ISSO DÁ UMA CRÔNICA

 ROUBARAM O PRÍNCIPE 

Ah, não acredito! 

O tom de voz indicava coisa ruim e me fez abandonar a preparação do café da manhã. Saí da cozinha. Larissa estava sentada no sofá, olhando para o celular, consternada. 

— O que foi? 

— Roubaram o Príncipe. 

— Como assim? De dentro de casa? 

— Não, parece que estava brincando na rua com uns amigos. Chegou uma Pampa, desceram dois caras, já com corda e tudo, botaram ele na caçamba e levaram. Os amigos ainda correram atrás... 

— Nossa, seu irmão deve estar arrasado. 

— Ele disse que vai pra delegacia agora. 

Nessa hora já estava circulando pelas redes sociais o vídeo do sequestro. A câmera de segurança da vizinha tinha gravado a cena toda. De péssima qualidade, não dava pra ver nem a placa nem o rosto dos homens. No entanto, foi útil, e se não ajudou para desvendar um crime, ajudou para revelar um mal-entendido 

No fim das contas, tudo ficou esclarecido e nem precisou de delegacia: os dois homens estavam voltando pra casa quando, numa rua afastada do centro, se depararam com um Golden bonitão sem coleira no meio de um monte de vira-lata. Pensaram que tivesse fugido, se perdido, enfim. Um deles, então, resolveu levar pra casa e, uma vez resgatado o cachorro, postar uma foto nas redes sociais para achar o dono. Dito e feito. Mas foi só abrir o Instagram para fazer a postagem, que passou pela timeline dele o vídeo do suposto crime. Levou um baita susto. Por coincidência, quem havia postado era um conhecido dele; mil anos atrás tinham estudado na mesma escola.  

Meia hora depois, meu cunhado estava indo lá. Quando voltou, mandou um áudio pra Larissa: estava tudo bem, já estavam de volta em casa e veja só, no meio dessa aventura toda o Príncipe até arrumou uma namorada. Acontece que o ex-colega da escola também tem uma Golden e já estão fazendo planos para, no próximo cio, cruzar os dois.  

Parece que a família real vai crescer. 


Yvonne Miller
Foto: 
Thaís Vieira


Yvonne Miller é natural de Berlim, mas prefere o calor do Norte e Nordeste brasileiro, onde mora desde 2017. Alemã de nascença, brasileira de alma, apaixonada pela crônica, linguista, admiradora de cactos, geminiana e muitas coisas mais. Tem crônicas e contos publicados em várias antologias e escreve quinzenalmente para a “Rubem – Revista da Crônica”. É uma das organizadoras da coletânea “Quando a Maré Encher” (Mirada, 2021) e autora de “Deus Criou Primeiro um Tatu: Crônicas da Mata” (Aboio, 2022), que reúne 50 crônicas – ora humorísticas, ora reflexivas, poéticas ou políticas – sobre sua convivência com a flora e fauna na Mata Atlântica pernambucana. Atualmente mora na ilha de Algodoal, no Pará, junto com sua esposa, gato e cachorro. Contato: @yvonnemiller_escritora

"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

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