NAVALHAS AO VENTO

 QUAL A GRAÇA DOS FOGOS DE ARTIFÍCIO COM ESTAMPIDO?

No nosso país existem leis muito importantes, muito significativas... mas não cumpridas nem cobradas pelas autoridades. Cito como exemplo a Lei de Libras, LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002, onde consta que “Estabelece que instituições públicas e concessionárias de serviços públicos devem garantir atendimento adequado aos surdos.” Para que isso possa ser uma realidade a longo prazo, deveríamos ter Libras desde o ensino fundamental, mas qual escola oferece? Até para conseguir um curso é difícil e caro. Uma lei que em 2027 completará ¼ de século ficará no papel por muitos e muitos anos.

Indo por este caminho tenho outra queixa, esta municipal. De acordo com o www.google.com “Em 10 de maio de 2023. Foi aprovada e promulgada a lei nº 4631, que proíbe a queima e soltura de fogos de artifício de estampido e de qualquer artefato pirotécnico de efeito sonoro ruidoso no município de Gravataí.” Ambas as leis são muito bonitas no papel, mas não funcionam pela falta de interesse político.

Hoje o meu alvo será a Lei Municipal, que, Graças a Deus já deu um grande passo, mas ainda muito pequeno. No ano passado, na virada do ano, alguns casos foram registrados com multa. Um morador do bairro Vila Lucchesi foi autuado com multa de R$890,77, de acordo com O Seguinte. Mas isso só foi possível porque ele mesmo postou vídeo nas redes sociais (além de infrator é burro). Outras denúncias foram feitas a Guarda Municipal tanto no Natal como no Ano Novo, mas “não foi possível registrar flagrantes ou os denunciantes não quiseram ser identificados”, de acordo com O Seguinte do dia 23 de dezembro de 2024.

Na RS 118 existe uma fábrica destes artefatos e durante a semana do Natal e da virada deste ano, podíamos ver a fila para comprar, que diariamente era enorme. De que adianta uma lei que proíbe a soltura de fogos se permitem a fabricação e venda do produto? Outra coisa que acho estranho é como fazer a denúncia: muito difícil ficar filmando todos os vizinhos na expectativa que “aquele” vizinho solte um rojão “naquele” momento. Outra situação embaraçadora é ter que ir juntamente com a guarda na casa do infrator. A equipe da guarda vai embora e teremos que conviver com aquele vizinho com raiva. No ano passado eu liguei e denunciei, a guarda foi lá, eu fui junto, o cara disse que não foi ele e ficou por isso mesmo.

A soltura de fogos de artifício é algo que não consigo entender, talvez por eu estar no Transtorno do Espectro Autista, nível 1 de suporte, eu sinta com maior intensidade do que tu que estás lendo este texto, pois temos hipersensibilidade sensorial aos estímulos do ambiente diferente. Pode ser que para ti seja bonito, seja interessante, mas para nós é dolorido, estressante, causador de ansiedade e crises de pânico. Eu queria que cada um que defende a soltura de fogos visse uma criança autista em crise por causa do barulho. É algo inimaginável... triste... O adulto muitas vezes consegue se controlar, mas para a criança é muito mais difícil. A vontade é de sair correndo, é uma dor que não sabemos dizer onde, mas é muito dolorida, eu defino como uma dor física em cada célula do corpo. Além dos autistas, os animais ficam desorientados, podem morrer de susto, como a cadela Nina em 2018 (lembram dela?). Idosos e doentes também são vítimas dessa mania idiota e brega de comemorar algo fazendo barulho.

Enquanto não for proibida a fabricação e venda destes produtos não adianta a lei. O papel serve apenas para limpar a bunda. Eu, de minha parte fico no meu canto, rezando para que o rojão estoure na cara de quem está soltando, cause uma queimadura legal para que nunca mais esqueça, ou arranque sua mão, como já houve alguns casos no passado. Não tenho vergonha de dizer que fico feliz quando acontece algum acidente com quem está desrespeitando os outros, afinal a escolha de se expor ao risco é toda dele. Além dele estar colocando várias outras vidas em perigo.

Gostaria de ver alguém enfiar o rojão no fiofó e acender, seria muito interessante de ver, garanto que eu ficaria muito feliz e bateria muitas palmas.

Isab-El Cristina

Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras, é Diretora Cultural do ColetiveArts.

Escute o episódio do podcast Coletive Som gravado com Isab-El , clicando Aqui.

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