ARTE E CULTURA

SAMARA,  A  ARTISTA DE 
JERÁ POTY

Arte especialmente criada par o Arte e Cultura

A professora, pesquisadora e escritora  Angela Xavier está lançando mais uma obra, ela que nos encantou com as aventuras do Lanceirinho Negro, agora nos presenteia com as histórias da indigena Jerá Poty. Angela, nesta edição, conta com as lindas ilustrações de Samara Kolhrausch, com prefácio de Yaguarê Yamã, diagramação de Waldemar Max e com apoio do Clube Literário de Gravataí/RS.

Samara é um ilustradora de mão cheia e um ser humano melhor ainda. Tem aquela verve artística do "nunca acomodar-se", de estar sempre criando e realizando alguma coisa. A vida lhe apresentou certa vez uma face amarga, ela foi em frente lutando para superar o que lhe ocorreu, batalhando pelos seus sonhos, fazendo arte. Samara é arteira, é artista, é uma grande mulher, e os olhos do desenho Jerá Poty tem o reflexo da alma de sua ilustradora, são belos.

O Arte e Cultura foi conversar com Samara Kolhrausch, confiram:

SAMARA KOLHRAUSCH


JORGINHO: Quem é Samara Kolhrausch? Como você se define? 

SAMARA KOLHRAUSCH: Samara Kolhrausch é professora, ponto (risos). Brincadeiras à parte, me defino como uma pessoa que ama profundamente o mundo e as pessoas, uma pessoa esperançosa que acredita sempre no melhor do outro e isso se reflete muito na minha forma de dar aula. Atualmente tenho o privilégio de ser Educadora Social no CPIJ da Rede Calábria na Restinga, onde eu vivo todos os dias o meu sonho, que é ajudar a transformar o mundo um passo de cada vez através da educação. Me defino como um ser humano imperfeito (como todos os seres humanos), mas que acredita fielmente no potencial e na luz que cada um de nós pode irradiar...


JORGINHO:  Como o desenho entrou em sua vida?

SAMARA KOLHRAUSCH: A Arte está presente na minha vida desde muito nova ( e posso dizer que eu e ela tivemos muitos rompimentos e vai e vens), minha avó materna faz artesanato desde que me entendo por gente e minha mãe também, por sinal, minha mãe dava aulas de artesanato em lojas de aviamento ( geralmente eu participava das aulas por não ter com quem ficar, e fui me apaixonando pela pintura), meu tio desenhava muito também e desde muito pequenininha eu amava animes e mangás, somando o fato que eu sempre quis desdenhar…

Até os meus 15 anos, minha meta era cursar Artes Plásticas e ser professora de Artes (nesta época eu desenhava e pintava muito, inclusive pintura a óleo), e expressava tudo o que eu sentia nos desenhos, entretanto, com 15 para 16 anos fui abusada sexualmente e me revoltei profundamente com a Arte, joguei todos os desenhos, pinturas e boa parte do material no lixo…Segui minha vida normalmente ( ou quase), e aos 18 anos comecei a cursar licenciatura em História, no mesmo ano de 2017 consegui um estágio numa escola municipal de Porto Alegre ( achava eu que professor não era artista, ledo engano), dar aula me curou, e eu digo com certeza que o ambiente educacional me curou, me jogou de volta pras Artes com tanta força que não saí mais daqui desde então, hoje atuando como educadora referência. A Arte se encontra em cada cantinho da minha sala de aula e do meu trabalho, hoje também ainda uso a Arte para registrar meu processo de cura dos traumas através da terapia, agradeço demais a todos os meus alunos que fizeram de mim uma pessoa melhor e que me ensinaram a não desistir e ser uma pessoa melhor, a ser farol.


JORGINHO: Quais suas maiores influências no traço?

