O UNIVERSO CONTA

 

A Melodia do tempo
Parte 1 AQUI
Parte 2 AQUI
Parte 3 AQUI
Parte 4 AQUI
Parte 5 AQUI

Parte 6

Art pareceu não gostar, enquanto ela contava as cenas dos seus sonhos. Seu semblante era triste. Assim que ela terminou, esperava, de alguma forma, que ele lhe dissesse algo, porém ele permaneceu em silêncio.

- Você não irá mais tocar seu violino ? - indagou ela, depois de um tempo em silêncio. - Hoje estou cansado - respondeu colocando o violino no chão - Você mora perto daqui?

- Não, sempre caminho bastante até encontrá-lo.

- E sua família?

A jovem suspirou, olhou para os pés no chão e pensou no que iria dizer. Pensou até em inventar uma história, já tinha até iniciado uma versão em sua cabeça, mas percebeu que Art jamais conheceria eles e, possivelmente, fosse o único amigo o qual a entenderia.

- Eles não sabem que venho aqui. Saio quando tenho certeza de que todos estão dormindo.

- Como eles são?

- Ah… - soltou ela, com um nó na garganta. A pergunta doeu - não são nada parecidos comigo. Minha mãe é manipuladora, meu pai é covarde e meu irmão não tem ambição. Eu… apenas… sobrevivo… Não tenho para onde ir. - Respirou fundo, levantou-se sacudindo a poeira e perguntou - E você? Tem família?

- Tive uma, há muitos anos. Agora sou o único.

- Todos eram árvore?

- Não, já fui humano.

Essa resposta surpreendeu Manuela. Era óbvia, pelo formato dele, mas ainda não tivera a percepção ou ideia de perguntar.

- E como você virou uma árvore? O que aconteceu com a sua família?

- Nenhum deles vive mais… um dia contarei, mas agora precisamos nos despedir. Logo amanhecerá.

A jovem olhou para o céu com tristeza. As horas passaram-se muito rápido e pareciam insuficientes. Despediu-se de Art com muito carinho e curiosidade, o que teria tornado ele imortal para sempre e preso aquela condição?


Enquanto caminhava para casa, sentia um aperto em seu coração. Apressou-se para chegar em casa antes do amanhecer. Chegara próxima a sua janela aberta quando os galos já cantavam para o sol que nascera. Antes que pudesse pular para dentro do quarto, sua mãe abriu a porta abruptamente, flagrando a sua fuga.

- Onde você estava? - bravou ela, com raiva. Certamente confirmara que a jovem não esteve no quarto a noite.

- Estava sem sono…

- Então decidiu sair sem a permissão de ninguém! - interrompeu ela, a pegando pelo braço e arrastando para dentro de casa, em direção ao quarto - eu sabia que tinha algo de errado desde ontem!

Manuela tentou explicar com frases sem nexo, pois estava muito assustada. Conhecia o gênio da mãe, a permissividade do pai e a passividade do irmão.


- Você não tem permissão de sair dessa casa! Irá ficar aqui até quando eu quiser e permitir! - gritou, fechando a janela do quarto e trancando com cadeado. Colocou a chave no bolso.

- Por que você não me deixa sair? Por que não me deixa ter uma vida? Tenho 22 anos e sou a única dos meus antigos colegas a precisar de permissão para viver, invés de receber incentivo dos pais!

- Por que quer sair? Está te faltando água? Comida? Tá passando dificuldades? Você não seria capaz de sobreviver sem mim! É inútil! Vai ser o que da vida? Vender suas ervas na esquina das ruas, como uma vileira?

- Eu preciso viver!

- Já está vivendo! Graças a mim, que não te deixei morrer! Quando engravidei, estávamos passando por muitas dificuldades e eu tive a opção de te matar. Não te matei! Já recebeu muito! Agora vou te avisar novamente, não vai sair dessa casa sem eu saber! Está de castigo nesse quarto, até quando eu achar que deve sair!

A mãe da jovem bateu a porta do quarto levando a chave do cadeado consigo. Manuela estava no chão, aos prantos, sem saber o que poderia fazer para se defender. Ninguém nunca a defendia ou ajudava. Era ela contra sua mãe desde a infância e isso permanecia na vida adulta. Se sentia muito pequena e fraca diante da força e raiva dela. 

Arrastou-se para a cama, depois que reduzira o choro e ali ficou olhando o teto até pegar no sono novamente.

Continua no próximo sábado ...



Miriam Coelho


"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

COLETIVEARTS, 06 ANOS DE VIDA,
CONTANDO HISTÓRIAS, 
CRIANDO MUNDOS!


SIGA-NOS EM NOSSAS REDES SOCIAIS:
Facebook: AQUI Instagram: AQUI YouTube: AQUI Twitter: AQUI
Sempre algo interessante
para contar!

Postar um comentário

0 Comentários