DOSSIÊ KOBIELSKI

 

QUANDO ME TORNEI UM VERDADEIRO GREMISTA


Vou confessar, até os 13 anos de idade eu era um gremista de meia pataca. Naqueles anos de 1970 estava difícil torcer pelo Tricolor. O arquirrival Internacional acumulava títulos: oito campeonatos regionais e um bi-campeonato nacional. Era demais. Mas tínhamos que ser resistentes. Virar a casaca jamais. E chegou o Campeonato Gaúcho de 1977.

O Grêmio montou um time com muitos veteranos, comandados por Telê Santana. Para recuperar a hegemonia estadual, o Grêmio precisaria ser perfeito, desde o início do campeonato. A obsessão era não repetir erros do passado. E o Tricolor chegaria a fase decisiva com a melhor campanha. Ao todo, seriam 33 jogos disputados no Gauchão, com 25 vitórias, cinco empates e três derrotas, além de 69 gols marcados e nove sofridos. Faltava só um jogo: a decisão contra o temido Inter. Era a hora de mudar a história. A decisão do Gauchão foi em um Gre-Nal, disputado num domingo – 25 de setembro, no Estádio Olímpico. O Tricolor entrou em campo com: Corbo; Eurico,
Cassiá, Oberdan e Ladinho; Victor Hugo, Tadeu Ricci e Iúra; Tarciso, André Catimba e Éder
. Escalação inesquecível. Decorei. 


O Grêmio tinha a vantagem por ter obtido a melhor campanha. Uma vitória sobre o rival daria o título. Empate ou derrota levaria a decisão para o Beira-Rio. Ou seja, o sentimento era o de matar ou morrer. Nem mesmo o pênalti desperdiçado por Tarciso aos 25 minutos de jogo abalou o time dentro de campo. Aos 42 minutos, livre pelo “miolo”, como disse o narrador Celestino Valenzuela, Iúra vislumbrou o futuro do Grêmio em um passe mágico às costas do colorado Marinho Peres. Com um movimento sincronizado, de “facão”, o centroavante André Catimba irrompeu a área colorada em velocidade e calibrou chute com perfeição no ângulo direito da trave defendida por Benítez. Na comemoração, o baiano saltou para a imortalidade, em cena que entrou para a história dos Gre-Nais.


André chegou ao Grêmio já velho para a época, aos 30 anos. Depois de esculpir o nome na história azul, ainda brilhou no Argentino Juniors, que recém vendera Maradona ao Boca Juniors. Teve ótimos momentos no Vitória, com Mário Sérgio. Mas o auge se deu no Grêmio. Fiquei triste com a morte de André Catimba na quarta-feira (28/07). Ele foi um dos meus heróis do futebol. Aquela final de 1977 foi a fagulha de dias melhores do Grêmio. Foi a partir dessa reestruturação que o Tricolor deu um salto como clube. Virou gigante. Ganharia não só a hegemonia regional. Foi a partir de 1977, a partir das ideias de Telê, a partir do gol de Catimba, que o Grêmio passou a acreditar. Ganhou o Brasil, ganhou a América e conquistou o planeta. E foi a partir daquele 25 de setembro de 1977, com o gol de André Catimba, que me tornei um gremista de verdade.



"Se eu pudesse dava outro salto hoje viu..
para comemorar os 40 anos né..."
- André Catimba (30/10/1946 - 28/07/2021)
no aniversário de 40 anos
do Campeonato Gaúcho de 1977



Paulo Kobielski é professor de História com especialização em Filosofia e Sociologia pela UFRGS. Trabalha com fanzines  e quadrinhos na educação. Paulo é gremista, daqueles que se encanta com cada jogada, que vibra com a vitória, que sofre coma derrota, mas que está sempre firme ao lado do tricolor desde aquele gol de André em 1977.

Paulo conquistou  o Troféu Ângelo Agostini de melhor fanzine no ano de 2020, confira matéria aqui:

Também confiram o episódio do podcast  Coletive Som com Paulo Kobielski:














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Sempre algo interessante
para contar!

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4 Comentários

  1. O futebol sempre nos trás boas lembranças

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  2. Belo resgate! Nasci para o futebol, como gremista "ROXO" como dizem em minha família, um pouco após este período. Meu despertar foi em 1981, aquele Grêmio que tinha Leão no gol, aquela final contra o São Paulo, calando o Morumbi. Vi o final da carreira do Traciso, grande ponteiro, o Flecha Negra. Vi o início de Renato Portaluppi ... e ouvi muito falar de André Catimba e Baltazar. Grêmio vendeu Baltazar acho que depois da final de 1981, lembro de poucas partidas que vi com ele. Época em que os centroavantes eram de fato CENTROAVANTES, fazedores de gol, especialistas, perigosos, sagazes. André Catimba veio já veterano, mas botando o pavor nas defesas adversárias ...

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    1. Bah Sandro. Centro-avante é espécie em extinção. Lembrou bem do Baltazar, o "artilheiro de Deus". Valeuuuuuu

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