Encontros e Desencontros

Mais um filme da Focus. Mais um filme maravilhoso. Mais um dos filmes da minha vida.
Encontros e Desencontros (Lost in Translation no original), conta a história de Bob Harris (Bill Murray, indicado ao Oscar por esta atuação), um ator cinquentão, que vive das glórias do passado. Ele é convidado a gravar um comercial para o whisky japonês Suntori (marca que realmente existe e é reconhecida por sua excelência) e receber 1 milhão de dólares de cachê. Lá, ele tem dificuldades para dormir, pelo fuso horário e pela beleza caótica de Tokyo. Bob está em crise no seu casamento, tem uma carreira em declínio, está envelhecendo e acha que não fez nada de relevante na vida. Mergulhado na mais profunda solidão imposta por si mesmo.
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Ao mesmo tempo, conhecemos Charlotte (Scarlett Johansson, aos 20 anos, no papel que a catapultou ao estrelato), um jovem cheia de vida, que está no Japão, acompanhando seu marido (Giovanni Ribisi), um fotógrafo de uma banda de rock, tão apaixonado por seu trabalho, que parece esquecer que tem uma esposa. Ela tem uma sede para saber mais sobre o que virá nos próximos capítulos da vida, mas está em uma prisão que nunca buscou, mas que mesmo não intencionalmente, lhe impuseram. Ao contrário de Bob, Charlotte busca no lado de fora do rico hotel onde está hospedada, uma cura para a tristeza que lhe corrói.
Inevitavelmente, Bob e Charlotte se encontram em seus desencontros e começam uma linda amizade (que apesar de platônica, é sim permeada por atração física). E pelas ruas de uma docemente enlouquecida Tokyo, tentarão se encontrar um no outro.
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Me lembro claramente de quando assisti este filme pela primeira vez e ao final PRECISEI sair de casa e caminhar pelo Parcão da cidade, para conseguir respirar e talvez colocar para fora as lágrimas que bravamente resistiram a sair, durante os poucos mais de 100 minutos de filme. Ver pessoas e imaginar seus encontros e desencontros. Tentar enxergar sua solidão para aceitar melhor a minha.
Encontros e Desencontros é o segundo filme da bela carreira da diretora Sofia Coppola. E sim, você conhece o nome e o sobrenome. Sofia é filha do mitológico Francis Ford Coppola, da trilogia O Poderoso Chefão e de Apocalypse Now. Ela própria atuou no terceiro filme da saga da Família Corleone, como a filha de Al Pacino, numa atuação tão deprimente, que a fez desistir da carreira de atriz. Perdemos uma péssima atriz e ganhamos uma grande diretora.
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A história ganha um ingrediente especial, quando descobrimos que a história de Encontros e Desencontros é a história da própria Sofia. Ela foi casada com o ótimo diretor de filmes e clipes, Spike Jonze. E a angústia de Charlotte no filme é a mesma de Sofia em determinado momento. Uma forma corajosa de desabafar sobre uma dor que a consumiu por um tempo.
E se quiserem um ingrediente a mais nesse lindo prato, Spike Jonze realizou anos depois o filme Ela (que também tem Johansson no elenco), um desabafo contando seu lado da história e um comovente pedido de desculpas de Jonze a sua ex-esposa. Falaremos deste igualmente belíssimo filme em outra oportunidade.

Coppola foi recompensada por seu comovente desabafo. Tornou-se a 3ª diretora a ser indicada a Melhor Direção, no Oscar e recebeu a estatueta de Melhor Roteiro Original. Ou seja, sua história, a história de um momento difícil em sua vida, foi premiada. Como se a vida dissesse a ela algo. Algo parecido com o que Bill Murray diz no ouvido de Scarlett Johansson no final do filme, numa cena improvisada pelo ator. Algo que nunca saberemos. Mas que eles sabem. Que Sofia sabe.
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Davison Silveira |
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