Escrever e Viver
Oi! Orgulhosamente apresento a quinta história das Aventuras do Detetive Oswaldo que está em tuas mãos para ser apreciada, avaliada, julgada, criticada, etecetera e tal. Aguardo o teu retorno.
Sobre o título desta introdução, Lênin viveu uma situação emblemática ao ter que interromper a elaboração de um livro diante da urgência em liderar a Revolução Russa de 1917. Declarou que era mais importante fazer a revolução do que escrever sobre ela. De fato, sem o seu trabalho de organizador talvez tudo teria sido diferente...
Dizem as boas e as más línguas que José de Alencar ao escrever o seu livro “O Gaúcho”, publicado em 1870, jamais colocou os pés no Rio Grande do Sul.
Estas historinhas nos apresentam um questionamento interessante: viver para escrever ou escrever para viver? Claro que uma coisa não impede a outra, afinal, se fossemos escrever só autobiografias não haveria os livros de ficção cientifica. Entretanto, correndo o risco de estar errado, ouso afirmar que mesmo a mais estapafúrdia ficção tem seu pezinho na realidade, tem algo a ver com a vida do autor e o seu momento histórico.
Esta quinta história d’As Aventuras do Detetive Oswaldo é o encerramento de um ciclo, foi produzida dentro de um contexto histórico da minha vida. Desde a primeira, Marilyn Monroe em Porto Alegre, em 2018, que surgiu como uma válvula de escape diante da doença de minha mãe, até esta, Salto Mortal Sem Rede, que começou a ser escrita há uns três anos. Quando estava escrevendo Caminho Sem Volta já produzia anotações para serem utilizadas na quinta história, que naquela época ainda não possuía título, era apenas a 5a. Vou me permitir alugar, ou melhor, pedir emprestado, porque alugar pressupõe pagar aluguel, a tua atenção para tratar sobre o processo que envolveu a produção desta quinta aventura. Quando comecei de fato a escrevê-la já existiam vários papeizinhos onde estavam escritos diálogos e até cenas inteiras que fui produzindo ao mesmo tempo em que escrevia as outras aventuras. O que a princípio pode parecer um método fácil se mostrou uma enorme dor de cabeça. Uma que precisei catar aquelas anotações espalhadas em vários papéis e pastas do computador e a outra que precisei escrever muito para ligar uma cena na outra, fazê-las terem algum sentido, uma certa luz de coerência na escuridão do caos. Graças ao trabalho valioso de pessoas como a Marlí (para quem não sabe, minha esposa, com quem divido, além das contas, mais de três décadas de convivência e a criação de três filhos) que, pacientemente leu, apontando os muitos erros existentes na primeira versão e deu valiosíssimas sugestões, este livro não teria as qualidades que tem, modéstia à parte.
Encerrar este ciclo me obrigou a olhar para trás, recordar desde a primeira aventura, passando por todas as outras. O nosso herói passou por vários lugares e, ao contrário do José de Alencar, conheci cada um deste lugares, andei por lá, senti a brisa com os seus aromas, toquei nas pedras do caminho, construí lembranças. Esta experiência de vida, creio, me deu mais segurança para escrever e descrever cenários e, ouso afirmar, passou um pouco de autenticidade às Histórias.
Outra percepção que desenvolvi ao olhar o conjunto das Aventuras é que as páginas aumentaram gradativamente. Todo o escritor tem a pretensão de estar transmitindo algo aos seus leitores, sentimos que temos algo a dizer e isto é praticamente uma compulsão. Portanto, vocês que foram minhas vítimas neste processo, perceberam o aumento no número de personagens e na complexidade das Histórias. Ao compararmos a primeira aventura com esta aqui pode-se dizer que as diferenças de estilo na condução da narrativa são gritantes.
Finalmente, não posso deixar de registrar a alegria de concluir este livro, mas, ao mesmo tempo, uma certa melancolia, aquela tristeza misturada com saudade e nostalgia (sou um sujeito nostálgico, admito!). Ao lembrar destes quase sete anos envolvidos com as confusões em que se meteu e foi metido Oswaldo, as personagens que orbitaram em torno dele, tudo isto me faz feliz e ao mesmo tempo me traz aquele sentimento de fim de festa... Tudo isto faz parte da vida e é maravilhoso. Como compôs Peninha e “cantaneou” Caetano Veloso: “ter saudade até que é bom, é melhor que caminhar vazio, a esperança é um dom que eu tenho em mim, eu tenho sim.”
Enfim, sou do time do Lênin, entre escrever sobre a revolução e viver a revolução, prefiro viver a revolução. A vida é sempre a melhor opção, entretanto, uma coisa não é incompatível com outra, afinal, a vida é o grande combustível da Literatura.
Um forte abraço e muito obrigado por ter prestigiado As Aventuras do Detetive Oswaldo.
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