ARTE E CULTURA

 

CAVALGANDO COM TEX - CLAUDERI ROQUE PREUSS


Estamos seguindo firmes na nossa segunda edição de Cavalgando com Tex, um dia recheado de publicações, homenageando o maior herói dos quadrinhos de faroeste do mundo e seus fãs devotos.

Entrevistamos o grande Clauderi Roque Preuss, um texiano e uma figura fantástica, confiram!

Arte: Leandro Dóro


JORGINHO:  Como e quando começou a sua paixão por TEX?

CLAUDERI ROQUE PREUSS: Eu sou Preuss, nasci em Tenente Portela – RS, e hoje moro em Itapeva-SP. Inverno de 1974, 6 anos, entrava em contato com a Nona Arte, sem saber que iria me acompanhar por toda a vida, folheava o primeiro TEX, sem saber ler, umas imagens me levaram a saber, anos depois, qual era a história, TEX nº 41 – O Mistério das Pedras Venenosas, mais tarde (1985), seria gravado o primeiro e único filme de Tex. Estrelado pelo consagrado autor de western Giuliano Gemma, Tex e o Senhor do abismo foi baseado na história El Morisco, que saiu no Brasil n° 40/42 editora Vecchi. No filme, Tex e seus companheiros se vêem no misterioso caso das pedras verdes. Este contato com o primeiro Tex foi na casa de uns amigos que, segundo eles, sua mãe achou no assento de um ônibus numa viagem para o Paraná. Passou um tempo e o 1º que li mesmo foi o n° 52, publicado em junho de 1975. Nesta época, poucas casas tinham energia elétrica e tv, brincávamos nos campos e matos, usávamos armas feitas de madeira, todos queríamos ser o mocinho, e Tex foi entrando em minha vida. Fizemos nosso Pacto de Sangue (Tex 94), e estamos cavalgando juntos há 48 anos.



JORGINHO: Como foi para você, na sua infância e adolescência, adquirir exemplares de Tex?

CLAUDERI ROQUE PREUSS: O primeiro que comprei foi Tex 2ª Edição nº 21 em janeiro de 1979 com 11 anos, (antes eu era pidão) não tinha como comprar e nem sabia onde, morava numa vila (Capoeira Grande) a 20 km da Cidade de Tenente Portela. Tenho duas pessoas que eu levo no coração no início de tudo, ao Tio Nisio e a Vó Dileta que cada mês quando iam pra cidade grande traziam um Tex de presente. Já em 1986 depois de ter servido à pátria, já era grande, continuava com meu acervo, onde eu ia o Tex estava junto. Novembro/86 era lançado Tex Coleção, A Mão Vermelha com sua primeira História de Tex, eu já tinha lido a republicação da primeira aventura no Tex nº 82 – 1ª edição e Tex nº 135, curiosidade que neste mesmo mês seria publicada a Tex  nº 135, 2ª edição, não saiu a história e foi publicado outro título, avançando a linha do tempo foi só no início da década de 90 que consegui comprar a Tex nº 1 da 2ª edição e a Tex nº 1 da 1ª edição em janeiro de 2000. Eu levei 40 anos pra completar a coleção, estar em dia, com a publicação mensal. Eu agradeço a minha filha Cristine e ao Fred por ter durante anos guardado a sete chaves meu acervo inicial.

Em 2018 Tex com 70 anos e eu com 51, tomamos rumos e fomos para o Festival de Quadrinho de Limeira (em Limeira/SP), era 29 de setembro de 2018 eu entrava no hall da Faculdade FAAl, neste evento ocorria a 10ª edição do Espaço Animeira ocupando o segundo andar da faculdade Faal e no primeiro a Festa dos 70 anos de publicação de Tex Willer. Foi neste evento que ao retornar minha cabeça estava a mil, conhecia o fantástico mundo da Nona Arte, os maiores colecionadores, editores, desenhistas brasileiros, tradutores, letristas, foi um final de semana marcante, ao retornar de Limeira, comecei a olhar com mais atenção os meus Gibis, organizei melhor, distribui em estantes com protetores para melhor conservação. Depois desta jornada de 36 horas de ônibus participei de mais 3 eventos no RS, como visitante e até expositor (Alegrete, Soledade e Uruguaiana), com a pandemia ai tudo parou, eu e meu irmão Isaias ficamos fazendo um cantinho na chácara de minha mãe Genoema, revestimos um galpão velho de pvc, e com folhas de Tex que já tinham passado de mão em mão, estavam em fim de vida, foram dias colando, envernizando cada uma, se tornou uma fachada toda de papel, acabava de fazer minha Gibiteca Bruxo Mouro.