SAMARA KOLHRAUSCH: Atualmente tenho me inspirado bastante na Frida Kahlo, abordando temas ácidos e pessoais nas minhas produções, algumas ainda não publicadas, e que enviei somente pro pessoal do Arte e Cultura, mas sinto que o Mangá e o Anime ainda influenciam demais na minha ilustração ( provavelmente por ser minha base de início), tento me inspirar muito também na Juliana Lóssio, criadora da HQ Lili ( que trata temas como abuso sexual com maestria), no mais, creio que o meu estilo acaba sendo bem próprio por eu acabar retratando sempre coisas que saem do meu coração. Se eu estou muito pra baixo por exemplo, e tenho que desenhar algo feliz, acendo um incenso, coloco uma música alta que eu gosto e parto pra  produção… Acredito que a Arte reflete quem somos, então tento transpassar isso. A Jerá Poty refletiu a minha parte de menina sonhadora, que espera um mundo melhor por exemplo, ao mesmo tempo que em certas ilustrações ela carrega o peso de saber que o mundo precisa de mudança e que essa mudança pode começar por ela ( com muito esforço e sacrifício).


JORGINHO:  Como se dá sua atividade no mundo dos Larps? Fale para o leitor tudo sobre essa sua paixão. 

SAMARA KOLHRAUSCH: Sou uma apaixonada jogadora de RPG de mesa ( inclusive tenho uma tatuagem nas costas em homenagem ao game ), o Larp ( uma espécie de teatro vivido onde trazemos à tona os personagens que criamos) entrou na minha vida em 2018 ( conheci meu noivo nessa época e nem pensávamos em namorar ). O RPG me livrou dos meus dias mais sombrios, foi a mão que me puxou da depressão onde eu me afundava. O Larp foi onde eu conheci muita gente boa, fiz amizades, conheci pessoas artísticas e maravilhosas ( e também o meu amor hahahaha), por causa da Pandemia só consegui ir em dois até agora, mas é muito incrível poder dar vida a uma persona que pode fazer aparecer as suas melhores qualidades, ou até mesmo as que tu tens vergonha… fora o fato de ser maravilhosa  a possibilidade de interferir e participar de histórias mágicas em mundos de fantasia.


JORGINHO:  Como foi trabalhar na arte de Jerá Poty?

SAMARA KOLHRAUSCH:  Foi uma experiência incrível e de muita responsabilidade também, responsabilidade essa que me assustou e muito, exigiu bastante pesquisa e afins, não digo responsabilidade pelo meu traço ou prazos, mas pelo peso que a obra carrega, retratar um povo que historicamente é dono do país, mas vive às margens da sociedade pede muito respeito e muito conhecimento sobre a causa. Em tempos de "passar a boiada", obras como Jerá Poty são de extrema importância para que ensinemos a nova geração a preservar seu povo.



JORGINHO:  Como é trabalhar com a autora Angela Xavier?

SAMARA KOLHRAUSCH: A Angela é maravilhosa, nos conhecemos em uma escola em que fui estagiária em 2018. De cara já sentimos afinidade, nós duas somos pessoas extremamente incomodadas com a realidade e acreditamos que uma mudança parte do trabalho na base da educação. Quando o convite para ilustrar Jerá Poty chegou, foi uma benção ( eu estava desempregada devido à pandemia e recebendo auxílio emergencial), Jerá me deu um objetivo: Ilustrar. Sinceramente, eu já estava pirando com a pandemia, então Jerá Poty me trouxe luz e um desejo maior. Agradeço demais a Angela por ter compartilhado esse sonho comigo e por ser essa mulher sonhadora, que conta histórias divinamente e que cria teatros melhores ainda, que aproxima casais ( mesmo que sem querer, já que eu e o meu novo só começamos a conversar de fato porque eu fui pedir doação de materiais para o nosso teatro do Festil Estudantil), e que traz em si o brilho de luta dos povos originários como se fosse o próprio fogo da vida. Foi uma honra trabalhar com ela novamente e espero que venham muitas parcerias por aí!


JORGINHO: Por que o leitor deve adquirir a obra Jerá Poty?

