O último santuário

   Quando nada nada mais existir. Quando até o tempo estiver desvanecendo. Quando a humanidade for uma remota lembrança. Quando a entropia estiver engolindo o nosso planeta. No fim, lá no fim, nem no fim mesmo, os últimos humanos, se ainda existirem, ainda terão o nosso bem mais precioso. O conhecimento. A única coisa que muda o mundo verdadeiramente. Para o bem e para o mau. O conhecimento é preciso, é necessário, é belo e destrutivo. O conhecimento é o mais valioso que qualquer bem material pois ele cria o bem material.
   Sem eles somos um livro em branco. Um ser primitivo programado para comer, dormir e amar. Tudo isso de uma forma simples em que o querer e o poder valem mais que tudo. Por isso mesmo, aprendemos desde cedo. Para preencher esse livro vazio. Devemos negar essas programação. Devemos pensar e repensar em como agir para o mundo e como o mundo age na gente. Isso é conhecimento. Voltando um pouco no texto, avançando milhares de anos, voltamos ao cenário catastrófico lido momentos antes. Então, se o conhecimento é tão importante, uma biblioteca é a nossa última fortaleza. Mesmo no fim das eras, um ser humano ao chegar em uma biblioteca. Provavelmente a última biblioteca da humanidade. Destruída e corroída pelo tempo. Lá, ele aprende a fazer o fogo novamente em um livro de experimentos para a quinta série. Terá aprendido um ensinamento valioso. Muito valioso. A ponto de endeusar tal conhecimento, tal livro, tal sentimento. Criando mitos e parábolas sobre aquele dia em que acendeu o fogo pela primeira vez. Eis então a criação do último santuário.
   O último reduto de conhecimento. Para nós, o primeiro. Desfrute.
                                                                                                                Texto: André Palma Moraes
                                                                                                                 Arte: Jorginho

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