me faz lembrar que as pessoas, seres com quem amava estar, hoje só me fazem querer perder meu réu primário. O ser humano se tornou frio (sem refrescar ninguém), individualista e cruel. Ensina isso a seus filhos e torna essa atitude uma regra implícita de convivência dos seus clubinhos particulares. Eu não me filio a clubes. Não faço acordos. Apenas me sento. Ao lado do meu gato, Marx. Diante do meu ventilador que prometia ser forte e silencioso, mas nunca dá conta de vencer o calor e me faz ter que escutar a TV no volume 85,  já que também estou perdendo a audição aos poucos.

Mas os dias demoram...

E já faz tempo que não tenho mais tempo...



Davison Silveira


Davison Silveira é escritor e sonhador. Não ganhou dinheiro com nenhuma das duas, mas continua achando que as respostas da vida estão em alguma canção do Belchior, num disco de Dylan, num livro de Kundera, numa revista do Asterix e nos beijos de Denise. Para ele o sentido da vida é Centro-Bairro. E segue sua vida esperando o retorno daquele que veio dos Céus para nós salvar: Goku. Ou que finalmente resolvam fazer a versão 600 ml do refrigerante Teem

"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

COLETIVEARTS, 06 ANOS DE VIDA,
CONTANDO HISTÓRIAS, 
CRIANDO MUNDOS!


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Sempre algo interessante
para contar!

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2 Comentários

  1. Que lindo seu gatinhoooo!

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  2. Oi, Davison, sou a Isab. Kkkk eu nunca entraria em polêmica contigo nem com ninguém, eu respeito a opinião de quem respeita a minha. Na verdade a minha preferência é pela florida e perfumada primavera. Mas tenho como regra q cada um tem sua opinião e discordar é falta de respeito. Além de te respeitar somos amigos, então, sem medo de divulgar tua opinião na tua crônica. E eu ainda te dou um coraçãozinho. Bjuuuuu

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