O passeio

 


O Passeio

Passei pelo Centro da Cidade e lá estava ela de novo. Dona Miséria, com sua cuia estendida e suas pernas feridas. Senhora Perdição passou por ali também. Seu corpo possuía a sensualidade que só o mau tem. Muitas tribos se encontravam por aquele pedaço: Os Alcoólatras, os Viciados, os Opressores... Vivendo a tranquilidade de sua guerra pacífca, que não espantava mais ninguém. Sou um dos que se sente à vontade no Centro da Cidade. Aquela multidão de caras sem rostos se acotovelando furiosamente, cheiro de óleo queimado, fumaça negra saindo dos canos de descarga e tomando o ar. Cheiro de futuro. É um clima confortavelmente conflitante. Prédios encardidos, sujeira se acumulando pelos cantos... É o Centro. É ali que se aglomera tudo que o homem conseguiu construir em toda sua existência. O ser humano deve fcar orgulhoso de ver o resultado do seu crescimento... De sua evolução... Não sou mais humano. Não sei mais o que é isso. Só me sinto à vontade no centro do caos. Sinto-me em casa. Agora, Dona Miséria está comendo macarrão azedo no lixo, com um monte de crianças chorando a sua volta. Maldita Dona Miséria. Boa tarde, Madame Luxúria. Que bom vê-la por aqui. Pera aí... Olha quem vem lá. Meu grande amigo Ócio. Vamos agora mesmo voltar algumas quadras. Acabei de dar um belo passeio por esse jardim do inferno. Quero te mostrar algumas flores novas.


Texto: Fabio da Silva Barbosa

Fabio da Silva Barbosa Silvia Canto

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