NAVALHAS AO VENTO

 LIBE...RDADE

(Libe – amor em iídiche)

Uma simples viagem de carro. Um acidente, No rosto uma pequena cicatriz, nada de horrendo, mas para Lara era a mudança total no seu comportamento.

Trocara propositalmente a luz do dia pela luz artificial. A noite, protegida pela escuridão, abria as janelas da casa e admirava o breu. A casa, uma cancela, ninguém se aproximava e sua única visita era a lua, que iluminava o tálamo. Vivia numa redoma. O medo de sofrer a tornara solitária e arrogante. Durante o dia trabalhava trancafiada em frente ao computador. Nas horas de lazer seus companheiros eram os livros: romances, poesias, novelas, crônicas e até o Talmude. Acreditava em Deus, mas tinha momentos de ceticismo.

Dias, meses, anos anulada em seu mundo, não via a vida que passava correndo frente a sua porta. A ampulheta não para de cuspir areia e o deserto tomara conta dos sentimentos de Lara. O mistério pairava no sonho de ser feliz aliado ao medo de sofrer novamente.

Certa noite, sufocada, abafada, sem importar-se com o frio nem com a fina chuva, saiu a perambular pelo jardim. Algo havia incitado, de leve, seu desejo de liberdade... quando percebeu, correu para dentro de casa e chorou. No dia seguinte não trabalhou, não conseguia concentrar- se em nada, algo a fazia sentir-se morta. A casa era um túmulo, precisava voltar à vida e a vida estava lá fora.

Naquela noite, sem ao menos ter iniciado a leitura, abandonou o livro. Abriu toda a casa e saiu para o jardim. Atravessou os limites do terreno e ganhou a calçada. Há muito não sentia-se assim, misto de alegria, liberdade... e medo. Vagou pela noite, acompanhada pela lua cheia, com olhar brilhante como as estrelas. Os ruídos da noite, como uma doce sinfonia, chegavam aos seus ouvidos. Despiu-se do medo, das roupas... e dançou a música que penetrava em suas entranhas.

As primeiras luzes do dia ainda a encontraram na rua. Assustada, pensou em correr para dentro de casa quando alguém a chamou. Por segundos permaneceu imóvel. Mas a voz calma, o olhar doce e o rosto angelical lhe transmitiram paz e segurança. Seus passos foram guiados pelo anjo e por muito tempo permaneceram ilhados aos pés da cachoeira.  Lara percebeu, entre apavorada e radiante, que a vida estava ali. Que a felicidade era o sol que aquece e ofusca, ilumina e cega. Que riscos existem, que viver é um jogo onde só quem arrisca poderá vencer...

Sentiu que pequenas e delicadas asas nasciam em suas costas e sorriu. Deixou-se ser guiada por seu anjo no prazer infinito de voar de encontro ao sol.


Isab-El Cristina


Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras, é Diretora Cultural do ColetiveArts.

Escute o episódio do podcast Coletive Som gravado com Isab-El , clicando Aqui.

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4 Comentários

  1. MARLI APARECIDA THOMASSIM MEDEIROS27 de janeiro de 2025 às 14:33

    Muito lindo e triste ao mesmo tempo! A vida é sempre um risco. Mas risco maior é não viver. 😍

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    1. Oi, sou a Isab. Obrigada pelo retorno. Esse texto faz parte de uma coleção de histórias com seres fantásticos. Bjuuuuu

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  2. Respostas
    1. Oi, sou a Isab. Muitomuitomuito obrigada. Bju

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