NAVALHAS AO VENTO

 INTOLERÂNCIA RELIGIOSA, 

CRIANÇAS NA UMBANDA

Religião é uma escolha muito pessoal, ninguém deveria interferir, afinal não somos nós que escolhemos nossa religião, é a religião que nos escolhe.

Eu tive muita sorte, nasci numa família laica, cada membro da minha família seguia a sua crença e convivíamos na base do respeito uns pelos outros. Quando criança eu me divertia acompanhando cada um e, ao mesmo tempo que me divertia, eu estava tendo a oportunidade de conhecer vários caminho. E foi aos 14 anos que, ao entrar numa sessão de ciganos do oriente eu encontrei a estrada que precisava seguir, a estrada chamada Umbanda.

Ontem eu tive que ouvir um comentário, afinal não sou surda, sobre mães que levam seus filhos ao “batuque” e lembrei de um caso que aconteceu em maio de 2022 sobre a mãe de Ribeirão das Neves/ BH que perdeu a guarda da filha de 14 anos por tê-la levado a um ritual umbandista sob a alegação de que a mãe teria violado o direito da filha à liberdade religiosa.

No site mundonegro.inf.br encontramos versões que não conversam entre si. De acordo com os advogados que cuidam do processo, o Juiz se baseia num estudo que possui citações referentes ao desejo da adolescente de 14 anos em voltar a frequentar a igreja evangélica, mas isso é apenas a interpretação de uma conselheira tutelar, uma vez que nem a mãe nem a menina foram ouvidas. O advogado Hédio Silva Junior rebate: “Não tenho dúvida nenhuma de que nenhum muçulmano ou nenhum judeu perdeu a guarda [de seu filho] por conta da circuncisão e nenhum pai católico perdeu a guarda porque levou o filho à missa e viram o padre utilizando bebida alcoólica. Então, essa clivagem é uma clivagem direcionada às religiões afro-brasileiras”.

Tanto o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Código Civil e a Constituição Federal asseguram aos pais o direito de definir a educação religiosa dos filhos menores mas parece que no nosso país isso só se aplica a outras religiões. Um evangélico sempre será ovacionado por conduzir seus filhos no caminho das escrituras, mas um umbandista é criminalizado por ensinar os fundamentos africanos a seus filhos. Será que ver uma criança de 5 anos com uma bíblia na mão tem mais valor do que ver a mesma criança usando fios de contas (guias)? Que tal um pouco de respeito? Aleluia para quem é de aleluia, amém para quem é de amém, axé para quem é do axé e um grande abraço para quem é ateu.

Como criminalizar uma mãe que leva crianças nas sessões se outras podem levar os filhos na missa ou ao culto? Será que religião tem dois pesos e duas medidas? Vendo por este ângulo, posso criminalizar minha mãe por ter me batizado na católica quando eu tinha menos de 1 mês de vida? Afinal eu não havia demonstrado interesse nem dito que queria ser batizada ou que seguiria o catolicismo...

Enfim... infelizmente religiões de matriz africana são consideradas inferiores, sim... afinal são heranças de pretos e pobres... Para muitos apenas isso já é justificável...


Isab-El Cristina Soares
Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras.

Escute o episódio do podcast Coletive Som gravado com Isab-El , clicando Aqui.

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