JORGINHO: Quais os exemplares de Tex que mais marcaram a sua vida?

CLAUDERI ROQUE PREUSS: Para nós colecionadores cada exemplar tem uma história, principalmente nos primeiros 100 números, era uma batalha conseguir, cito alguns:

Tex nº 41 - O nascimento da Paixão, o amor platônico;
Tex nº 52 – O primeiro que sabia já soletrar;
Tex nº 21 – 2ª ed – O primeiro que comprei;
Tex nº 32 – 2ª ed. – O presente da minha avó;
Tex nº 33 – Ganhei no amigo Gervasio Saggin (In Memorian);
Tex nº 27 – 2ª ed. – Ganhei dos amigos que saíram do sul pra trabalhar na construção da Hidrelétrica de Itaipu ( Jandir e Laurindo Sala);
Tex nº 89 – Do colega de aula Elmir Franceschi (In Memorian);

Um Tex que me marcou foi 68/69 - Caçada Humana” é a história do Tex mais humano e frágil , mas sem perder suas características. Ele vai aos extremos dos sentimentos, de uma sensibilidade comovente a mais completa indiferença. Tex e Andy demonstram que os valores estão bem acima das leis dos homens.





JORGINHO: Quantos itens no geral você tem em sua coleção?

CLAUDERI ROQUE PREUSS: Hoje tenho 12 mil exemplares de HQ publicados no Brasil, Espanha, Sérvia, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Japão, Argentina, Portugal e Suécia. Mas o que eu me apeguei foi nas Bíblias em quadrinhos.




JORGINHO: Você é um grande colecionador de quadrinhos, quais as peças que você considera as mais raras?

CLAUDERI ROQUE PREUSS: Eu não tenho exemplares raros, tenho o normal, na linha do Tex tenho nº 1 de 1971, alguns Junior, Tex gigante colorido do 1 ao 12, Ídolo de Cristal da Vecchi, Kalle Anka & C: é uma revista sueca semanal de quadrinhos da Disney, publicada pela Egmont. A HQ de 52 páginas, lançada em setembro de 1948, é a revista sueca mais vendida em quadrinhos, Coleção completa dos Heróis da TV da Abril, Heroes Verdadeos, tenho lâmina de curiosidades sobre o livro.



JORGINHO: O que mais te fascina nas aventuras de Tex?

CLAUDERI ROQUE PREUSS: O desenho, cria na minha imaginação o cenário real, conta a história do Velho Oeste narrando fatos e atos com datas e mapas. Quando estou lendo um Tex eu consigo entrar da dimensão dos quadrinhos, escuto as vozes, o som dos tiros, o grito de guerra dos índios, a corneta dos casacos azuis, o movimento das águas, o assobio do vento, deserto quente de dia e frio à noite, o trote dos cavalos, a chuva, trovões e raios, as gargalhadas de Mefisto, e o silêncio do voo da águia e o estomago do Kit roncando, mil e uma imaginação.

A personalidade de Tex: “Senso de Justiça”.



JORGINHO: Como você enxerga o momento atual dos quadrinhos em geral no Brasil e o momento de Tex?

CLAUDERI ROQUE PREUSS: Vamos direto ao ponto, a distribuição, como os donos de bancas vão poder ter a sua revista, com o fechamento da Dinap ficou difícil, editoras buscam outros mecanismos de vendas, criam lojas virtuais, mas os custos do frete é muito elevado em comparação ao preço da revista. Com a venda online, centenas de bancas pelo Brasil fecharam suas portas, mesmo com poucas bancas ainda e a distribuição precária, escritores e autores independentes estão conseguindo publicar suas obras com a ajuda de programas de incentivo à cultura ou por financiamento coletivo. No Brasil temos o Catarse. Com o Tex no Brasil eu vejo um avanço, temos três editoras publicando ou vendendo seu encalhe (Mythos, Panini e Salvat). Hoje temos Tex em edição de capa dura, brochura, preto e branco, coloridos, Tex com 800 páginas, o nosso omnibus, formato italiano, Tex com duas numeração, Tex repeteco, mesmo com o cancelamento de umas publicação e surgimento de outras. Não é fácil hoje ser colecionador devido aos preços, sem distribuição em banca. O bom era quando íamos nas bancas e escolhíamos o que se queria, não comprávamos só Tex, tinham infinitos títulos de HQs. O meu medo é de, num futuro próximo, não termos mais o livro físico, só o digital, só quem sabe o prazer de abrir um livro, sentir o cheiro, e folhear folha por folha, isso não tem preço.



