TECITURA


  Cripta Djan em ato - A Gramática do Protesto


Início de semana, rotina e muito trabalho no Departamento de Comunicação da SMCEL, eu cuidando do setor de Cultura, Josiele responsável pelos esportes; dias trás, acompanhei a Diretora de Cultura e o Chefe de Departamento do Museu até o Fórum Granpal, em reunião muito interessante relacionado à Cultura, onde vários representantes municipais da região metropolitana estiveram presentes. Um aprendizado por dia, evoluindo sempre! Estes contatos e eventos são muito importantes para o desenvolvimento técnico e mental de qualquer profissional. E hoje, 2 de dezembro de 2021, um ano desafiador em todos os níveis, foi dia de começar treinamento - Sedac-RS, curso ministrado por Marta Porto e dirigido aos gestores de cultura, profissionais, técnicos e agentes que atuam na área. Um curso excelente!

Marta Porto apresenta uma dinâmica rápida e precisa em seu treinamento denominado Direitos Inalienáveis, ODS e Cultura, sendo precisa e concisa em sua fala, afinal é conteúdo extenso para discorrer e, 3 horas sem intervalo. Como tantos outros cursos ao qual participei, este foi também produtivo e cheio de informações importantes, ligadas ao meu trabalho. Mas teve um diferencial - as referências - Marta Porto trouxe exemplos de ações voltadas à arte e formas de arte que rompem com o usual - afinal, eu acho que este é o papel da Arte e da Cultura, ir além! - E nos brindou referenciando expoentes da arte brasileira que estão ganhando mundo, abrindo portas em parques importantes, como Alemanha, França, América do Norte, Ásia. E falou sobre Cripta Djan!

O Picho e os Pichadores (ou Pixo e Pixadores, expressão utilizada na linguagem das ruas) são ainda vistos com uma carga de preconceito enorme por boa parte de nossas sociedades. A pichação é segregada, marginalizada e incompreendida, sofrendo repressão por parte do poder público. A Arte envolvendo o Picho é marginalizada; porém este panorama começa a mudar, e o que antes era visto sob o olhar do preconceito está agora recebendo notoriedade e reconhecimento mundial devido à sua estética e beleza.

Cripta Djan Ivson, ou simplesmente Cripta Djan, talvez seja hoje o maior expoente desta forma de arte no Brasil. Cripta vem do grupo de pichadores ao qual faz parte; segundo Djan, a linguagem que utiliza é uma escrita codificada à qual denomina Criptografia Urbana, um estilo único de Caligrafia (ah, os calígrafos! que nobre arte esta da caligrafia). “Pixo não é só rabisco. Tem um potencial estético infinito”. Assim, Cripta Djan rompeu conceitos e barreiras, e fez a transição do Picho para o campo das artes.



"Nem tudo o que é arte a Bienal é capaz de abrigar ou de entender plenamente." Moacir dos Anjos, curador da 29º Bienal de São Paulo

"Exercer nossa liberdade de expressão já que vivemos numa falsa democracia."
 - Djan I.

“Criptografia Urbana é o nome que criei para batizar minha produção artística com a linguagem do pixo no campo da arte. O desafio desse trabalho é mostrar que é possível que um pixador da periferia tenha uma representação nesse campo. É também uma forma de luta de classes, mostrando que esse campo não foi feito apenas para artistas da elite brasileira. A periferia tem talento e potencial de sobra pra mostrar, o que falta é oportunidade, e já que as portas não se abriram para nós nesse campo resolvemos pular a janela.” Cripta Djan Ivson

Rompendo barreiras e atingindo Status de Arte, a pichação tem origem no final dos anos 1960, período da contracultura e das manifestações estudantis que tomaram de assalto as ruas de Paris, França, onde a maneira encontrada pelos jovens de protestar contra o governo se deu por meio da escrita nos prédios públicos.

A seguir, transcrição completa de artigo de Tiago Dias para o TAB Uol, São Paulo, em 21/10/2021.

A estreia de Djan Ivson (ou Cripta Djan, como é conhecido nas ruas) nas artes foi noticiada nas páginas policiais. Naquele outubro de 2008, a 28ª Bienal de Artes de São Paulo abria as portas com um andar inteiro vazio, numa metáfora da crise conceitual que assolava a arte tradicional. Apelidou-se aquela edição como a "Bienal do Vazio". Para um grupo de pixadores, era um claro convite para preencher as paredes e curvas projetadas por Oscar Niemeyer.

