ESSE ESTRANHO NOVO MUNDO

 

O HUMOR NESSE ESTRANHO NOVO MUNDO

A ciência há muito tempo constatou que o Homem é o único animal que ri.

Já o genial Millôr Fernandes complementou: “O Homem é o único animal que ri. E é rindo que ele mostra o animal que é”.

Essa frase do Millôr também pode ser interpretada como um elogio, afinal sempre é salutar descermos do pedestal evolucionário e nos lembrarmos que também somos animais mamíferos, mais uma espécie entre tantas.

Desde Aristóteles, grandes pensadores vem se ocupando com a questão da origem do riso e do humor. Em consenso há a constatação de não existe a comicidade fora do que é propriamente humano. Mesmo quando rimos do nosso bichinho de estimação, é porque temos a referência humana como parâmetro.

O filósofo francês Henry Berson (1859-1941), autor de “O Riso”, um clássico livro de ensaios sobre o tema, costumava afirmar: “o cômico exige algo como certa anestesia do coração para produzir todo o seu efeito. Ele se destina à inteligência pura”.

Outra questão bem interessante que o ensaios de Bergson constataram, é que nunca desfrutaríamos do cômico se nos sentíssemos isolados, pois o riso precisa de um certo eco, ou como dizemos nos tempos atuais, o riso necessita de compartilhamento. Um exemplo, é quando nos deparamos com um grupo de pessoas numa mesa de bar que riem juntas e embora não estejamos também rindo, consideramos que se estivéssemos em meio à elas, também riríamos.

O filósofo francês, que foi laureado com o Nobel de Literatura em 1927, também afirmou que por mais franco que o riso seja, ele oculta uma segunda intenção de acordo e cumplicidade com outros galhofeiros, reais ou imaginários. Como exemplo, está a constatação de que o riso do espectador no teatro, é tanto maior, quanto mais cheia esteja a sala.

Sabemos que o riso é provocado por algo cômico, que tanto pode ser um evento espontâneo que testemunhamos e que quebra a nossa expectativa, como alguém que leva um tombo, quanto uma ação deliberada e planejada que se comunica com o nosso intelecto por meio de referências culturais, como um show de humor.

Pois se rimos de tudo que tem comicidade, a exceção é o riso nervoso cuja origem é emocional, uma reação a algo desagradável e constrangedor. Mas o humor com muita frequência também se associa a esses adjetivos. Isso porque um dos grandes trunfos do humor tem origem em nossa capacidade de rirmos de nós mesmos. Quando as nossas fraquezas, erros, defeitos e dificuldades são apresentados por uma ótima humorística, os resultados são imediatos em termos de aceitação.

O desenhista, escritor, dramaturgo e tradutor carioca Millôr Fernandes era também um emérito frasista como já vimos, cuja visão afiada pelo humor sobre as nossas fraquezas, produziu, entre outras tantas, dez pérolas como essas:

“As pessoas que falam muito, mentem sempre, porque acabam esgotando o seu estoque de verdades.”

“Os nossos amigos podem não saber muitas coisas, mas sabem sempre o que fariam em nosso lugar.”

“Por mais imbecil que você seja, sempre haverá um imbecil maior para achar que você não o é.”

“Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem.”

“Não é que com a idade você aprenda muitas coisas; mas você aprende a ocultar melhor o que ignora.”

“O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde.”

“Chato...indivíduo que tem mais interesse em nós, do que nós nele”.

"Se todos os homens recebessem exatamente o que merecem, ia sobrar muito dinheiro no mundo”.

“Há duas coisas que ninguém perdoa: nossas vitórias e nossos fracassos”.

“ O aumento da canalhice é resultado da má distribuição de renda”.

Sei bem que em meio aos desafios e dificuldades cotidianas nem sempre é fácil manter o bom humor. Mas ter em mente isso, pode tornar tudo um pouco mais leve.

Por isso nesse estranho novo mundo repleto de injustiças, desigualdades, preconceitos e intolerâncias o humor se torna tanto um mecanismo de defesa como uma arma afiada mas não letal mesmo que, por muitas vezes, precise ser intermediado por momentos de indignação.

Mas não devemos nunca perder a capacidade de rirmos de nós mesmos e mantermos em nossas mentes, talvez como uma espécie de mantra, que: só o Humor nos salva!

Milôr Fernandes


João Luís Martínez 

João Luís Martínez é ator, escritor, diretor, dramaturgo e roteirista atuando nas áreas do Teatro e do Audiovisual (cinema, TV e web) há mais de trinta anos. Desde 2011 faz parte do corpo docente do Studio Clio – Instituto de Artes e Humanismo, uma instituição prestigiosa na cultura porto-alegrense, onde ministra cursos e oficinas de roteiro. Há três anos ministra as suas oficinas de modo on-line, contribuindo para a formação de novos roteiristas para o mercado.


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