ARTE E CULTURA


A DOR DOS QUE SENTEM - Diário dos 
abandonados pela felicidade 
O poeta não morreuFoi ao inferno e voltouConheceu os jardins do ÉdenE nos contou...
Mas quem tem coragem de ouvirAmanheceu o pensamentoQue vai mudar o mundoCom seus moinhos de vento...
- letra de Dulce Quental, O Poeta está vivo, gravado por Barão Vermelho
O ColetiveArts hoje completa cinco anos de história e nada mais emblemático que entrevistarmos um dos nossos membros mais antigos e com certeza o seu mais atuante autor: Fabio da Silva Barbosa, ainda mais que ele está de livro novo: A DOR DOS QUE SENTEM - Diário dos abandonados pela felicidade .
Na nova obra Fabio relata a sua rotina e o seu pensamento em uma recente internação para recuperar sua saúde. Não posso falar mais nada para não estragar a surpresa de ler os seus escritos e posso garantir vale a pena cada linha, pois é um relato corajoso e audacioso.
Aliás, o Fabio sempre foi assim, corajoso, audacioso e afrontando os caretas. Nunca ficou em cima do muro e sempre manteve a sua postura de combatividade aonde quer que fosse chamado a estar.
Fabio da Silva Barbosa é meu amigo e tenho orgulho disso.
FABIO DA SILVA BARBOSA
JORGINHO - O que levou você a escrever sobre sua internação?

FABIO DA SILVA BARBOSA - Na verdade, esse processo de criação foi algo diferente, totalmente espontâneo. Brotou como o suor nasce dos poros. Foi para não morrer de tédio e com isso enlouquecer mais ao invés de me curar. Não me interessava pelo que era oferecido, então busquei uma alternativa. Pedi um lápis e papel. Era sempre uma burocracia para conseguir o lápis. De fato, ainda mais quando vinha com a ponta bem feita, dava pra promover um prejuízo. Mas o caso é que a todo momento que me vinha algo, pedia papel e lápis. Usava e devolvia o lápis. Os papéis ficavam comigo, mas eu nem sabia o que estava fazendo. Nem tinha concebido “A Dor dos que Sentem – Diário dos abandonados pela felicidade”. Eu apenas estava tapando buracos, buscando algum sentido para as coisas, entender minha colcha de retalhos. Encontrei nessa atividade que exerço há tanto tempo, uma forma de equilíbrio. Daí começo a registrar tudo.

Uma cena que está acontecendo diante dos meus olhos, detalhes que de tanto se repetirem e serem comparados com o nada que nos envolve, tomaram  proporções de acontecimentos, reflexões, pensamentos descartáveis, devaneios... Vai tudo para o papel. Mas comecei a fazer isso depois de uns dias. Nos primeiros levantava da cama só quando não tinha jeito. Daí comecei a levantar mais vezes e a rotina se apresentou de forma massacrante. Se não arrumasse nada do meu interesse para me ocupar... E aí comecei a escrever. Embora tenha usado a palavra “Diário” abrindo o subtítulo, agora acho que está mais para um caderno de recortes. São recortes mentais, perceptivos e psíquicos. Isso também se deve ao meu cérebro estar funcionando de forma totalmente desorganizada. Quando fui transcrever, passar a coisa para o computador, tiveram partes que não consegui ler devido as letras terem virado verdadeiras paisagens de garranchos atômicos. Tinham frases escritas por cima de frases. Devido a beleza de todo aquele caos no papel, até guardei esse manuscrito. Já existe a ideia da Editora Merda na Mão lançar também em formato impresso. Daí, de repente, colocamos uns bônus com fragmentos do manuscrito ou algo do tipo. Mais isso está por vir. Ainda se tem muito chão pra caminhar.

Mas voltando a pergunta: Lá para o final da internação, comecei a perceber que aquela coisa posta pra fora, sem buscar um sentido maior, sem a menor preocupação com objetivo, além de preencher meu tempo e me organizar internamente, poderia ser um livro. Folheei-o e achei que tinha em mãos um diário. Um documento de como funciona a cabeça de uma pessoa em tratamento de saúde mental. Aí, o que aconteceu, acho não ter sido resolver escrever sobre, mas resolver que escreveu sobre. 

Então poderia concluir que: O que me levou a escrever sobre minha internação foi a própria internação. Além da loucura que estava em mim, claro.

JORGINHO - Como é para você sair do tratamento e voltar para esta realidade brutal em que vivemos?

FABIO DA SILVA BARBOSA - Como de hábito, o início é sempre um problema. Quando iniciamos o  tratamento, é bem ruim, quando terminamos ele e voltamos para a rua, é muito difícil. Os primeiros dias são igualmente difíceis, mas de outro jeito. Isso foi assim para mim, não quer dizer que seja assim pra todo mundo. Inclusive essa experiência que compartilho são as minhas experiências, vivências, percepções... É algo muito pessoal e intransferível. Até, a princípio, pensei se devia lançar, porque tem muito pau no cu que não merece que eu compartilhe  minha vida. Mas não tive muita opção. A coisa já estava nas minhas mãos, eu estava nos primeiros dias fora, precisando me ocupar... Pareceu perfeito dedicar este tempo decifrando o que eu mesmo tinha escrito em um estado outro e digitar tudo.

Agora já estou tranquilo. Completamente readaptado. Foi uma experiência muito benéfica e que só acrescentou. Mas é o que volto a destacar: Essa foi a minha experiência. Já ouvi vários tipos de relatos, mas, de acordo com a minha experiência, posso falar que vale a pena todo mundo que está precisando, buscar o serviço de saúde adequado. Como qualquer problema, quanto antes tratar, melhor, pois é mais fácil resolver e se evitam perdas desnecessárias. 

