A IMPORTÂNCIA DOS FANZINES COMO MÍDIA ALTERNATIVA:
O CASO WALMIR AMARAL
A morte de Walmir Amaral, na última quarta-feira (10/01), um dos grandes nomes das histórias em quadrinhos de aventura do Brasil, me fez refletir sobre o papel da chamada "grande imprensa" e das mídias em geral, pois essas, nada ou quase nada destacaram em seus veículos a partida do quadrinista.
Walmir Amaral, nascido em dezembro de 1939, fazia parte de uma elite dos quadrinhos nacionais, ao lado de colegas Flávio Colin, Jayme Cortez, Gutemberg Monteiro, Milton Sardella, Julio Shimamoto, Getulio Delfim, Edmundo Rodrigues, entre outros. Desenhou histórias em quadrinhos de personagens como o Anjo, Zorro, Cavaleiro Negro. Se tornou um dos poucos artistas da América do Sul autorizado a desenhar e criar argumentos para as histórias do Fantasma e do Mandrake, dois personagens mitológicos de Lee Falk. Produziu centenas de capas para publicações da RGE/Globo, onde trabalhou entre os anos de 1950 e 1990 – é dele a capa do “Casamento do Fantasma”, por exemplo. Produzia mais de 100 páginas de quadrinhos port mês.
Walmir e eu trocamos correspondência e mensagens a partir de 2017, quando estava produzindo o número 3 do artezine do Fantasma. Enviou-me algumas artes originais do personagem. Em 2021 me concedeu duas entrevistas: uma para o fanzine tributo ao personagem o Anjo, já publicado em 2022; e outra - inédita, sobre seu trabalho com o Fantasma, a sair esse ano no número 5 do artezine do personagem. Curtam as entrevistas desse verdadeiro ícone das histórias em quadrinhos de aventura a seguir.
ENTREVISTA WALMIR AMARAL - FANZINE MUNDO GIBI –
TRIBUTO AO ANJO ( Abril -2021)
PAULO KOBIELSKI: O Anjo foi um personagem de muito sucesso nas radionovelas entre 1948/1965. Você chegou a ser ouvinte desse programa de rádio na época? Ou teve conhecimento desse sucesso?
WALMIR AMARAL: Sim, claro, como todos os garotos da época (+- de 12 a 16 anos). Era um sucesso na rádio, muito bom mesmo. Mas, além do Anjo, também tinha outros, como: O Jerônimo (na década de 1950), tinha a novela do Sombra e o famoso Capitão Atlas. Era uma época muito boa!!!
PAULO KOBIELSKI: As Aventuras do Anjo migraram para as histórias em quadrinhos em 1959, tendo como primeiro desenhista Flávio Colin. Você o conheceu? Como descreveria esse artista?
WALMIR AMARAL: Sim, não só conheci, como ele se tornou o meu melhor amigo na RGE. Na época, quando ele desenhava o Anjo, eu fazia outros heróis, como: Cavaleiro Negro, Flecha Ligeira e outros cowboys da época. Eu descreveria o Flávio, como o meu mestre, ele me ajudou a descobrir o meu talento; e me ajudou muito na RGE. Foi um dos melhores artistas do Brasil e do mundo. Na época, ele me deu o apelido de Kid Russo (porque eu era um garoto que andava de lambreta e sempre estava metido em confusões). Até hoje, quando eu encontro alguns amigos da época, eles ainda me chamam de Kid.
PAULO KOBIELSKI: Flávio Colin desenhou As Aventuras do Anjo até o número 43 (1963). Como foi sua entrada nessa revista da RGE?
WALMIR AMARAL: Nesta época, o diretor geral era o Djalma Sampaio, e o Flávio foi para a publicidade; então o diretor responsável pela edição da revista, o Wilson Drumond, me escolheu para desenhar o Anjo. Fiquei um pouco sobrecarregado, porque eu já desenhava outros heróis. Mais no final, acabou tudo certo.
PAULO KOBIELSKI: Quando Flávio Colin desenhava o Anjo, recebia os roteiros que vinham da Rádio Nacional – escritos por Péricles do Amaral -, e os adaptava para os quadrinhos. Quando você assumiu o personagem, o processo era o mesmo? Foram difíceis essas adaptações? Se não, como se deu esse processo criativo?
WALMIR AMARAL: Não. Não. Que eu me lembro, os roteiros vinham da rádio, e a RGE tinha um escritor (Ernesto G. Novo) para fazer as histórias dos heróis. Eu também cheguei a fazer algumas histórias.
PAULO KOBIELSKI: Como foi a participação de Juarez Odilon nas histórias do Anjo? Ele também as desenhou, correto?
WALMIR AMARAL: Sim, ele também desenhou, e fez muito bem. Era um bom colega.
PAULO KOBIELSKI: O que mais lhe chamava atenção no Anjo? Poderia descrever as histórias do personagem?
WALMIR AMARAL: O que me chamava a atenção no Anjo, é que ele era um herói brasileiro. Era uma história de sucesso!!! O Anjo junto aos seus parceiros, eram combatentes do mal (ao modo brasileiro), e ao mesmo tempo, eram muito engraçados. Estes personagens deixaram saudades
Muito obrigado pela atenção. Aquele abraço.
