MICROSCOPIA DO OLHAR


 
ADEUS

Começou como um grão de areia
Tornou-se a praia toda.

Nas paredes que me isolam de mim e do mundo
não pretendo nada. Sou nada.
Olho para trás e não enxergo o objetivo de chegar aqui.
O que me traz aqui. De estar aqui.
Você já teve essa sensação?
De um vazio que só cresce e engole
a vontade de viver?
O olhar que olha para a parede. Para o concreto.
Não tem estrada depois do muro.
E eu nem tenho pés para chegar até lá.
Um corpo que não presta pra nada.
Uma vida que não serve pra nada.
Família? Tenho.
Amigos? Sim, sem dúvida.
Emprego? Estável.
O que eu não tenho é desejo.

O vazio começou devagar. Uma tarde no quarto.
Era bom. Dava uma sensação de imobilidade.
De proteção.
O vazio se sentiu confortável
e convidado a ficar.
E eu gostei da companhia dele.
Até que como a planta parasita
o vazio se alimentou daquilo que eu achava que era eu.
O vazio me engoliu, e o meu ser se perdeu em imensidão.
Tão intensa que eu não vejo mais sentido aqui.
É como beira de precipício que convida ao voo.
O andar titubeante até a liberdade.

Por que ficar?

Peço desculpas. Quem sabe o que virá?
Eu não tenho forças para ficar e saber.
Espero de coração que você tenha.

Adeus.


QUE ESTA SEJA CADA VEZ MAIS SOMENTE UMA NARRATIVA LITERÁRIA.
CAMPANHA SETEMBRO AMARELO                        


Patrícia Maciel é doutoranda em Educação pela Unilasalle; Mestre em Artes Cênicas pela UFRGS, com pós-graduação em Psicopedagogia pela UNIASSELVI/ RS, Gestão Cultural pelo SENAC-RS, e Letras, Literatura e Ensino pela FURG (em andamento); Graduada em Teatro - Licenciatura pela UFRGS. Atua como docente e pesquisadora na área de Artes e Educação, principalmente nos segmentos de artes, teatro, educação e formação de espectadores. Desenvolve pesquisa em Pedagogia do Teatro, em especial sobre Mediação Teatral, e escrita criativa. Membro fundador do grupo ColetiveArts, atuando na área de escrita literária.

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