SAMARA KOLHRAUSCH: Em tempos que em plena pandemia temos que ouvir um ministro dizer que "vai passar a boiada", em que crianças indígenas têm sido massacradas e engolidas por maquinários de garimpo, obras como Jerá Poty se fazem necessárias porque fogem do tradicional, fogem da apropriação cultural do "dia do índio, em que colocamos cocar em nossas crianças e elas saem por aí pulando e batendo a mão na boca, fazendo barulhos inaudíveis". Jerá traz a perspectiva do indígena que é marginalizado e sofre as violências de um país que não lhe dá seus direitos garantidos em constituição, ao mesmo tempo em que mostra a importância da educação e das políticas públicas que servem para dar acesso ao jovem para o ensino superior.


JORGINHO:  Quais os planos da Samara para 2022?

SAMARA KOLHRAUSCH: Neste ano eu me formo em História, pretendo começar a Pedagogia ou até mesmo um mestrado, quero continuar mudando vidas através da Educação e seria legal se surgissem mais uns trabalhos na linha das ilustrações também, porque acabei me apaixonando por ilustrar livros infantis!


JORGINHO:  Você como artista, o que está achando deste momento sócio político em que estamos vivendo? O que espera das eleições?

SAMARA KOLHRAUSCH: "Apesar de você amanhã há de ser outro dia!"... como artista e professora acho que o momento do Brasil é péssimo, mas acredito que os momentos de crise nos ensinam a refletir, muitas máscaras caíram ( algumas nem precisavam cair), e muitas lições foram dadas ( como a de se combater fascismo de forma efetiva, por exemplo). Nessas eleições eu espero de coração que as pessoas se conscientizem e que a tolerância vença, que a gente, daqui a cinco anos, possa se orgulhar que as taxas de miséria no país estão caindo novamente, e que o pobre possa ter emprego de novo.



JORGINHO:  O que a Samara anda lendo, assistindo ou escutando?

SAMARA KOLHRAUSCH: Minhas leituras e gostos são muito aleatórios, então leio e assisto muita coisa diferente ao mesmo tempo! De séries, ando assistindo a Bobba Fett ( universo de Star Wars), e Star Wars Visions ( gosto muito de como Star Wars aborda temas importantes de forma lúdica); de leitura, estou com três livros  simultâneos: Destroços e Traumas, do Bernd Ruf ( que trata sobre a Pedagogia de Emergência), Prisioneira da Inquisição, da Theresa Breslin ( um romance baseado em um cenário histórico na Espanha) e Lady Killers, Assassinas em série, da Tori Telfer ( que aborda a história de várias mulheres serial killers e como o machismo acaba atrapalhando no julgamento e até na imagem que temos das mesmas), todos são muito bons, eu recomendo. O primeiro livro recomendo principalmente para educadores que trabalham com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.


JORGINHO:  Deixe uma mensagem para o público leitor do Arte e Cultura.

SAMARA KOLHRAUSCH: Eu quero agradecer imensamente a oportunidade de contar um pouquinho da minha história, mostrar a minha arte e quero deixar o seguinte recado: comprem Jerá Poty, e nessas eleições vamos colocar na balança candidatos que protejam os povos indígenas!

Beijão e até a próxima!



CONTATOS:

Whats para adquirir o livro Jerá Poty: (51) 997320615


"A Arte se encontra em cada cantinho da minha sala de aula e do meu trabalho, hoje também ainda uso a Arte para registrar meu processo de cura dos traumas através da terapia, agradeço demais a todos os meus alunos que fizeram
de mim uma pessoa melhor e que me ensinaram a não desistir
e ser uma pessoa melhor, a ser farol."
 - 
Samara Kolhrausch

Jorginho

Jorginho é Pedagogo, Filósofo, ilustrador com trabalhos publicados no Brasil e exterior, é agitador cultural, um dos membros fundadores do ColetiveArts, editor do site Coletive em Movimento, produtor do podcast Coletive Som - A voz da arte, já foi curador de exposições físicas e virtuais, organizou eventos geeks/nerds, é apaixonado por quadrinhos, literatura, rock n' rool e cinema. É ativista pela Doação de Órgãos e luta contra a Alienação Parental.


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3 Comentários

  1. Muito orgulho da parceria com Samara Kolhrausch!
    Você é maravilhosa, amiga!

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  2. Que lindas as ilustrações, não pare de Ilustrar.

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