NAVALHAS AO VENTO

 



SETEMBRO AZUL E A COMUNIDADE SURDA

Dom Pedro II possuía interesse pessoal na educação dos surdos, pois seu neto, filho da Princesa Isabel com o conde D'Eu, havia nascido parcialmente surdo.

O Dia do Surdo, no Brasil, comemorado no dia 26 de setembro, foi oficializado em 2008, por meio do decreto de lei nº 11.796. A data foi escolhida por ser a fundação da primeira escola de surdos no país: o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). O então Instituto Imperial de Surdos-mudos, inaugurado pelo então imperador Dom Pedro II , com sede no Rio de Janeiro, foi um marco para a comunidade surda do Brasil. Lá teve início aquilo que veio a ser a Língua Brasileira de Sinais.

Hoje, com uma população que passa dos dez milhões de surdos no Brasil (de acordo com o IBGE em 7 de jul. de 2022 - Publicado por Sayonara Moreno - Repórter da Rádio Nacional - Brasília) ainda temos pouco o que comemorar. De acordo com a Lei nº 10.436 de 24 de Abril de 2002, Art. 1º - É  reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. No ano em que a Lei completa 20 anos ainda não vemos Libras como segunda língua brasileira. Poucas as escolas estão adaptadas a receber alunos surdos e menor ainda é o número de órgãos públicos e/ou comércios aptos.

Buscando visibilidade para a comunidade surda e suas necessidades temos o Setembro Azul que carrega histórias de lutas por uma sociedade mais justa e inclusiva e celebra os direitos conquistados pela comunidade surda.

A dificuldade do surdo está presente em todos os lugares, mas na área da saúde o problema se agrava. Apresentei meu TCC de pós graduação em Libras em plena pandemia de Covid-19 e o tema que escolhi foi "O surdo na pandemia - a visão do profissional de saúde" e me espantei com o tamanho da dificuldade. Desde a recepção até a CTI não encontrei ninguém capacitado nos três hospitais estudados e os profissionais relataram sentimento de impotência, mas não existe o interesse de aprender, pois consideram a dificuldade maior que a necessidade e exigem que o surdo seja bilíngue.

Enquanto não for implantado o estudo de Libras desde o ensino fundamental não teremos avanço. Não entendo porque a necessidade de aprender Inglês, até porque só se aprende o básico do básico, em detrimento ao aprendizado de Libras. Muito maior é a probabilidade de ter um filho, neto, vizinho, sobrinho, cliente ou paciente surdo do que viajar para algum país que o idioma seja o Inglês (e mesmo que venha a viajar, será necessário estudo além do ofertado nas escolas). Libras deveria ser oferecido antes de ser exigido. A lei que exige intérprete em órgãos públicos, comércio e outros esbarra na falta de exigência do aprendizado.

Mais um ano comemoramos o dia 26 de setembro e o Setembro Azul, mas mais uma vez lembro que desde Dom Pedro II estamos avançando a passos imperceptíveis. Muito dessa inércia e retrocesso podemos agradecer a Alexander Graham Bell no Congresso de Milão, em 1880... mas isso já é outra história...

Isab-El Cristina Soares

Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras.

Escute o episódio do podcast Coletive Som gravado com Isab-El , clicando Aqui.


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