

JORGINHO: Quem é a Camila?
CAMILA FENNER: Meu nome é Camila Knebel Fenner, sou professora de língua portuguesa e literatura na E.E.E.M Maria Teresa Vilanova Castilhos, em Osório/RS. Sou graduada em Letras Português e Espanhol, pela Universidade Federal da Fronteira Sul, e Mestra em Letras, pela Universidade Federal de Pelotas. Desde a graduação, dedico-me mais à literatura, no entanto, estudando mais as literaturas africanas de língua portuguesa. Minha dissertação, por exemplo, foi sobre o livro Orgia dos loucos, do moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa. Tive mais contato com as histórias em quadrinhos depois de começar a atuar como professora da rede estadual do Rio Grande do Sul.

JORGINHO: Qual a importância das hqs em sua vida e quais as suas preferidas?
CAMILA FENNER: Durante minha infância e adolescência, não tive muito contato com quadrinhos além dos gibis da Turma da Mônica, o que é uma pena. Minha família não tinha uma condição financeira muito boa, mas lembro de uma vez em que fui em uma feira do livro municipal, quando eu ainda morava em Estrela/RS, e ganhei 10 reais para comprar algum livro, se eu quisesse, e lanchar. Chegando lá, vi uma sessão enorme só de mangás e fiquei encantada. Comprei um mangá que achei bonito pela capa, mas sem saber nada sobre a história, achando que era uma história em quadrinhos como as da Turma da Mônica. Quando fui tentar ler em casa, eu não entendi NADA da história, não fazia sentido a sequência dos fatos e eu também não estava acostumada com a disposição dos balões proposta ali, eu não sabia que aquilo era um mangá, muito menos que mangá se lê em uma ordem diferente e tudo mais. Fiquei bastante frustrada e chateada por ter gastado o único dinheiro que eu tinha naquele livro que não fazia sentido para mim. Depois dessa experiência, foquei mais em livros de aventura, como As crônicas de Spiderwick, por exemplo, que eu amava, depois, romances, entre outras coisas.
Essa experiência me marcou, por muitos anos eu sempre dizia que não gostava de HQs, mas foi algo que aconteceu por falta de conhecimento sobre o gênero. Já adulta, HQ de briga, de Silva João, foi a leitura que realmente me trouxe para o mundo dos quadrinhos. Fiz a leitura por insistência do meu marido, que é fã de mangás, principalmente de One Piece. Depois dessa minha primeira leitura, percebi o quanto eu havia perdido em função daquela experiência ruim. Então, deixei meu preconceito de lado, fui atrás de estudar um pouco mais sobre o gênero, li mais hqs, tanto nacionais, quanto internacionais. A partir disso, minha relação com as hqs mudou e eu vi que eu deveria trazer hqs para os meus alunos nas aulas de literatura. Assim, comecei a trabalhar mais com HQs na escola.
Por enquanto, minhas HQs favoritas são HQ de briga volume I e II, de Silva João; One Piece, de Eiichiro Oda; e Bar: o Miolo Frito, de Shun Izumi, Benson Chin, Thiago A. M. S., Breno Ferreira, Adriano de Campos Rampazzo.

JORGINHO: Como surgiu o Concurso de Hqs no Poli?
CAMILA FENNER: A ideia para o concurso surgiu durante uma aula de língua portuguesa no 9° ano do ensino fundamental, na qual estávamos estudando características do gênero história em quadrinhos e eu levei HQ de briga, de Silva João, para lermos em aula. Projetei a HQ na parede e fizemos a leitura de toda a história com cada aluno interpretando um personagem diferente. Essas aulas foram tão divertidas, que os alunos pediram para ler o volume dois de HQ de briga também. Fizemos a leitura do volume dois, na sequência pedi para eles criarem uma pequena HQ de duas páginas utilizando o conceito de metalinguagem, o qual trabalhamos em aula pois aparece muita metalinguagem nesse trabalho de Silva João. Quando recebi os trabalhos, vi que os alunos tinham muito talento, comentei isso em aula, disse brincando “até poderíamos fazer um concurso”, e os alunos levaram a sério a minha fala e me encorajaram a organizar mesmo um concurso, segundo eles seria muito “massa”, “pouco tri” e outras variações de legal...

