Erasmo, o velho lobo do mar
Ao brilho da estrela Dalva, lá sai Erasmo, para mais
um dia de pescaria. Pega seu barco batizado de
“Papai Noel”, apelido recebido pelo velho pescador
por ter a barba longa e no natal distribuir presentes
as crianças da colônia de pescadores e do bairro.
Caiçara desde novo, Erasmo tornou-se pescador,
em sua mocidade. Filho de uma índia com um pai
português era de um perfil simples e de uma
humildade ímpar.
Popular nas redondezas, quando chega à véspera do natal, se veste de Papai Noel e sai pelas ruas
distribuindo presentes para a criançada. Mesmo não
tendo a grana para o belo feito, recebia doações dos
moradores.
Depois de um dia bem cansativo e farto de tanto
comer as guloseimas da ceia, Erasmo resolver se
deitar no seu barco e tirar uma pestana. Antes de
fechar os olhos, ficou observando a lua, e refletindo
sobre a vida e fumando um cigarro de palha. Não
conseguia fechar os olhos e já tendo bebido além da
conta, viu ao longe no céu, perto da lua, certo
velhinho num trenó, acenando para ele e
agradecendo pelo que ele faz todos os anos.
Erasmo ficou perplexo e custava acreditar no que
seus olhos tinham visto. Ao amanhecer, ainda meio
sonolento e com a coluna um pouco doida por ter
dormido no barco, foi depressa pra casa contar a
sua esposa o que tinha visto a noite.
Sua mulher não acreditou e tomou a rir dessa
história de Erasmo. Achou que foi apenas um sonho
do seu velho e alguns goles a mais de uma cachaça
de rolha que tinha bebido na noite anterior.
Passado alguns dias, Erasmo aceitou que aquilo que
aconteceu no seu barco, foi só um sonho e que papai
Noel deve ser um velhinho muito ocupado para ir
visitar a sua filial em um lugar tão distante.
Daniel Filósofo é cronista, jornalista, profundo conhecedor de rock'n'roll, torcedor do Fluminense e radialista na Rádio Rota 220.
Daniel Filósofo |
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