NAVALHAS AO VENTO

 POR QUE “COMPLEXAMENTE SIMPLES”? A ANTÍTESE QUE DEFINE A ZULAIR

Sábado, dia 29 de junho, o ColetiveArts entregará o “1° Troféu Destaque Cultural ColetiveArts Zulair Maria de Souza – Um ser complexamente simples” e muitas pessoas têm questionado o que significa “complexamente simples”, pois, para ser sincera, não faz sentido...só para quem conheceu a Zulair que a expressão faz muito sentido...

Minha amiga não conseguia chegar despercebida em nenhum lugar, ela chamava a atenção mesmo em completo silêncio. Dona de um sorriso “de orelha a orelha” (e não cansava de sorrir) que iluminava seu rosto emoldurado pelo cabelo crespo vermelho, usava rímel azul e batom combinando com o cabelo. Só por isso já conquistava a todos. Mas o mais importante era o coração desta moça: o coração dela era imenso, todos cabiam lá dentro. Estava sempre pronta para ajudar todos que estivessem sob suas asas.

Quando a conheci eu percebi, na hora, que não seríamos amigas, ela passou a ser a irmã que a vida me deu logo após algumas palavras. Eu era tímida (verdade, já fui tímida, juro) e ela me ajudou a vencer a timidez e o medo de falar em público, sempre me dando apoio, transmitiu confiança para vencer meus medos.

No meu processo de separação e divórcio, quando saí de casa sem nada, só com os livros e as roupas, ela me deu uma caixinha de música para que eu ouvisse quando estivesse triste. Sempre que eu estava triste ela chegava no apartamento, dando risada e perguntando se eu precisava de algo. E permaneceu me dando apoio até a audiência, onde foi minha testemunha. Meu ex marido, inclusive, tentou intimidá-la, mas, como uma boa irmã, se manteve ao meu lado, segurando minha mão, sem demonstrar medo pela ameaça. São coisas que a gente não esquece e não tem como “pagar”. Se hoje eu tenho a minha vida, com a segurança que eu tenho, sem medo da vida, agradeço as palavras e conselhos da minha “irmã mais velha”.

Quando eu me apaixonei pela pessoa errada, foi ela que me deu o ombro para chorar, sem questionar, sem perguntar, sem julgar, sem criticar. Quando eu precisava era só ir até a Vila Natal, eu sabia que lá teria um copo de café e dois ombros a minha espera. Foram muitos conselhos, com carinho e muito cuidado com as palavras.

Um dia ela me acusou de deixa-la sozinha na Ulbra, ela cursava Letras e queria que eu crescesse também. E foi assim que eu criei coragem para enfrentar a universidade.

Ela parecia forte, inabalável, segura... E dentro daquela “casca” tinha uma pessoa delicada e sensível, mas sempre pensando nos outros antes de si.

Quando me pediu para eu fazer a “orelha” do livro “O fim de uma lenda”, depois de tanto pensar, eu escrevi: “A irreverente Zulair Maria de Souza, patronesse da XIV Feira do Livro de Gravataí – 1999 é assim: complexamente simples.” e ela adorou a antítese. Nos seus últimos dias ela ainda falou que eu a defini como “complexamente simples”.

Um dia eu comentei com o Jorginho que eu a chamava assim. Por isso quando estávamos idealizando o prêmio o Jorge teve a ideia de manter a antítese viva ao lado do nome da Zulair.

Essa é a história do “complexamente simples”. Um ser complexo e ao mesmo

tempo uma pessoa simples, daquelas que tiram de si para ajudar quem quer que seja. Muitas vezes incompreendida, outras tantas ignorada. Muitas pessoas maldosas tentaram apaga-la, mas ela sempre vencia com um sorriso no rosto.

Uma pessoa que não morrerá no coração de quem a conheceu.

Isab-El Cristina Soares


Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras, é Diretora Cultural do ColetiveArts.

Escute o episódio do podcast Coletive Som gravado com Isab-El , clicando Aqui.




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2 Comentários

  1. Poxa, que história e homenagem linda e emocionante!!! Só quem a conheceu, sabe...

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    1. Exatamente. Quem a conheceu sabe q ela era Exatamente assim.

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