“Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”
Quando Belchior compôs a música Sujeito de Sorte, no ano de 1976, para o álbum Alucinação, trazia consigo a esperança de dias melhores diante de anos difíceis que marcavam a nossa História, em um contexto de opressão à sociedade brasileira.
O autoritarismo da ditadura militar, das décadas de 60/70 no Brasil, encontrou na arte e na cultura suas maiores opositoras. Ainda que sob o crivo da censura, tendo que recorrer a simbologias e signos para conseguir se “infiltrar”, a arte no país rompeu as estruturas estáticas e de sufocamento impostas pelos “donos do poder”.
Hoje, alguns tantos anos depois, nos sentimos fortalecidos na poesia de Belchior. “Tenho sangrado demais / Tenho chorado pra cachorro / Ano passado eu morri / Mas esse ano eu não morro”. Esses versos ressoam quase como um hino para quem tem passado tempos difíceis. Viemos há algum tempo sendo rupturas, nos infiltrando por frestas, rompendo estruturas. Os últimos anos têm sido de resistências pessoais e sociais. Mas, não há mal que perdure e o esperado final do ano chega, com ele a possibilidade de uma “virada”, de um novo ano que estende seu significado para além de uma mudança de data, que amplia nossa concepção de vida e possibilidades, que nos devolve a esperança tão extinguida de nossos dias.
Doeu, sangrou, mas resistimos. Nos reinventamos e (re)existimos de fato. Ainda que a humanidade (da natureza humana e de sentimentos) tenha, por muitas vezes, nos decepcionado, continuamos acreditando que apesar de tudo, amanhã, haveria de ser outro dia, parafraseando outro poeta da música brasileira. E cá, estamos nós. Mais esperançosos do que nunca. Mais democráticos do que nunca. Mais vivos do que nunca.
O choro de um homem diante de seu discurso, agradecendo a ousadia do povo brasileiro por ter acreditado e confiado em alguém sem diploma universitário, por três vezes, diz muito para mim. Fala sobre humanidade, deixada tão de lado em tempos atuais. Fala sobe sensibilidade, dificuldades, discriminações, diferenças sociais...fala sobre esperança. Me faz acreditar que, sim, temos longos caminhos pela frente, mas agora, eles serão um pouco mais sustentáveis, menos dolorosos, mais possíveis de percorrer. Mais democráticos.
Eu sempre acreditei em sonhos e ações. Nos grandes sonhos que motivam pequenas grandes ações. Acredito nas pessoas, no amor e na arte, e em todas as transformações que esses três "elos" são capazes de provocar em nossas vidas. Acredito em asas que nos fazem voar e na luta que nos faz resistir. Acredito em poesia e na música de Belchior. E repetirei, cantando alegremente, nesse ano que se
finda e novo ciclo que se inicia, brindando à vida e às boas escolhas:
"Presentemente, eu posso me
Considerar um sujeito de sorte
Porque apesar de muito moço
Me sinto são, e salvo, e forte
E tenho comigo pensado
Deus é Brasileiro e anda do meu lado
E assim já não posso sofrer
No ano passado
Tenho sangrado demais
Tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri
Mas esse ano eu não morro"
Izabel Cristina |
Izabel Cristina é Licenciada em Teatro, gestora de cultura e Especialista em Acessibilidade Cultural, atriz, dramaturga, diretora e professora de teatro. Desde 2014 coordena o Departamento de Artes Cênicas da SMCEL- Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e lazer de Gravataí/RS
e-mail: teatro.bell@gmail.com
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1 Comentários
"Deus é brasileiro e anda ao meu lado"... isso nos deu forças para prosseguir, andando na corda bomba como um "bêbado e o equilibrista". E tenho orgulho de estar do lado certo da história. Parabéns, Izabel, texto maravilhoso . Bju
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