POR ONDE ANDAM AS CRESPAS?
Estive pensando, dias desses, que está cada vez mais raro encontrar mulheres com longas madeixas encaracoladas. Uma espécie cada vez mais extinta nos dias de hoje. Em tempos de chapinha, escova permanente, escova de chocolate e outras coisas mais. Deixaram-me com certa saudade daqueles tempos em que as meninas desfilavam orgulhosas por aí, ostentando verdadeiras cachoeiras. Trajetória que começava assim: ondulavam de viés do cume de suas cabeças, percorriam imponentes pelas suas nucas, caíam absolutas sobre seus ombros, deslizavam sorrateiramente pelas suas costas e desaguavam soberanas sobre seus cóccix.
Por conta da vaidade feminina, que insiste em não perceber que a verdadeira beleza está na simplicidade e na originalidade, estão nos deixando cada vez mais saudosos dos cachos soberbos e estonteantes. E por falar em saudosismo! Minha mente inquieta deu vazão a outras reminiscências que, neste momento, me ocorrem. Pés de chorão, onde andam os pés de chorão? E as famosas bolinhas de cinamomo? Que eram indevidamente usadas como munição nas batalhas inconsequentes entre os garotos do bairro, nas tardes de incidentes previsíveis por conta dos seus estilingues. Mas, apesar de algumas vezes fazer vítimas inocentes, não lembro de alguém que tenha ficado com sequelas desta estúpida brincadeira que hoje reconheço.
Talvez, por isso, ainda hoje vagueie em minha memória aquelas tardes de intenso verão. Há tempos não vejo bolinhas de cinamomo, pés de chorão, que, assim como as crespas, estão em um retumbante ostracismo. Torço por tempos mais vindouros em que bolinhas de cinamomo não causarão mais mal a alguém; os pés de chorão voltarão a entoar suas tristes canções noturnas, simulando um melancólico balé, mas sem deixar de ser aprazível a quem adormece ao seu som.
E as crespas? Tenho certeza de que já está acontecendo uma pequena mobilização. Minha parte já estou fazendo! Elas voltarão a reinar, estou certo disso, com suas madeixas ondulantes, imponentes, soberanas, confiantes em si mesmas, mandando às favas este mal do século chamado: chapinha. Faço aqui um apelo! Que voltem os cachos, para que enfim eu não me pergunte mais: onde andam as crespas?
PS: Enquanto escrevia essas mal traçadas linhas Zelito se deliciava com cada acorde da saudosista canção "Bola de meia, bola de gude" de Fernando Brandt e Milton Nascimento.
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Zelito Vitrola |
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