A CIÊNICA E A RELIGIÃO NESSE
ESTRANHO NOVO MUNDO
É um pensamento corrente que a Ciência e a Religião não se misturam. Isso se aplica sobremaneira no conflito entre Criacionistas e o Pensamento Científico.
Nos EUA há um conflito aberto e em permanente discussão sobre a aplicação de uma dessas duas visões de mundo no ensino infantil público, em particular na disciplina de Biologia. E esse conflito já chegou por aqui no território brasileiro.
Antes de nos apressarmos em adotarmos um dos lados dessa questão, é importante salientar que existem intolerantes em ambos. Tanto alguns biólogos como alguns criacionistas são tomados pela soberba e não admitem o pensamento contraditório. Enquanto há pais se queixando, de que a escola pública usa o dinheiro dos contribuintes para destruir a fé religiosa dos seus filhos; há cientistas que não demonstram nenhum respeito ou compreensão pela angústia desses pais. Ambas as parte se apegam à posições dogmáticas e o conflito ocorre porque tanto a ciência organizada quanto a religião organizada, querem ter o monopólio da verdade.
Seria preciso um pouco mais de humildade para ouvir o outro, em vez de ditar a lei. Nesse caso, parece que tanto os cientistas, como os religiosos, carecem de algumas virtudes cristãs.
Felizmente essa batalha em torno do criacionismo envolve apenas uma minoria de crentes e cientistas.
Muito mais importante é uma área vasta de ação social e política em que a ciência e religião encontram interesse e oportunidades de uma colaboração frutífera. Por exemplo, há mais de uma década, ambas vem consolidando uma aliança graças à luta comum pela paz, rejeitando com veemência a ideia de alguns governantes de que a paz permanente na Terra pode ser alcançada com armas nucleares.
No auge da pandemia da covid-19, vimos os discursos alinhados de cientistas e de autoridades religiosas, como o Papa Francisco e o Dalai Lama, à favor de uma ampla e gratuita cobertura vacinal da população.
O notório escritor britânico H. G. Wells, que também era cristão, dizia ter um pensamento pautado por um humanismo científico. É de seu livro “Outline of History” publicado em 1920, esse trecho bem elucidativo de sua maneira de pensar:
“Embora muito se tenha escrito tolamente sobre o antagonismo entre ciência e religião, na verdade esse antagonismo não existe. O que todas essas religiões do mundo declaram por inspiração e discernimento a história, à medida que se torna mais clara, e a ciência, à medida que seu alcance aumenta, mostram um fato racional e demonstrável: os homens formam uma irmandade universal e têm uma origem comum; suas vidas individuais, suas nações e raças cruzam-se e mesclam-se e seguem fundindo-se novamente, em um destino humano comum nesse pequenino planeta em meio às estrelas.
E o psicólogo agora pode pôr-se ao lado do pregador religioso e nos garantir que não existe uma paz de espírito racional, não existe equilíbrio e segurança na alma antes que um homem, perdendo a vida, a tenha encontrado, e tenha educado e disciplinado os seus interesses e sua vontade para além da cobiça, da rivalidade, dos medos, dos instintos e das afeições egoístas. A história da nossa raça e a experiência religiosa pessoal seguem caminhos estritamente paralelos que ao observador moderno parecer ser quase a mesma coisa: ambas falam sobre um ser a princípio disperso, cego e totalmente confuso, tateando lentamente à procura da serenidade e salvação de um propósito ordenado e coerente. Esse é o resumo mais simples da história; quer se tenha um propósito religioso, quer se repudie totalmente um propósito religioso, as linhas desse resumo permanecem a mesma”.
Religião e Ciência podem conviver em harmonia na alma humana, desde que cada uma respeite a autonomia da outra e nenhuma delas se arrogue a infalibilidade.
Paris, 1880.
João Luís Martínez |
João Luís Martínez é ator, escritor, diretor, dramaturgo e roteirista atuando nas áreas do Teatro e do Audiovisual (cinema, TV e web) há mais de trinta anos. Desde 2011 faz parte do corpo docente do Studio Clio – Instituto de Artes e Humanismo, uma instituição prestigiosa na cultura porto-alegrense, onde ministra cursos e oficinas de roteiro. Há três anos ministra as suas oficinas de modo on-line, contribuindo para a formação de novos roteiristas para o mercado.
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1 Comentários
Ciência e religião andam lado a lado, mas parecem antagônicas. Algumas religiões estimulam o antagonismo. Trabalhando na área da saúde já vi pais não permitirem transfusão de sangue nos filhos. Outros não aceitarem vacinas em nome da religião. Isso é absurdo. Vi uma postagem muito interessante de Omulu de máscara e com uma seringa na mão. Umbandistas entenderão. Omulu é orixá da cura, a postagem dizia p pedir a Omulu, mas usando máscara e com as vacinas em dia. Não tem como separar. O texto traz essa reflexão. Abraço
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