NAVALHAS AO VENTO

 

CARNAVAL NÃO É SERVIÇO 

MILITAR OBRIGATÓRIO

Não sei onde o mundo dobrou a curva e a humanidade se perdeu. Parece que contrariar os outros faz com que as pessoas esqueçam de suas próprias vidas medíocres... A bola da vez é o Carnaval, como acontece todo ano as vésperas da festa.

“Aviso para aqueles que odeiam carnaval: Carnaval não é serviço militar obrigatório, vai quem quer.” Essa mensagem estava hoje no Facebook e eu gostei muito, bem direta e certeira. Oras, se não gosta, fica em casa, pega um livro, vai tentar assimilar alguma cultura para parar de dizer bobagens. Pessoas egoístas dizendo que Carnaval poderia desaparecer, que não é necessário, como se apenas o que elas gostam é o que importa. Carnaval é uma festa popular pagã e faz parte da nossa cultura, mas como é festa de pobre e negro foi marginalizada. Isso me cheira a racismo e preconceito. Não vi ninguém reclamar de outras festas populares como a Semana Farroupilha, Cavalhada, Oktoberfest, Bumba meu boi, entre outras. Nem mesmo a Festa do Frevo, Carnaval de rua das cidades de Olinda e Recife são tão apedrejadas.

A origem do Carnaval vem das festividades realizadas pelos romanos católicos nos dias que antecediam a Quaresma, antes da Páscoa. É daí que surge a denominação Carnaval, originária do Latim Carnis Levare, que significa “afastar-se da carne”, porque na Semana Santa existe a abstinência da carne. No Brasil o Carnaval tem suas raízes históricas no período colonial. Entrudo (do Latim intoitum), que significa entrada, ou seja, a entrada na Quaresma, à semelhança do Carnaval, era um antigo folguedo luso-brasileiro.

Sei de muito homem, defensor da família, criticando as fantasias “quase peladas” e nessa época é “convocado” pelo trabalho para viajar, ou a mãe doente está chamando, ou até pescaria com amigos surge como desculpa, mas na verdade vai “se acabar” de tanto sambar na avenida em outra cidade, sempre agarrado em alguma daquelas “despudoradas” quase peladas. Também sei de mulheres que criticam as “mulheres de bunda de fora” porque morrem de inveja dos corpos perfeitos Outras, também criticando o nu na festa pagã, abaixam as calcinhas para qualquer um e pregam “moral sem calcinhas”. Também já ouvi que é “uma falta de vergonha” e que seus filhos ou netos não podem assistir TV em paz. Porra meu, os desfiles são transmitidos a noite e isso não é hora de criança assistir TV. Vai jogar um jogo de tabuleiro com teu filho, vai ler uma historinha para ele, vai ensiná-lo boas maneiras, sei lá.

Quem não gosta de Carnaval sempre diz que na avenida tem putaria, que todo mundo transa com todo mundo. Eu me pergunto como é que alguém pode desfilar transando? Eu mesma já saí duas vezes na avenida e não transei com ninguém... a quem devo reclamar?

Além disso ainda tem a reclamação da presença das religiões afro nos temas dos samba-enredos e fantasias. Vejo muitos falarem que Deus puniu com a pandemia porque no Carnaval um samba-enredo falava tal coisa, ou que Jesus puniu com uma catástrofe porque tinha um Exú na avenida... Vocês acham mesmo que Deus ou Jesus faria isso? Então porque ele não te pune quando tu rouba, mente ou engana? Odeio esse falso pudor, essa falsa moral, essa mania de tentar passar um puritanismo que não existe. Odeio essa mania de que só o que eu gosto é que deveria existir. Eu não curto tradicionalismo e nem por isso eu fico criticando nas redes sociais, afinal tem quem gosta e todos merecem respeito. Nem fico dizendo que tem que terminar só porque eu não gosto (é muita presunção do alecrim dourado achar que só porque não gosta tem que ser extinto) Não vou a CTG, mas se eu for convidada, irei sem ficar criticando ou dizendo que não gosto. Para falar se gosto ou não eu tenho que conhecer e só se pode conhecer fazendo parte pelo menos uma vez.

Lembro que na pandemia os estádios de futebol, os autódromos, os restaurantes, os festivais de música, os barzinhos, cinemas, praias... estavam lotados... mas a culpa do vírus ter se espalhado era o Carnaval... não se importavam nem da falta de vacinas... Culpar o Carnaval era mais divertido...

É difícil lidar com pessoas tóxicas, cínicas, mentirosas, invasivas, racistas e preconceituosas. Se cada um cuidasse da sua vida o mundo seria muito melhor.

Só para não esquecer, vou te lembrar mais uma vez: “Carnaval não é serviço militar  obrigatório, vai quem quer, assiste quem quer” e, por favor, deixe em paz quem gosta.



Isab-El Cristina Soares
Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras.

Escute o episódio do podcast Coletive Som gravado com Isab-El , clicando Aqui.

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