JORGINHO:  Fale para o leitor uma lembrança gostosa relacionado aos quadrinhos de Tex (algo que marcou a tua infância, adolescência ou juventude, alguma das histórias que você me contou)

CLAUDERI ROQUE PREUSS: Eu, na minha infância, não tive bola de futebol, não tive bicicleta, a minha família não tinha TV e nem carro, só usei chinelo e conga, nem kichute, também era perna de pau. A minha sacola-mochila com o caderno era de saco de plástico de arroz ou açúcar. Da minha infância trouxe um tesouro chamado ser humilde, e foram através dos Tex que aprendi a passar por muitas situações. Nesta minha cavalgada de 48 anos, eu e Tex vivemos cada aventura, e uma que me deixou doidão foi num encontro de colecionadores em Alegrete-RS, marcamos que íamos passar a noite em Rosário do Sul, mais precisamente em Saicã, eu levei dois barris de Chopp, serpentina, gás. Para chegar no destino, enfrentamos a maior lamaceira de areia, estávamos fazendo um rally e não um encontro de colecionadores, chegamos no destino, eu e a motorista. Ela só chorava, fomos recepcionado pelo Neimar (Editora Saicã), e com chuva que Deus mandava, o vivente assou uma ovelha e eu instalei o Chopp. Nesta noite foi bebida, carne e conversa sobre Tex, tinham pards de Santa Catarina, e uns gaúchos. No outro dia, a festa continuava. Íamos para Alegrete, a minha motorista não quis mais dirigir, o Adão assumiu a boleia e fomos, levamos o Chopp, participamos do encontro, ninguém bebeu. Tive várias aventuras, a de Uruguaiana dormi no banco da rodoviária, perdi a hora de voltar pra casa hotel, me trancaram fora. Um fato que não podia deixar de citar em Soledade na mini exposição de Tex, foi uma motociclista que falou: “Meu pai lia muito, achei que nem existia mais.” Tenho planos que em 2023 eu consiga fazer em Tenente Portela –RS a 1ª Exposição de Tex - Minha Jornada. Ideias não faltam, mas vida longa a Tex Willer e a Nona Arte.

Ler Gibi é uma forma de trabalhar a imaginação e o faz de conta! Além disso, para as crianças que ainda não dominam a leitura, a curiosidade em saber o que está escrito dentro dos balões de fala pode ser um estímulo para a leitura. 💬





JORGINHO: Deixe um recado para o leitor do Arte e Cultura

CLAUDERI ROQUE PREUSS: Aos leitores do Arte e Cultura, quero agradecer a todos, sem vocês nada existiria, vocês são os protagonistas desta história, divulgam, incentivam a Nona Arte, juntos deixaremos um legado para gerações futuras. Não tem papel? Semeiem pra germinar grandes árvores do conhecimento. Abraço a todos.



O Clauderi estará presente hoje na live do Cavalgando com Tex, live recheada de brindes para os texianos que estão nos acompanhando.

Para concorrer ao sorteio tem que se inscrever no canal do You Tube do Coletive, dar like na Live e estar atento na nossa programação. 

Para se inscrever no canal, clique AQUI.



Jorginho

Jorginho é Pedagogo, Filósofo, ilustrador com trabalhos publicados no Brasil e exterior, é agitador cultural, um dos membros fundadores do ColetiveArts, editor do site Coletive em Movimento, produtor do podcast Coletive Som - A voz da arte, já foi curador de exposições físicas e virtuais, organizou eventos geeks/nerds, é apaixonado por quadrinhos, literatura, rock n' rol e cinema. É ativista pela Doação de Órgãos e luta contra a Alienação Parental.


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1 Comentários

  1. Baita entrevista pard Preuss. Tem que imprimir e emoldurar. Saudações Texianas.

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