SOLITUDE SERENA
A noite desce suave, como um manto de seda sobre a cidade silenciosa. Ele chega em casa e a porta range levemente ao abrir. O eco dos seus passos é o único som a preencher o vazio do hall. Não há ninguém para recebê-lo com um sorriso, um abraço, uma palavra de carinho. Isso é normal, ele pensa, enquanto deposita as chaves na mesinha da entrada.
A casa está imersa numa tranquilidade quase etérea. Ele acende uma luz suave na sala e dirige-se à cozinha. Abre uma garrafa de vinho tinto, sentindo o aroma frutado que invade o ambiente. O líquido rubro dança ao cair na taça, refletindo as luzes tênues como pequenas estrelas em um céu privado. Ele se senta à mesa, a cadeira ao seu lado permanece vazia. Isso é normal, ele repete para si mesmo, sentindo um misto de aceitação e melancolia.
A escuridão lá fora contrasta com a luz cálida e acolhedora da sua casa, um refúgio de serenidade em meio à vastidão da noite. Ele olha ao redor, observando cada detalhe do seu lar, cada objeto cuidadosamente escolhido que reflete sua essência. Há uma beleza sutil na solitude, uma paz que só quem aprendeu a conviver consigo mesmo pode compreender.
O vinho desce suave pela garganta, aquecendo seu corpo e alma. Ele reflete sobre o amor, esse sentimento tão desejado e, ao mesmo tempo, tão complexo.
Contudo, há uma dualidade constante em seu coração. Acordar ao lado do amor da sua vida é uma visão que o encanta. Acordar com um sussurro suave, com um abraço caloroso que o envolve em sonhos e promessas. Isso é divino, ele reconhece. O amor tem a capacidade de transformar o ordinário em extraordinário, de colorir os dias com nuances de alegria e cumplicidade.
Mas o preço da liberdade é a solidão, uma companhia constante em sua jornada. A solidão, muitas vezes, o acompanha como uma sombra fiel. Ela o conhece melhor do que ninguém, compreende seus silêncios, respeita seus espaços. A liberdade, por sua vez, é um bem precioso, conquistado a duras penas. É um voo solitário em um céu vasto e sem limites.
Ele olha pela janela, contemplando as estrelas que brilham distantes, cada uma carregando seu próprio brilho, sua própria solidão. E então, ele entende que, embora a solidão seja a companheira da liberdade, ela também é uma oportunidade de auto conhecimento, de fortalecimento interior. É na solidão que ele encontra sua verdadeira essência, que ele descobre a força que reside em seu coração.
Assim, ele ergue sua taça em um brinde silencioso à liberdade, à solidão. O vinho desce suave, aquecendo sua alma, enquanto ele sorri para a cadeira vazia ao seu lado. Isso é normal, ele pensa, e nessa normalidade, encontra a poesia de sua própria existência.
Na quietude da noite, ele aceita sua realidade com gratidão. Cada momento, cada suspiro, cada pensamento é uma prova de que a vida é bela, mesmo na ausência de uma companhia. E assim, ele continua a escrever sua própria história, uma narrativa rica e detalhada de auto amor e auto descobrimento, onde o protagonista é ele, forte e sereno, em busca de si mesmo.
Texto: Leonardo Pacheco |
Arte: D'Anjo |
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