O SIMIÓIDE


  
NÃO QUEREM QUE VOCÊ SEJA ARTISTA

Não dá dinheiro. Mas eu pratiquei por anos. Não dá dinheiro. Mas eu estudei por décadas. Não dá dinheiro. Mas eu pago minhas contas, vivo bem. Não é um trabalho de verdade. É sim, eu produzo mais de 12 horas por dia. Não é um trabalho como o meu. É sim, eu pago impostos e aposentadoria. Mas não é chato e maçante. Normalmente não, mas às vezes eu só quero bater com a cabeça na parede, não é legal perder o prazer de fazer o que se gosta. Mas para você é fácil, é divertido. Não, às vezes é simplesmente doloroso. Não pode ser, você só desenha, só escreve, só dança, só atua, isso eu fazia quando era criança, isso é coisa de criança. Não me parece, a maior indústria de entretenimento do mundo é a de videogames, que junta tudo isso, e a segunda é a do cinema, que você com certeza consome. É diferente, eu consumo filmes, livros e séries para me desestressar do meu trabalho de verdade. Então, o meu trabalho é tão verdadeiro que te ajuda a aguentar o teu. Mas é uma decisão idiota, como que você vai ganhar dinheiro com arte no Brasil? Do mesmo jeito que sempre se ganhou, do mesmo jeito que a maior rede de televisão do país tem como maior produto as telenovelas, uma junção de centenas ou milhares de profissionais do audiovisual, música e teatro. Não faz sentido, eu nunca tentei ser um artista, isso não dá certo, a minha família disse que não vai dar certo. Pois dá certo sim, pelo menos quando eu tentei deu, quando eu peguei o meu dinheiro que era para a comida para imprimir a minha história em quadrinhos e vendeu tudo, e depois disso, eu consegui um contrato com um editora e hoje dou palestras Brasil afora. MAS NÃO FAZ SENTIDO, COMO QUE SE GANHA DINHEIRO COM ARTE NO BRASIL? Então, algumas poucas pessoas consomem arte, pagam por arte, e gostam de arte, essas pessoas levam os artistas do Brasil e do mundo nas costas, e por fim, com certeza, elas são mais felizes.

Ou menos estressadas.

Aqui o Simióide, o fracassado. Sobrevivendo da piedade de quem ainda compra arte. Encerrando a transmissão.

André Palma Moraes

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