Tradutor
Uma vez abri um livro e soube,
Era poesia muito bem estruturada,
Bem desenhada e arquitetada,
Era poesia em toda beleza e forma
Que diante dos meus olhos coube.
Quisera eu saber seu nome
E nas entrelinhas navegar,
Saber da origem do pronome
E desde a partida o adorar.
Num instante, mesmo em beleza,
O vazio instigou a loucura,
A saber de ciência em certeza
Do entendimento que se faltava
Em mesura, pus-me louca em sala aberta,
A tentar na letra a descoberta.
A parametrizar paradigmas intensos,
A encaixar na intensão dos escritos
Explicação da língua de partida,
Sem sua pureza desmesurada,
Sem a umidade que dela provém,
Sem o tempo que ela tem,
Soltando os pedaços ao vento
E deixando rastros ao relento.
Detalhando na prática razões
Acima da vistosa alienação,
A empurrar uma investigação
Ladeira abaixo, sem suficiência,
causando problemas de transferência,
Impetrando o possível da equivalência,
Errando incansavelmente por decisões.
Uma outra língua que me amava
Naqueles profundos espaços vazios,
Uma outra língua que se expressava,
Como a boca a tocar nos verbos,
Uma outra língua que me buscava
Para manifestar seus sentimentos.
Para traduzir sua dor, seus gritos,
Alertar dos horrores sofridos,
Redefinir a miséria humana,
Secar o “verbo intransitivo” de quem ama,
Ter ofício, dinheiro, status e fama.
Ser sinônimo a transcrever e trasladar,
A manifestar e exprimir sonhos doutrem,
A reproduzir e interpretar e ir além,
Um pouco do mesmo a se ter,
A me pausar noutro tempo de ser,
Sendo distinto enquanto diferente,
Sendo uma cópia infiel ausente.
Em um segundo e não mais temos
O mesmo do mesmo doutros tempos,
Não era idêntico ao original,
Não era semelhante nem o ideal,
Mas trazia consigo singularidade,
Como sinal de uma grande amizade,
Como provém o nascer da alvorada
nos pontos da Terra a ser formada.
Será que todos os humanos em defeito
Olham para o céu do mesmo jeito?
Será que aquele livro é tão perfeito?
Ou quiçá no mundo haja preconceito?
Ah... E hoje urge como um urso faminto
Na brinquedoteca do crítico
A dizer o que se teria dito
No pulso firme e finito
Do 번역가
Andréia Kmita |
Andréia Kmita é natural de Campo Mourão - Paraná (25/04/1977), região Sul do Brasil, migrou com a família de ascendência italiana e ucraniana para o Norte do país. Docente na Educação Básica (Ensino Médio) na SEDUC/MT desde 1992. Graduada em "Letras"(1999/FADAF). Mestre em Literatura e Crítica Literária (2018/PUCSP). Pós-graduada em “Psicologia e Coach” (2020/Faculdade Metropolitana de Ribeirão Preto - SP). Em 2021 cursou “Terapia Cognitivo-Comportamental: Princípios Teóricos e Epistemológicos” e “Introdução a Psicanálise Freudiana” no Portal de Psicologia (in)Formação. Fez parte de grupos de pesquisa na PUC-SP sobre poesia e crítica literária em 2015 e 2016. Integrou o grupo de pesquisa da Profa. Dra. Telê Ancona Lopez USP (FFLCH) 2015/2016/2017 sobre o “Trabalho do Crítico”. Atuou como Coordenadora Pedagógica na escola especializada em Educação no Sistema Prisional de Mato Grosso de 2019 a 2020, onde escreveu documentos de suma importância para o Estado de Mato Grosso no segmento educacional PPL (Privados de Liberdade). Em 2021, iniciou o Doutoramento na FLUC (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra) em Línguas Modernas: Culturas, Literatura e Tradução. É Poetisa, escreve contos e roteiros de curtas, escritora de projetos políticos educacionais e culturais.
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