MICROSCOPIA DO OLHAR



O resto é silêncio



     Ao acordar hoje pela manhã observei da janela da minha cozinha o movimento do lugar onde moro. Céu nublado, janelas fechadas, ausência de gente, somente o som ambiente. Uma voz aqui e outra acolá. Ouvi o meu silêncio. E esse silêncio repercutia em mim através de pensamentos complexos e perplexos tentando entender a nossa situação atual.

       Um vírus "bobagem" para alguns; um vírus letal para muitos. O povo em quarentena. O povo em egoísmo. O povo que esquece do coletivo, e que na mesma medida que afeta esse coletivo, é afetado por ele. Quando pensamos egoisticamente nas nossas necessidades pessoais, negligenciando o outro, isso, de alguma forma e em algum momento, retornará para nós. Não é misticismo, não é religioso, é estatístico.

      Uma empresa preocupada com o seu lucro e que despreza o seu funcionário, tratando-o somente como mão de obra do seu capital não enxerga o ser humano. Não prevê um fundo emergencial para crises. Esgota todo o recurso humano, não quer saber da doença do colaborador. Este adoece, tem medo de perder o emprego. A família sofre. E as leis trabalhistas? Não existem mais. E o Sistema Único de Saúde? Correndo o risco de privatizar.

      A maioria da população brasileira recebe pouco mais de dois salários mínimos. Se essa população adoece e morre, como vai ser? Que tipo de lógica perversa passa pela cabeça de quem não defende o outro que tem menos recursos? Essa conta vai parar nas classes mais ricas, e vai ser uma conta impagável...

      Meu silêncio me diz para continuar. Lendo, escrevendo, estudando, tendo empatia pelo outro, fazendo a minha parte na medida do possível. Meu silêncio diz também que o silêncio dos outros, o de omissão, será responsável, mais cedo ou mais tarde, pelo silêncio reflexivo doloroso, que levará às mudanças profundas e tão necessárias das quais precisamos.

      Só nos resta aguardar.














                                                                                                                                                                                                                              Texto: Patrícia Maciel


Postar um comentário

0 Comentários