TECITURA

 


Avéde

Avéde: Uma gíria para dizer “não acredito”. Um sinônimo de espanto, discordância ou surpresa. Questionamento.

Exemplo de uso da palavra Avède: Avéde! Não posso acreditar no que você está  me dizendo.

E assim a página www.dicionarioinformal.com.br descreve a palavra Avéde, sinônimo de Espanto ou Discordância, dependendo do contexto.

Variável linguística originária da cidade de Lapa, Paraná, cidade pertencente à Mesorregião Metropolitana de Curitiba, estando a 62kms de distância da Capital Paranaense, esta simpática cidade de aproximadamente 50 mil habitantes é considerada o Celeiro Cultural paranaense.

Com tradição nos meios artísticos e culturais, proporciona uma pluralidade de olhares e pensamentos, contrastando com aquela imagem bucólica de cidade de interior.

Lar de escritores e escritoras, artistas plásticos e visuais, arquitetura conservadora, esta cidade ofereceu ao mundo alguns excelentes trabalhos de seus e suas artistas, chegando a ter uma de suas artistas plásticas indicadas a expor seu trabalho no Museu do Louvre, em Paris, na França, o maior Museu de artes do mundo.

Recentemente participei de uma Campanha Virtual para levantamento de fundos, uma vaquinha virtual. Amigos, amigas e a comunidade cultural se mobilizaram para que uma destas talentosas artistas pudesse ir a São Paulo/SP, expor seu trabalho. Convidada a expor sua obra na 21° Expo Arte - SP, Nayara Peter teve o reconhecimento de seu excelente trabalho. Exposição importante, agregando diversos artistas e diversos olhares - e o primeiro local a que a artista procurou para solicitar auxílio financeiro para que sua obra ganhasse essa visibilidade foi a Secretaria de Cultura de sua cidade. Nada mais justo, uma cidade com esta tradição deveria ter políticas públicas com olhar sobre o social e suas formas de expressão representadas na educação, no esporte e na cultura, entre outros. E recebeu uma negativa. Não há verbas!

Como a Cultura está sofrendo, não? Ataques reiterados, falta de reconhecimento, falta de apoio. Os Esportes sofrem com isso também. Educação é obrigação institucional, mas quando você vê o exemplo de uma Escola como a Tuiuti, aqui em Gravataí/RS, com tamanha tradição e formadora de tantos ícones da sociedade Gravataiense, estar hoje sucateada, o desânimo e o descrédito aos meios políticos aumentam.

Pois Nayara não conseguiu apoio do Setor Público. Havia uma esperança por parte dela de conseguir este apoio. É uma artista talentosa, mas vive de sua profissão, professora, pedagoga, orientadora, trabalha com crianças e tem contrato com a Administração Pública. Mãe de três anjinhas, é compreensível esta busca por recursos. Mas seria uma bela maneira de representar a cidade, dar visibilidade à região, fomentar o turismo, movimentar a economia local, o que auxilia em vários outros setores pelos investimentos possibilitados através da arrecadação recebida; na educação, na saúde, na segurança, na assistência social. Arte e Cultura é educação, é saúde física e mental, é economia. Que falta de visão destes ditos Gestores Públicos! Nayara tinha esperanças de obter apoio. Mas a artista que foi selecionada para expor no Louvre também não conseguira apoio nenhum! Que esperanças há?

Não é privilégio dela. Não é caso isolado. É reiterado, repete-se no país inteiro. Sem políticas de apoio e fomento a todas as formas de expressão artística, cultural, esportiva e tantas mais, perdemos cada vez mais talentos. Aqui na Aldeia é assim também! A comunidade se ajuda! Dependente de editais, vai muito da profissionalização e capacidade das cidades. Engraçado, por lei era para ter 1% da
arrecadação municipal voltada para a Cultura em todos os municípios. Cadê esta verba?

