Pensamento do Dias

 

Varandas Velhas e Coração Analógico 

Me despedi a cerca de 1 hora e meia do meu aniversário de 46 anos. Esta é uma data que eu espero todo ano. Como faltam presencialmente os amigos, a data ajuda a afagar um pouco o espírito quebrantado deste cronista. Os amigos virtuais chegam com suas felicitações via Facebook e Whatsapp. Alguns ligam. É uma data feliz. Sempre foi.

Mas confesso honestamente e ao mesmo tempo, tristemente, que não aguardava este aniversário. Não tenho tido motivos para celebrar. Cheguei em um momento da vida que não se parece nada com aquilo que planejei, 25 anos atrás. Naquela época, portas se abriram e me mostraram um horizonte futuro cheio de realizações. Com 46 anos eu seria alguém vivendo da arte. Eu contaria histórias das mais variadas maneiras e tocaria corações. Quem sabe até mudaria vidas. Mas o fato é que nada disso ocorreu. Eu falhei. Pisei na bola. Apostei no cavalo errado. 

Formei uma linda família, sim, mas quem usa isso como motivo para descredibilizar minha tristeza, está sendo mais cruel que amigo. A vida pessoal anda separada da profissional. Porque a tristeza de uma precisa depender da alegria de outra? É uma argumentação sem lógica e como já disse, cruel. 

Tenho estado mergulhado numa tristeza profunda e sem fim, que me tira o ânimo para qualquer coisa. Cumpro com meus deveres. Tento ser presente e amoroso para minha família. É tudo que consigo. Vislumbro apenas desistência à minha frente, pois tantas derrotas parecem terem demarcado terreno à minha volta. Inspirado e incentivado por minha filha, tenho feito teatro. Depois de 30 anos. E provavelmente irei desistir. Olho para as pessoas maravilhosas e cheias de vida que fazem parte daquele grupo, e me julgo indigno de estar lá, com tamanha tristeza nos ombros. Me parece que acabarei contaminando um ambiente mágico e lindo de pessoas mágicas e lindas, que não merecem isso.

Talvez vocês não tenham reparado, mas semana passada não teve crônica. Nem poesia. Somente as colunas de filmes e séries. É mais fácil falar sobre histórias já prontas. E embora a minha pareça estar se encaminhando para um final abrupto, portanto perto de ficar pronta, não tenho conseguido trazer um único texto que inspire e alegre vocês. O que sempre foi meu objetivo. Quem gosta de um chorão?

Não sei se haverão mais colunas de crônicas e poesias de minha parte. Odeio ser essa pessoa que parece estar sempre se lamentando. E odiaria ouvir um de vocês acabar dizendo isso. E acreditem, mais cedo ou mais tarde, um de vocês vai acabar dizendo isso. Um de vocês sempre acaba dizendo. E doerá horrivelmente. Pela crueldade e pela verdade. 

Quando comecei esta coluna, eu queria inspirá-los. Receio não ter conseguido isso.

A ausência de comentários nessas colunas parece confirmar isso. Recebo alguma coisa sobre as séries e filmes. Nunca sobre as crônicas e poesias. Me parece um recado claro.

Falei sobre ter amigos não presenciais. Isso também colaborou para esta tristeza. Estou sem celular há 5 meses. Sem sequer saber o que está acontecendo em minhas redes sociais. Nem sei se alguém me desejou um Feliz Aniversário. E nestes 5 meses, apenas 2 pessoas parecem terem notado minha ausência e perguntaram a Denise. Me sentir só, tirou toda e qualquer vontade de celebrar o que quer que seja. E hoje, se alguém tentasse, eu não aceitaria mais, pois estou de mãos vazias. Sem nada a oferecer. E não me apresento oco diante de ninguém. É, minha avó dizia que a gente se acostuma com tudo. Me acostumei com a solidão. Sofro. Mas me acostumei.

Fiz 46 anos e não tenho nenhum plano para os 47. Nem mesmo planos para que eles cheguem. Meus dias são uma cadeira numa varanda de uma casa velha de madeira, olhando para o que um dia foi um lago, mas hoje é apenas um lodaçal. E receio enxergar o final dessa jornada, neste mesmo lodaçal.

Eu juro que eu queria que esta fosse uma coluna bonita para vocês. Mas minha vida nunca foi um perfil de Instagram: cor de rosa e cheio de filtros. 

Eu sou o velho 138 - Tele Amigo. 

Analógico, com chiado e provavelmente num eterno horário sem ninguém pra conversar.

Até a próxima coluna na segunda-feira. Ou não.



Davison Silveira


Davison Silveira é escritor e sonhador. Não ganhou dinheiro com nenhuma das duas, mas continua achando que as respostas da vida estão em alguma canção do Belchior, num disco de Dylan, num livro de Kundera, numa revista do Asterix e nos beijos de Denise. Para ele o sentido da vida é Centro-Bairro. E segue sua vida esperando o retorno daquele que veio dos Céus para nós salvar: Goku. Ou que finalmente resolvam fazer a versão 600 ml do refrigerante Teem

"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

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2 Comentários

  1. Oi, sou a Isab. Meu amigo querido, ninguém pode mensurar o q o outro está sentindo. Cada um sabe como é sua dor. Eu só posso te oferecer dois ouvidos para te ouvir qdo precisar, mas nunca poderei dizer se tua dor é ou não pesada. Minha casa sempre tem dois ouvidos e um cafezinho para quem precisar conversar. Não sei se ajuda, mas é o q eu posso oferecer. Sei o qto dói não ter com quem conversar, por isso eu sempre estou disponível. Bju

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  2. Eu sinto muito pela sua tristeza, tamanha magnitude apenas cabe em uma expressão artística, eu acredito que tu eres um artista precisa canalizar este sentimento, o teatro é uma terapia para vc, escreva sua peça e apresente, sería uma genial interpretação, com sentimentos reais. Sobre poucos comentarios, sempre deixo os meus quando posso ver tudo hahaha

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