MICROSCOPIA DO OLHAR


                                                                     O LIMITE DO LIMITE

Copo meio cheio, copo meio vazio...”deixa em paz meu coração...que ele é um pote até aqui de
mágoa...e qualquer desatenção, faça não...pode ser a gota d'água...”


É possível existir o limite do limite? É possível estabelecer um teto do que é suportável, e
ainda assim, colocar um teto dentro do teto? Tudo para retardar um vulcão em erupção? Quantas
vezes, nesses tempos malucos, temos feito isso?


Existe um filme com Michael Douglas, chamado “Um dia de Fúria”, em que o personagem,
aparentemente um cidadão pacato que vai sofrendo situações adversas, ultrapassa o seu limite e
começa uma verdadeira série de assassinatos desenfreados, simplesmente eliminando, insanamente,
todos aqueles que de alguma forma, entraram em conflito com ele naquele dia. Certamente que esse
é um exemplo extremado de uma reação de colapso mental. Me pergunto quantos de nós estamos
vivendo situações-limite, verdadeiras panelas de pressão, que se não liberada a válvula de escape,
pode-se chegar a situações incontornáveis...


Que situações você ainda metaforicamente não vomitou? Tem um jeito menos doloroso de
fazer isso sem causar danos irreparáveis e superdimensionados?


Nós somos reflexo hoje, prioritariamente, de dois distintos grupos humanos: os
extremamente tolerantes (e talvez os mais próximos de um dia de fúria), e os intolerantes (que
demonstram cotidianamente seus atos, seus gritos, seu protesto, sua indignação, para o bem e para o
mal). Podemos agregar no grupo dos extremamente tolerantes os indiferentes, que mesmo que as
situações adversas os atinjam ou não, continuam como zumbis transitando pelo planeta.


Como seria bom e confortador ter a receita do bem-estar, de como abrir a válvula
periodicamente aliviando a pressão, em qualquer situação desafiadora que o mundo, que o outro ou
que nós mesmos estejamos vivendo. Infelizmente não há receita. Sem querer parecer pessimista ou
reducionista. Apenas humana.


Quando estamos dentro de um temporal, os nossos sentidos ficam todos voltados para o
objetivo de preservarmos a vida, seja a nossa, seja a do outro. Não paramos para pensar que o
temporal, muitas vezes, está apenas no nosso entorno, e que ele seja finito. Ele sempre passa.
Estamos do lado de dentro, com a vista nublada e o corpo cansado, quase desistindo, quase
explodindo. Mas passa...sempre passa...


Que esse temporal passe logo...e que ajustemos a nossa válvula de pressão para alívio periódico da nossa complexa existência humana.

Patrícia Maciel


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