JORGINHO: Como foi a receptividade dos educandos com a proposta do concurso?
CAMILA FENNER: Na primeira edição, quando comecei a passar nas salas de outras turmas, que não a turma que me incentivou a criar o concurso, senti um certo estranhamento e muita curiosidade. Surgiram muitas dúvidas, tiveram alunos bem empolgados e outros um pouco inseguros em participarem, com vergonha de terem seus desenhos expostos para toda a escola. Após todo o andamento da primeira edição, da premiação e exposição das histórias no ano passado, muitos dos alunos que ficaram envergonhados e não participaram no ano passado, já se inscreveram esse ano para a segunda edição, com isso, entendo que eles tiveram uma boa impressão sobre o concurso.


JORGINHO: Você como educadora, como enxerga a importância das hqs para a educação?
CAMILA FENNER: Acredito que as HQs são uma ótima ferramenta para a formação de novos leitores. É um gênero que proporciona uma leitura dinâmica, é bastante expressivo, chamativo. Além da história em si, possui outros elementos que chamam a atenção e exercitam a sensibilidade e a interpretação dos leitores. Também é um gênero no qual encontramos muita crítica social, como nas histórias da Mafalda, por exemplo. Então, as hqs têm um papel muito importante na formação dos sujeitos e na educação como um todo.


JORGINHO: Quais os gêneros preferidos dos jovens artistas que participaram do primeiro concurso?
CAMILA FENNER: Os alunos que participaram da primeira edição do concurso gostam muito de mangás de aventura e fantasia. Alguns começaram a desenhar por conta da leitura de séries de mangás como One Piece, Naruto, Hunter x Hunter, Jujutsu Kaisen, entre outros. E o que me chamou a atenção foi que são histórias admiradas por meninos e meninas, o que na minha época não era muito comum, pois hqs eram considerados coisa de “nerd” e principalmente de meninos.



JORGINHO: O que você espera para essa segunda edição? Como você analisa a continuidade do projeto?
CAMILA FENNER: Espero que a segunda edição seja maior que a primeira, com mais inscritos e que agregue algo para todos os participantes. Por isso estamos organizando, além da competição, oficinas de desenho com ilustradores experientes, queremos adquirir alguns livros sobre a história das hqs, bem como alguns ensinando técnicas de desenhos, para que os alunos possam estudar mesmo o gênero na biblioteca da escola, ter embasamento teórico sobre o assunto.
É um projeto que é bastante prazeroso para mim enquanto professora, pois tenho um retorno muito bom dos alunos, como também gosto de consumir HQs enquanto leitora. Sendo assim, desejo dar continuidade ao projeto, sempre tentando melhorar.

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JORGINHO: Deixe seu recado para os leitores do Arte e Cultura.
CAMILA FENNER: Quero deixar os meus parabéns ao pessoal que alimenta a revista, é um trabalho muito bonito e que incentiva a produção de arte em nosso país, o que é algo de se admirar, pois sei que não é todo mundo que dá o devido valor à cultura. E dizer aos leitores que continuem aproveitando o conteúdo da revista, arte nunca é demais e faz bem para a alma! Muito obrigada pelo apoio e divulgação do nosso concurso!
CONCURSO DE HQ'S
DO POLI
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1 Comentários
Oi, sou a Isab-El. Também fui alfabetizada com HQ. Meu tio Neri tinha paixão por HQ, então sempre tinha na minha casa e foi assim q fui juntando as primeiras letrinhas e aos 4 anos já lia os quadrinhos. Sou graduada em Letras e um dos estágios foi na quinta série, apliquei HQ. Levei uma história com os balões sem texto, para que criassem a história. Gostaram tanto q tive q repetir o exercício. Hoje ainda leio HQ. Sou apaixonada.
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