JORGINHO  - Em quais novos projetos está trabalhando?

FABIO DA SILVA BARBOSA - A maioria dos projetos em que estou trabalhando, são velhos projetos que estão parados e não quero que morram porque são boas ideias. Tem três livros em que estou tentando dividir meu tempo. 

Vidas Mortas – Serão três histórias que vão se encontrar e virar uma. Um ambiente bem urbano revelando suas dores e mazelas. Abandono, tristeza, miséria... É uma história sofrida 

A Saga da Corta Cabeças – Futuro apocalíptico onde a personagem vaga tentando sobreviver, enquanto dá topadas em situações que, por vezes, se envolve mais que gostaria.

A Pecadora Feliz – Dos três, esse é o mais recente. Tive a ideia neste ano de 2023. É a história de vida de uma mulher que passa por muitas situações que infelizmente são rotineiras. É baseada em uma história real. 

Por enquanto ainda estou tentando me organizar para dar conta de tudo. Porque fora estes projetos extras, tem o que faz parte da rotina. É o programa de Rádio Aleluia Nunca Mais, são as colunas que tenho em blogs e sites, tem as coisas da Editora Merda na Mão, tem o meu zine, o Reboco Caído, novas poesias... Fora trabalhar e os problemas cotidianos que todos temos. Ainda tem outras coisas que preciso fazer e nem comecei a mexer por saber que não tem como encaixar mais em um dia de vinte e quatro horas.

JORGINHO - O Coletive está completando cinco anos hoje, o que representa para você?

FABIO DA SILVA BARBOSA - Porra... Parece que foi outro dia que a criança tava nascendo. Acho que um coletivo de artistas ativos e producentes nos tempos medíocres em que vivemos, é querer resistir a burrice, sobreviver a este tsunami de ignorância e alienação que tenta nos soterrar a cada dia. Este tipo de reunião que funciona de forma tão produtiva, é um ato de coragem. Ser revolucionário é ser louco em tempos caretas.

JORGINHO - Defina para o leitor os Malditos Teclados Bailarinos.

FABIO DA SILVA BARBOSA - O MTB é aquela navalha que corta a alma e passados alguns dias pode ter se transformado no bisturi que irá tirar alguns bifes de seu fígado. É a prisão de ventre que incha a barriga e aquilo que escorre da doença venérea.

 Maldito Quizz, em no máximo três palavras responda:

JORGINHO – Política

FABIO DA SILVA BARBOSA - Uma ideia distorcida

JORGINHO - Polícia

FABIO DA SILVA BARBOSA - Mais uma engrenagem

JORGINHO - Reboco Caído

FABIO DA SILVA BARBOSA - Zine resistente experimental

JORGINHO - Família Bolsonaro

FABIO DA SILVA BARBOSA - Vômito

JORGINHO – Fé

FABIO DA SILVA BARBOSA - É de beber?

JORGINHO – Arte

FABIO DA SILVA BARBOSA - Trazer outra dimensão

JORGINHO – Punk

FABIO DA SILVA BARBOSA - Questionamento afrontoso desconfortável

JORGINHO – Futuro

FABIO DA SILVA BARBOSA - Passa no sovaco?

JORGINHO: Deixe uma mensagem para o leitor do blog do Coletive:

FABIO DA SILVA BARBOSA - Um grande salve aí pra toda galera do Coletive. Nunca deixem de acreditar e produzir pensamentos, questionamentos, desconfortos... Vocês podem muito mais que se adequar a uma rotina escrava e alienante. Produzam destruidores de fronteiras. Esse nome "arte", por vezes é muito elitizado. Então produzamos ideias, reflexões, gozos...

Cuidado com as armadilhas, heim... Os parasitas adoram espalhar estas merdas pelo caminho.

E para os leitores do Coletive fica a dica: Continua acompanhando aí, rapá, que o negócio é cabuloso.

A DOR DOS QUE SENTEM - Diário dos 

abandonados pela felicidade 



Autor: Fabio da Silva Barbosa 

Formato: digital 

Páginas: 59

Arte da Capa: Fabio da Silva Barbosa 

Ano: 2023

Para ler a obra na íntegra: 

https://pt.slideshare.net/EditoraMerdanaMo/a-dor-dos-que-sentem-dirio-dos-abandonados-pela-felicidade-pdf


 "Nem tinha concebido “A Dor dos que Sentem – Diário dos abandonados pela felicidade”. Eu apenas estava tapando buracos, buscando algum sentido para as coisas, entender minha colcha de retalhos. Encontrei nessa atividade que exerço há tanto tempo, uma forma de equilíbrio. Daí começo a registrar tudo."
- FABIO DA SILVA BARBOSA

Jorginho

Jorginho é Pedagogo, Filósofo, ilustrador com trabalhos publicados no Brasil e exterior, é agitador cultural, um dos membros fundadores do ColetiveArts, editor do site Coletive em Movimento, produtor do podcast Coletive Som - A voz da arte, já foi curador de exposições físicas e virtuais, organizou eventos geeks/nerds, é apaixonado por quadrinhos, literatura, rock n' rol e cinema. É ativista pela Doação de Órgãos e luta contra a Alienação Parental.

CINCO ANOS DE COLETIVEARTS,
CONTANDO HISTÓRIAS, CRIANDO MUNDOS
COLA NA GENTE, TEMOS MUITA
ESTRADA PELA FRENTE AINDA!

Postar um comentário

1 Comentários