FISSURAS NA QUARTA PAREDE

 OPINIÃO


ONDE FOI QUE NOS PERDEMOS?


Em qual esquina nos distanciamos uns dos outros a ponto de não nos vermos
mais, não conseguirmos nos olhar...


Que direito é esse que me impede de ter direito sobre o meu próprio corpo?! Que
dita as regras do que devo ou não fazer comigo mesma?! Que grita e esbraveja o que
é
“certo” e “errado” em nome de senhores, bandeiras, deuses...


O que aconteceu nesse tempo, que me soa não mais tão real, nessa distopia
ensurdecedora que tem nos arrebatado e nos deixado a mercê do inacreditável. Um
ponto perdido, do não confesso, enquanto os senhores da verdade ditam o que deve
ser dito. O que deve ser feito, falado, pensado...


Sinto o medo que me corre na espinha. Meu corpo de mulher, propriedade de
quem quiser. Meu corpo de criança, esquecida, torturada, estuprada... E enquanto a
dor, privilégio de quem sente, nos é abafada, calada. Decidem por nós, por
Ela, o destino
que já sangrou. Em nome de um deus que não é o mesmo que o meu. De uma fé que
se desfaz, se desmancha, a cada palavra de ódio disfarçada de amor, a cada dor.


Onde foi que erramos tanto?!


Onde o cuidado um com o outro se escondeu e a acusação se transformou na
cruz que condena e queima.


Como podemos ter deixado chegar até aqui. Aceitado, calados.


Quando uma de nós sofre, todas sofremos. Quando uma de nós perde, todas
perdemos. Quando uma criança é descuidada, nós somos responsáveis. Eu, você, o
Estado. Fechar os olhos e fingir que não sabemos, não resolve o problema. Quantas de
nós terá, ainda, que sofrer para entendermos. Para que você consiga olhar e sentir.
Para que nenhum homem decida sobre nós, sobre mim.


Queremos a segurança de uma infância não roubada. A segurança do amor, do
afeto e não da dor. De quem tem que brincar e sorrir, não se esconder ou ter vergonha.
A culpa não é minha ou sua, do nosso corpo de mulher. A culpa é de quem acredita ter
o poder. E nessa ilusão de que é Deus quer manipular.


Decidir, por mim e por você. Decidir como se não tivesse culpa. Uma culpa
concreta, abstrata, íntima, que aumenta e se estreita a cada passo, a cada grito, a cada
não”, a cada abuso, a cada uso...


Izabel Cristina é Licenciada em Teatro, gestora de cultura e Especialista em Acessibilidade Cultural, atriz, dramaturga, diretora e professora de teatro. Desde 2014 coordena o Departamento de  Artes Cênicas da SMCEL- Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e lazer de Gravataí/RS


Izabel Cristina


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