Nos points, um convite escrito na tipografia do pixo era um chamado à ação "Além do Bem e do Mal", inspirada na obra de Nietzche. Um logotipo com o símbolo anarquista rubricou o anúncio aos pixadores. "Tudo que é feito por amor estava acima do bem e do mal, era essa a ideologia. E a gente tinha muito amor por aquilo", explica Djan, que na época nem sabia o que era Bienal. Amigo de infância, o também pixador e hoje artista plástico Rafael Augustaitiz usou uma analogia mais próxima da realidade: era a Copa do Mundo das artes. Djan, que achava aquela ideia mais louca que as escaladas em prédios no centro da cidade, foi convencido. "Para um cara da periferia, aquilo era o mais próximo a se conquistar”, diz.

Toda a ação foi registrada em vídeo pelo próprio Djan. Os seguranças logo reagiram. Uma pixadora, Caroline Pivetta, foi presa. Era época de eleição municipal e a garota se tornou um símbolo do que o Estado precisava perseguir.


O "ataque", como foi noticiado na Folha de S.Paulo, fazia parte de uma série de intervenções dos pixadores num intervalo de quatro meses. A primeira aconteceu no tradicional Centro Universitário Belas Artes, onde Rafael era bolsista e descobria o próprio pixo como manifestação artística. Djan achava que o amigo havia surtado. O trabalho de conclusão de curso foi entregue mantendo a essência daquela arte. "O pixo não negocia nada, ele se apropria, reivindica um espaço que é negado a ele”, observa o amigo.

O momento está registrado no documentário "Pixo", de João Wainer e Roberto T. Oliveira. Um grupo de 30 pixadores invade o prédio e dispara jatos de tinta nas paredes e na exposição. "Porcaria sintética e fedida", disse o reitor à época. Irônico ou não, finalizou sua crítica dizendo que se alguém pegasse aquelas paredes e as vendesse, certamente "valeriam milhões".

Caligrafia da rua



Em frente ao ateliê de Djan, as casinhas de tijolos aparentes se amontoam num terreno elevado. "É como uma inspiração", diz ele, hoje aos 37, sentado na mureta de uma casa simples e antiga, nos fundos de uma sobreloja. Estamos em Osasco, na Grande São Paulo, e é ali que Djan guarda as obras que não estão nas fachadas dos prédios. "Hoje sou um pixador do campo das artes", define-se, desdobrando uma bandeira do Estado de São Paulo.

É a obra "Pavilhão de Concreto e Sangue", onde listas pretas, brancas e vermelhas servem de caderno de caligrafia para seu pixo. Não há assinatura, nem mesmo do seu coletivo, o Cripta. No lugar, um texto sobre o sangue derramado pelos bandeirantes. "A gente é acusado de ser artistas rasos", reflete. "Fiquei um tempo estudando essa transição."

A tensão de 2008 rapidamente mudou a cabeça do pixador. Ele já tinha escalado 30 andares, um recorde até hoje. "Quando a gente começou a fazer essas intervenções, senti uma nova energia, era o que estava faltando. Queria fazer revolução com o pixo", explica.

Do outro lado da disputa, a Bienal entendeu que a discussão merecia um convite oficial aos pixadores para a edição de 2010, com o tema "política da arte". Alçado a representante daqueles artistas marginais, Djan decidiu expor uma farta documentação que vinha coletando desde 1997.

Naquela edição, a obra de Nuno Ramos causou uma ruidosa polêmica ao utilizar dois urubus vivos. Djan enxergou nas aves necrófagas um grupo de pixadores de Belo Horizonte, recém-presos por formação de quadrilha. Era a deixa. Invadiu a obra e deixou registrado ali: "Libertem os Urubu". A reação dos seguranças foi ainda mais violenta. "Quase morri enforcado aquele dia", relembra. "A gente descobriu que quando a transgressão é de verdade, no campo das artes, eles chamam a polícia."

Aquela discussão ressoou fora do país. A partir daí, Djan e outros pixadores participam de uma exposição na Fundação Cartier, na França, e outra na Alemanha. "Foi um período de a gente se entender como artista", reflete. "A partir dali, não dava mais pra ignorar nóis." íntegra da reportagem em:

O filme “Urubus” de Claudio Borrelli conta a história de um grupo de pixadores que desperta para a arte.

Todas as formas de Arte … a expressão artística reflete o contexto e o mundo em que vivemos; esta sensibilidade faz dos artistas potenciais elementos reflexivos dos ambientes que nos cercam. O Pixo mostrou ser muito mais que uma arte marginal;  leva consigo a linguagem das ruas, as expressões da periferia.


Para conhecer um pouco mais sobre Cripta Djan e do pixo:

Site:   Cripta Djan (site )



Trailer de URUBUS: 


Para assistir na íntegra o documentário PIXO:


Sandro Ferreira GomesProfessor de Língua Portuguesa, Conselheiro Municipal de Políticas Culturais em Gravataí/RS, Servidor Público, Porto Alegrense, admirador das belas artes, do texto bem escrito e das variedades de pensamento.

Sandro estará presente no Anime Multi Geek em Canoas/RS dia 12/12/2021:











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