Paulo Kobielski – Fanzine Mundo Gibi
ENTREVISTA WALMIR AMARAL PARA ARTZINE FANTASMA 5 (Edição Especial Fanzine Mundo Gibi - Março de 2021)
### Inédita. Ainda não publicada.
PAULO KOBIELSKI: O que o levou a desenhar? Quais foram os artistas que te inspiraram? Tuas referências?
WALMIR AMARAL: Desde criança, sempre fui um leitor assíduo de histórias em quadrinhos. Minha mãe me mandava comprar (toda quinta-feira e todo domingo) a revista GIBI e o GLOBO SEMANAL (um tipo de jornal de quadrinhos, que só vendia aos domingos). De repente, percebi que eu gostava muito de desenhar e que tinha um dom para isto.
Vivia rabiscando os meus cadernos escolares e também em qualquer lugar em que eu pudesse desenhar. Todos gostavam muito dos meus desenhos, e diziam que eu era um artista. Isto me incentivou a ser um desenhista em história em quadrinhos. Os artistas que me inspiravam nesta época, eram: Alex Raymond, John Cullen Murphy, Burne Hogart, Al Capp, Milton Caniff, Hal Foster, e outros. Minhas Referências eram: Alex Raymond e Milton Caniff.
PAULO KOBIELSKI: Quando e como você começou a desenhar profissionalmente? Quais foram seus primeiros trabalhos?
WALMIR AMARAL: Comecei a desenhar profissionalmente aos 17 anos, na RGE. Meus primeiros trabalhos foram completando os quadrinhos americanos. Logo depois comecei a desenhar capas e histórias em quadrinhos. Posteriormente, escrevi e desenhei 10 páginas do Cavaleiro Negro, como deu tudo certo, daí em diante, comecei a desenhar profissionalmente (capas, anúncios, quadrinhos e outros).
PAULO KOBIELSKI: Além da RGE, você trabalhou um período na editora Outubro/Taika. Você saiu da RGE nesse período? Poderia explicar?
WALMIR AMARAL: Eu nunca saí da RGE, lá era o meu carro chefe/porto seguro, foi a minha escola. Naquela época, não trocaria a RGE por nenhuma outra editora. Eu já desenhava: Fantasma, Mandrake, Cavaleiro Negro, Flecha Ligeira e Águia Negra. Também fazia uns desenhos, para algumas editoras de São Paulo, como: outubro, Abril, Taika e outras editoras menores.
Gibi do acervo de Paulo Kobielski,comprado em 1976, quando o mesmo rinha 13 anos. |
PAULO KOBIELSKI: Você foi um dos artistas que mais produziu histórias em quadrinhos no Brasil, entre os anos de 1950/1970. Chegando a produzir mais de 100 páginas por mês. Como era sua rotina de produção nessa época?
WALMIR AMARAL: Minha rotina de produção nesta época, era muito intensa, mais ao mesmo tempo, era muito feliz.Eu tinha uma equipe do Fantasma, com desenhistas novatos e muito talentosos, como : Adauto Silva, Wanderley Mayhé, e o meu grande amigo Milton Sardella. Naquela época, também desenhavam o Fantasma : Júlio Shimamoto e Antonino Homobono.
PAULO KOBIELSKI: Além de desenhar quadrinhos e produzir belíssimas capas, você também escrevia os roteiros das histórias. O que foi mais prazeroso para você? Desenhar ou escrever? Por quê?
WALMIR AMARAL: Ambos, tanto desenhar como criar histórias, me faz muito bem. Eu desenhava, criava os textos e corrigia, tudo ao mesmo tempo.
PAULO KOBIELSKI: Você desenhou muitas histórias e produziu muitas capas do Fantasma, inclusive para a Suécia. Ao que se deve a longevidade desse personagem (mais de 80 anos)? O que mais você gostava no Fantasma?
WALMIR AMARAL: Eu acho que a longevidade do Fantasma se deve, por ele ser um personagem: forte, inteligente, valente e mascarado. Suas histórias atraem os leitores, porque sempre mostram: a floresta, muitos animais, índios, piratas e cenas de lutas/guerras. Ao mesmo tempo, mostra a luta contra os bandidos comuns, na cidade de Nova York. O que eu gosto do Fantasma, é que ele é um personagem forte, misterioso e com muita personalidade; ele combina com todas as épocas. Acho que ele estará sempre em foco.
PAULO KOBIELSKI: Você acha que o Fantasma está fora de moda? Ainda existe lugar para esse herói?
WALMIR AMARAL: É claro que não. Sempre haverá um leitor, se achando um Fantasma também. Sempre existirá um lugar para este herói!!! E tenho certeza de que ele é eterno.
PAULO KOBIELSKI: Costuma ler histórias em quadrinhos nos dias de hoje? O que acha dos quadrinhos atuais?
WALMIR AMARAL: Sim, continuo lendo histórias em quadrinhos. Não sou saudosista; mas acho que os quadrinhos atuais, não tem a magia dos quadrinhos antigos.
PAULO KOBIELSKI: Desde já agradeço sua disponibilidade e atenção.
WALMIR AMARAL: Eu é que agradeço a sua atenção.
A ARTE IMORTAL DE WALMIR AMARAL:
Paulo Kobielski |
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