CONTRAPONTO

 

Bom jogo

A democracia foi exercida nesse país, dois fortes nomes políticos atuais e totalmente opostos guerrearam no último domingo nas urnas. Venceu o mais votado, por pouca diferença devido a fatores diversos, mas ainda venceu. Em poucas horas se iniciou um jogo fortíssimo de poder para tentar reverter uma batalha já vencida: o jogo do medo. Usar o medo é uma das táticas mais brilhantes que qualquer bom estrategista pode utilizar, porque o medo paralisa, o medo nos desarma.

O medo traz a mais alta insegurança, capaz de desabilitar a pessoa mais cheia de dons em qualquer batalha, mesmo que ela seja infinitamente mais poderosa que o inimigo. Na Segunda Guerra Mundial, muitos alemães eram contra o nazismo, especialmente depois de vivenciar a forma desumana com que lidavam outros seres humanos. Porém a maioria esmagadora permaneceu imóvel, fingindo até não ver a monstruosidade realizada nos campos de concentração, por puro medo. Assim aconteceu nas diversas guerras que nosso planeta é testemunha e nas tantas outras subjugações de pessoas. Provocar medo é uma eficaz forma de aprisionar essa pessoa, impedindo que reaja em defesa de si.

Eu li em um livro que o povo cigano foi escravo dos egípcios antes dos judeus. Porém, diante da agressão em que viviam, decidiram agir com inteligência e raciocínio lógico. Eles criaram uma língua única de conhecimento apenas entre eles, para combinarem a melhor forma de escapar e - assim - ganharam a liberdade merecida. Logo em seguida, combinaram leis únicas e decidiram que jamais seriam prisioneiros de ninguém, andariam pelo mundo conhecendo tudo que este tem a oferecer, trocando conhecimentos com outras culturas e vivendo livres de qualquer subjugação. Acredito que uma das características mais marcantes deste povo seja a coragem, mesmo diante do medo. Em todo lugar do mundo, podemos encontrar um grupo cigano, que batalha diante dos preconceitos (que são inúmeros) para continuar sendo o povo livre e feliz que prometeu ser desde o início.

Atualmente, no Brasil, o medo está sendo utilizado pelo próprio líder dos perdedores e seus seguidores. Criou-se a fantasia absurda de que o próximo presidente vai transformar o povo em miseráveis, irá destruir até as redes sociais (dessa fantasia eu ri absurdamente!), irá ensinar as crianças sobre sexo e ideologia de gênero desde os berçários, fechar todas as igrejas, dançar quadrilha com o capeta em cima da cruz e por aí vai! O caos está se disseminando e será arrastado até não haver mais criatividade (coisa que brasileiro tem de sobra), porque os maus perdedores - que já eram sem noção antes - pioraram em seus delírios absurdos.

Devemos atribuir certa inteligência ao inominável presidente atual - não sou tola de dizer que um homem que conseguiu manipular e utilizar muito bem a sua persuasão até a presidência seja burro! Estamos - enquanto brasileiros - diante de uma imensa adversidade: vencer o medo e a ignorância que ele desperta nos desesperados. Mas fica a grande questão: agiremos como o povo cigano, que não pereceu mesmo diante da pior situação em que um povo pode ser submetido: a escravidão? Como podemos, inteligentemente, nos unir e driblar aqueles que acham que podem nos encurralar?



Miriam Coelho


Miriam Coelho é artista das imagens e das palavras.



04 ANOS DE COLETIVEARTS,
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