TRANSVIADA, o olhar que desafia

 Politiza já! 

Maio começou diferente, triste, cheirando a lama e desespero. 

Assistimos nos últimos dias o desespero do povo diante das inundações no estado do Rio Grande do Sul. Na última semana foram afetados 85% dos municípios gaúchos.

Foram cidades que foram pegas de surpresa pela velocidade das águas, Familias que ficaram ilhadas em telhados, outras que não tiveram essa sorte.

Poderia passar horas falando sobre o sentimento de tristeza, de impotência que me acompanha nessa última semana, mas diante das falas, farpas e muita falta de consciência, acho que precisamos refletir um pouco.

Nas páginas sociais, vários vídeos pedindo,

Não politizem a tragédia!

Mas e aí, será que isso não tem  de ser politizado? 

Será que a política agora só atrapalharia? 

O que devemos ou não devemos politizar?

Bem, diante de uma tragédia nessa dimensão, não podemos jamais pensar em politizar o auxílio, esse é fato. Nem devemos normalizar essa enxurrada de fake news que mostra mantimentos e doações indo pro lixo, impedidos de chegar pelo partido A ou B. Esse amontoado de notícias falsas, faz com que as pessoas se revoltem, atrapalhando até mesmo a chegada de socorro nas áreas afetadas.

Independente de quem ganhou a eleição no sul, de quem governa o estado, dos teus princípios políticos ou religiosos, são famílias, crianças que ficaram órfãos, idosos muitas vezes doentes e sozinhos, que aguardam qualquer tipo de ajuda. Isso é maior que qualquer ideal, isso é consciência, humanidade. 

E se isso não te comove, desculpa, mas tu já está morto por dentro.

Agora, dizer que todo esse acontecimento é um acidente climático e que nada tem a ver com política, aí já é muita ingenuidade!

É fato que esse filme de terror que se instaurou no nosso estado, é efeito das mudanças climáticas que ocorrem no planeta. São geleiras na Antártida derretendo, aquecimento da água em nossos oceanos, secas de um lado, inundações de outro. E tudo isso, já havia sido previsto, já havia sido alertado.

São anos de consumo desenfreado de recursos naturais, de emissão de gás carbônico, de desmatamento e produção de lixo. Vivemos dentro de uma panela de pressão prestes a explodir.

Sendo assim, além de medidas pra que a gente consiga minimizar esse efeito, é necessário que se pense em planos de prevenção de acidentes. Mas de quem é essa responsabilidade?

O projeto Brasil 2040, de 2015, tinha como objetivo o estudo das mudanças climáticas e medidas de “adaptação  climática “. Esse projeto, apresentou um quadro preocupante de ondas de calor extremo, secas no sudeste, aumento das chuvas no sul. Tudo, isso que estamos vivendo, foi previsto, lido pelo governo federal e engavetado. 

Logo, essa discussão precisa ser politizada sim!

Desde o governo de Dilma Rousseff, que esse estudo tem sido ignorado. Depois disso, veio Temer, Bolsonaro e a coisa foi só piorando. Ainda com tudo que tem acontecido, é comum lermos negacionista opinando sobre “ sempre terem existido coisas assim”. 

Além disso, as políticas de flexibilização das leis ambientais têm sido cada vez mais comuns. Do aumento de agrotóxicos, ao desmatamento de áreas de proteção ambiental, basta que tu pesquise um pouquinho pra descobrir o tamanho do desdém que é tratada a questão ambiental no Brasil.

No último mês de Abril,o governador Eduardo Leite, flexibilizou as leis para construção de barragens em Apps - áreas de preservação permanente - ou seja, área protegida, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, proteção o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. 

O projeto com justificativa de captação de água para as lavouras, obteve 35 votos favoráveis e apenas 13 contrários na assembleia legislativa. Aí te pergunto, esse povo não compreende do que se trata Ou eles não ligam?

Nesta quarta-feira, 8 de maio, enquanto o país estava em comoção com o Rio grande do Sul, a Comissão de Constituição e Justiça  pautou a votação de um projeto de lei que permite a redução de reservas florestais em cidades da Amazônia. O PL 3.334/2023 permite a redução de 65% para 50%, a parte do território dos Estados ocupados por áreas protegidas.

É  destruição de biomas para plantio e criação de gado, falta de saneamento adequado, construções em áreas protegidas, a gente tá presenciando até aumento da faixa de areia na praia, tem noção? Estamos tentando limitar o Mar! 

E por quê? Porque permitiram que enchessem a volta da orla de prédios.

Estamos olhando pra direções opostas, enquanto uns gritam a necessidade de mudança, outros se perdem na ganância.

Deu! Não há mais tempo, é urgente que haja mudanças.

Precisamos politizar sim! Precisamos cobrar, fazer valer nosso voto, mostrar que não é mi mi mi e que não vai passar. 

Não tem abraço de deputado, ceninha feita em cozinha comunitária ou em abrigo, que pague esses anos todos proporcionando as condições adequadas para tragédias como essa, muito menos as vidas perdidas por ela.

 É hora de acordar, de repensar, criar moradias populares fora das áreas de risco, começar rever nossa relação com a natureza e entender que que a natureza não se revolta, ela tá pedindo socorro.

"Preserve os nossos rios, nosso verde nosso ar
E também tudo aquilo que tiver que preservar
Preserve o que é mato nesse mundo grandioso
Pois muito em breve eu acho, poderá ser valioso
Conserve tudo, bicho, todo reino animal
Só não conserve o lixo, pátria multinacional"

Preserve - Ultraman


D'Anjo

D'Anjo é gaúcha, educadora, controversa e gosta de brincar entre rabiscos e palavras.


 FABIO DA SILVA BARBOSA


FABIO DA SILVA BARBOSA

Fabio da Silva Barbosa um dos maiores escritores do underground brasileiro e membro do ColetiveArts mora em Porto Alegre/RS e como muitos está sofrendo com a enchente que devastou o estado gaúcho. Então estamos pedindo humildemente qualquer contribuição para que  ajudar o mesmo neste momento tão difícil.

Contribuições para o Pix: elkhourisousa@gmail.com

 * Fabio não tem pix, portanto foi necessário o pix do seu amigo Diego El Khouri Sousa que vai repassando para a conta do Fabio as contribuições que forem chegando.


"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

CINCO ANOS DE COLETIVEARTS,
CONTANDO HISTÓRIAS, CRIANDO MUNDOS!
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