Ouvi muitos falarem, “comprarem” os discursos de que cultura não é prioridade. Então, enquanto humanos, somos seres culturais. Percebem isso? Quando você liga um rádio para escutar uma música, um programa de entretenimento ou reportagem, ou quando você abre um jornal, lê uma Crônica, estilo literário que nasceu no meio jornalístico, ou um editorial que seja. Ao ligar a televisão, ou acessar algum Streaming na Internet, ao acessar suas redes sociais … você está consumindo o
quê? Como Cultura não é prioridade?

Vamos parar com aquele discursinho pra boi dormir … Vamos investir em Saúde OU Cultura, Educação Ou Cultura … que tal substituir o conectivo OU por E? Vamos investir em Educação, E Saúde, E Cultura … é função do Estado, é inteligência, são vários setores interligados. Quando você paga seu ingresso para assistir a uma apresentação circense, por exemplo, você está fomentando toda uma cadeia. São artistas, equipes de apoio, alimentação, espaço, locomoção. Isso gera emprego, renda, movimenta a Economia. O mesmo acontece com o Teatro, o Cinema, as Mostras Culturais, as Exposições e tantas outras. Nossa economia precisa se movimentar! Descentralizar! Há muito dinheiro parado nas mãos de alguns, e a grande maioria está aí, lutando, e muito!

Mas quando as Nayaras, as Rayssas, os Joões, os Aurélios vencem alguma coisa, têm suas histórias contadas por revistas e jornais, aparecem nas grandes mídias, aí os “Políticos” aparecem, é importante aparecer nas fotos! É importante para o processo de fazer voto! É importante dar a impressão para o eleitor de que fizeram algo muito relevante para aquilo acontecer!

Por fim, Nayara, a artista que pinta e borda (um trocadilho infame … kkkk), que mexe com o imaginário, que captura a beleza dos Nus masculinos e femininos, que tem na Escultura outra forma de expressão, um olhar tão delicado para o erotismo, a sensualidade e a plenitude da beleza humana sem se prender aos estereótipos e padrões pré-estabelecidos, conseguiu seu propósito. Irá para esta exposição, a ocorrer entre os dias 10 a 12 de setembro de 2021. Não lhe faltou amigos e amigas, admiradores, a comunidade artística e cultural. O povo se ajuda! Está trilhando um belo caminho, esta trajetória não merece ser contida, os artistas precisam de visibilidade, precisam mostrar seu trabalho, o mundo merece conhecer esta arte! Vai e arrasa, Nayara! Quem sabe, um dia ainda você venha para cá, para nossa Aldeia, para que esta comunidade tenha o prazer de conhecer seu trabalho. Seria lindo!

Escrevo em uma quarta-feira, 18 de agosto. Estou com vontade de escrever, de contar uma história. E contei! Participei deste esforço coletivo para que esta artista tivesse a oportunidade de brilhar! Mas quero compartilhar mais. Uma ou duas pequenas histórias. Seriam minicontos? kkkkk

Ontem, final de expediente, o Vinícius, filho da querida Drika Carvalho, artista local que tem na música sua forma de expressão, veio visitar a Biblioteca. Nossa, estou retornando após quase um ano e meio fora deste ambiente. Como é bom ver figuras conhecidas! E as novas também! kkkkk …. Vinícius veio pegar Dom Casmurro, de Machado de Assis. Sua introdução ao universo fantástico de Machado de Assis? Trabalho para escola, curiosidade apenas ou outros propósitos? Ficamos conversando e esqueci de perguntar. Vinícius segue os passos da mãe, tem um olhar especial para a cultura e as artes. Conhecemo-nos há bastante tempo, sempre envolto nas oficinas. É do teatro! É da música! É da literatura. Categoria de base chegando forte! Aliás, falando em Categorias de Base, preciso escrever sobre Nathalia RL, categoria de base do ColetiveArts. Há horas penso em escrever sobre ela. Ilustradora talentosíssima, escreve cada vez melhor! Jorginho agregou mais um talento ao Coletive. Esta “gurizada” vai longe!
 
