Em briga de marido e mulher eu meto a minha colher
Tenho visto que as novelas, outrora usadas apenas como entretenimento, agora servem para levar informação à população. A novela Pantanal, apresentada pela Rede Globo, já trouxe vários temas polêmicos e atuais, dentre eles a homofobia, traição, machismo e agora a violência contra as mulheres.
Muitos pensam que a violência contra as mulheres se resume em violência física, um tapa, um soco, um tiro... Mas o assunto não é tão simples. A violência pode vir disfarçada de ciúmes ou de sinceridade do homem. Quantos homens mantém a mulher presa em casa, rastreando seu celular, não a deixando trabalhar ou estudar com a desculpa de ter ciúmes... Chamá-la de gorda, burra, feia... mandá-la lavar a "cara de palhaça" porque está maquiada, difamá-la perante os outros, humilhá-la...
A Lei Maria da Penha classifica os tipos de abuso contra a mulher nas seguintes categorias: violência patrimonial, violência sexual, violência física, violência moral e violência psicológica. Vejamos cada uma em separado:
É considerada violência patrimonial, nos termos da Lei Maria da Penha, qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades
Violência sexual é “qualquer ato sexual ou tentativa de obter ato sexual, investidas ou comentários sexuais indesejáveis, ou tráfico ou qualquer outra forma, contra a sexualidade de uma pessoa usando coerção”.
Violência física (visual) é aquela entendida como qualquer conduta que ofenda integridade ou saúde corporal da mulher. É praticada com uso de força física do agressor, que machuca a vítima de várias maneiras ou ainda com o uso de armas, exemplos: Bater, chutar, queimar. cortar e mutilar.
Violência moral (não-visual) é qualquer conduta que importe em calúnia, quando o agressor ou agressora afirma falsamente que aquela praticou crime que ela não cometeu; difamação; quando o agressor atribui à mulher fatos que maculem a sua reputação, ou injúria, ofende a dignidade da mulher.
Violência psicológica são caracterizados por atos de humilhação, desvalorização moral ou deboche público, assim como atitudes que abalam a autoestima da vítima e podem desencadear diversos tipos de doenças, tais como depressão, distúrbios de cunho nervoso, transtornos psicológicos, entre outras.
Muitas de nós passa por um ou mais tipos de violência sem ao menos perceber ou mesmo por vergonha em admitir o crime do seu parceiro. A Maria Bruaca da novela relata para a advogada que o Tenório não era violento porque nunca "bateu" nela. É muito difícil para a mulher, pois sente-se fragilizada e até mesmo culpada. É comum que ela lembre de situações agradáveis da relação para criar uma névoa de felicidade onde ela se apega para não sofrer. Muitas foram as vezes que eu achei que não tinha um casamento abusivo porque ele não me batia, mas eu sofria os outros quatro tipos de violência e por falta de informação, ignorância, vergonha ou medo, não denunciava.
Em nosso círculo de amizades é fácil perceber vários casais onde a mulher sofre alguma das violências, caladas, ocultas debaixo de um olhar de relance, reprimidas num sorriso de canto de boca que o marido lança por debaixo do nariz empinado. Hoje eu conheço um homem violento mesmo quando ele está fazendo declarações de amor à esposa e isso me causa asco, eu não sei disfarçar.
Graças a Deus que, diferente do meu tempo, hoje a informação vem a galope e temos muito mais apoio para denunciar e seguir a vida. Mesmo assim ainda tem mulheres que precisam de ajuda e não sabem ou não podem pedir socorro. Mas se o socorro chegar até meus ouvidos, sinto muito, em briga de marido e mulher eu meto a minha colher, basta ela pedir. A união é a arma que precisamos para que homens abusivos sejam punidos com o rigor da lei. Eu tive apoio, por isso estou em pé.
Isab-El Cristina Soares |
Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros. Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras.
Escute o episódio do podcast Coletive Som gravado com Isab-El , clicando Aqui.
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1 Comentários
É bem isto mesmo! A união faz a força!
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