DOSSIÊ KOBIELSKI

 FIDÊNCIO: O GAÚCHO DE 

JULIO SHIMAMOTO

Falar de Julio Shimamoto é falar de um dos maiores artistas que esse país já produziu. “Shima”, como é chamado por uma legião fãs e admiradores, é aquele mestre que não cansamos de admirar. E não faltam motivos para isso. Dono de um traço inconfundível, Shima produziu quase todos os gêneros de histórias em quadrinhos ao longo de seus mais de 60 anos de carreira. Terror, super-heróis, infantil, erótico, samurais... É possível afirmar que ele tenha escrito e desenhado a primeira HQ de Drácula totalmente brasileira e o primeiro mangá no ocidente. Sempre experimentando, Shima utiliza as mais variadas técnicas do desenho. Desde a raspagem em cerâmica, tinta de parede, fuligem no plástico, carvão, vidro maçarico até o ferro de solda sobre papel de fax. Shima nunca para de criar.

Apaixonado por histórias em quadrinhos desde criança, iniciou sua carreira nesse ramo em 1959, na editora Continental/Outubro, sob incentivo dos donos Jayme Cortez e Miguel Penteado, que, além de editores, eram artistas virtuosos e respeitados. Ali teve oportunidade de produzir diversas histórias de terror e desenhou a primeira HQ do Capitão 7 – para muitos, o primeiro super-herói nacional.

Em 1961, Shimamoto integrou a ADESP (Associação dos Desenhistas de São Paulo) e foi um dos responsáveis pelo movimento de nacionalização dos quadrinhos, com liderança de Maurício de Souza. No ano seguinte embarca para Porto Alegre, onde passa a fazer parte da CETPA (Cooperativa Editora e de Trabalho de Porto Alegre), uma editora gaúcha fundada pelo governador Leonel Brizola com o objetivo produzir gibis com protagonistas genuinamente nacionais – em contraponto aos personagens estrangeiros que dominavam as HQs vendidas nas bancas de revistas do país, e também as distribuir nos jornais pelo Brasil afora.

Depois dessa passagem pelo Sul, Shimamoto retorna a São Paulo, onde é convidado por Maurício de Souza a encabeçar um novo projeto. Nas suas palavras: “A Folha (de São Paulo) pediu para incluirmos no tabloide uma HQ  juvenil tipo caubói. Maurício sugeriu-me um herói cangaceiro. Decidi-me por um aventureiro gaúcho, pois eu tinha acumulado um vasto arquivo de referências gauchescas por ter desenhado para a CETPA o álbum da "História do Rio Grande do Sul";, escrito por Dr.  João Cândido Maia Neto. Assim nasceu Fidêncio "O Gaúcho", cujas aventuras passam-se nos pampas do Rio Grande em meados do século XIX, logo após o fim da guerra com o Paraguai.”

Publicadas entre 1963/1965, no suplemento infantil “Folhinha de São Paulo”, as tiras de O Gaúcho só voltariam a ser republicadas em 1985 pela Editora Noblet, na revista de faroeste Carabina Slim, e posteriormente nos anos de 2007 e 2008, onde saíram em quatro volumes sob os cuidados da Júpiter II, do editor José Salles.

Em dezembro de 2022, o CAQ – Coletivo Alvoradense de Quadrinhos, trouxe pela primeira vez, em uma única edição, todas as tiras reunidas desse personagem icônico e tão importante para as histórias em quadrinhos nacionais. Em O Gaúcho podemos encontrar não somente boas histórias de aventura, mas também fatos que ocorreram na segunda metade do século XIX no Brasil, assim como um retrato da paisagem de campos a perder de vista e a criação de gado que forjaram o modo de ser gaúcho – um ser mítico, que pode despertar ódios e paixões, típico de homens das guerras.

Julio Shimamoto 




Paulo Kobielski

Paulo Kobielski é professor de História com especialização em Filosofia e Sociologia pela UFRGS. Trabalha com fanzines  e quadrinhos na educação
Paulo é uma espécie superior de gaúcho, pois é gremista!
Paulo escreve a coluna Dossiê Kobielski, para ler, clique Aqui.
Paulo conquistou  o Troféu Ângelo Agostini de melhor fanzine no ano de 2020, confira matéria Aqui.
Paulo é um dos apresentadores do podcast cultural Coletive Som, A voz da Arte. Para escutar os episódios clique Aqui.
Também confiram o episódio n# 02, apresentado por Patrícia Maciel e Luciano Xaba, entrevistando o Paulo Kobielski, clicando Aqui.


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