E falamos bastante. Mal vimos o tempo passar. Será que Vinícius vai enfim desvendar o mistério acerca de Capitu? Afinal, Capitu traiu ou não Bentinho? Aguardemos a devolução do livro. Este jovem perspicaz provavelmente terá muito a falar. Comentou também sobre as peripécias enfrentadas na última eleição. Sua mãe, Drika Carvalho, candidatou-se a vereadora. Apesar da enorme capacidade e engajamento, não fez muitos votos, não o suficiente para alcançar uma vaga na Câmara. Pena, é importante a representatividade feminina no legislativo e no executivo, e uma mulher com a força e o conhecimento de Drika seria uma grata surpresa! Poucos recursos foram dados a ela, “virou-se” como deu. Fiquei imaginando ela, uma representante da Cultura no legislativo. Seria bom! Nas reuniões do Conselho, ela como representante da sociedade civil, sempre com boas falas e contribuições pertinentes. Enfim, o futuro se constrói a partir do hoje, e quem sabe o que nos aguarda nos próximos anos, não?

Não posso esquecer de falar de Míriam Coelho. Também escritora e ilustradora, ela faz sua própria arte, ilustra seus textos, em sua coluna Contraponto, no blog do ColetiveArts. Como escreve bem! E que casamento perfeito entre a palavra e o traço, a Semiologia e a Linguística! Sempre me ponho a refletir com seus textos. Domingo teceu um ótimo texto, aproveitando O Dia dos Solteiros, que eu nem sabia que existia, apesar de ESTAR solteiro (digo Estar pois adoro estar casado, mas o momento e as circunstâncias fazem com que eu esteja solteiro, apesar de gostar de ser solteiro também. Que bipolaridade! kkkk), texto este falando sobre a condição e a palavra Solteiro e contrapondo com a palavra Solitude. Excelente! E hoje voltou ao tema, uma dissertação, uma argumentação, exposição de motivos e narração, tudo junto. Perfeito! Falando sobre Solitude. Que sensibilidade, que olhar! Ótimo texto! Pois então, o que é bom, inspira! Talvez a qualidade desta leitura hoje pela manhã tenha dado para mim a inspiração necessária para tecer estas palavras e contar estas histórias. Bom dia!


Sandro Ferreira GomesProfessor de Língua Portuguesa, Conselheiro Municipal de Políticas Culturais em Gravataí/RS, Servidor Público, Porto Alegrense, admirador das belas artes, do texto bem escrito e das variedades de pensamento.

Sandro Gomes














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4 Comentários

  1. Adorei o argumento sobre a importância da cultura e a valorização da arte! Me chamou a refletir principalmente sobre a arte plástica. Cresci ouvindo que desenhos não serviam para nada, que eu só perdia meu tempo, quando desenhava. Porém tudo na mídia funciona através do desenho e do olhar artístico. Os rótulos de produtos, as montagens de imagens de marketing, as capas de livros, até os folhetos de campanhas políticas... se não fosse pelo artista plástico, não teríamos mídia. O teatro faz as novelas, os jornais, as rádios e todos os meios de comunicação. A cultura, num todo, incluindo os conhecimentos históricos e a prática de leitura constante, formam pessoas profundas, inteligentes, completas e capazes de questionar e melhorar nossa sociedade sempre. Tudo isso é muito perigoso para quem nos controla, é mais interessante a cultura continuar marginalizada.

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  2. Humanos, seres Culturais. Há quem diga não estar nem aí para a Cultura, neste tempo recheado de opiniões superficiais. Tenho pena. Não conhecem a dimensão da besteira que falam! Arte, Cultura, Educação e História caminham lado a lado. A evolução humana é dependente destas ciências, destes conceitos.

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  3. Estava lendo dias atrás uma Coluna do Correio do Povo, onde Caco Coelho analisou bem a situação da arte no Brasil. De fato, nossa arte nunca foi valorizada, pois é uma característica da arte levar o cidadão à reflexão. Esse perigo que a arte pode provocar foi (e é) sempre o motivo pelo qual os governantes e, mais do que os governantes, a iniciativa privada e os donos do dinheiro dificilmente quiseram ter suas atividades vinculadas com o movimento cultural.
    É difícil, meu amigo, difícil. Mas seguimos na resistência sempre. Obrigada pela crônica!

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