UM POUCO DE HISTÓRIA

 Uma Vida Contemplativa

Estava eu, despreocupadamente, andando pelado numa praia deserta. O mar verde clarinho, ondas quebrando de mansinho na areia fininha e fofa, onde meus pés afundavam suavemente, deixando uma indelével marca na minha memória a cada passo dado naquele paraíso, enquanto o sol aquecia as minhas partes e a cálida brisa da manhã de verão vinha soprar os meus pelos pubianos, estes olhos se deleitavam em êxtase, apreciando cada detalhe idílico daquela paisagem. A conchinhas brilhando ao sol, os morros no horizonte, as árvores frondosas, coqueiros imensos, querendo tocar os céus, a vegetação rasteira, com grossas folhas, ramos e flores se envolvendo num gracioso balé sobre a areia branca das dunas. Tudo era lindo e maravilhoso ao som dos pássaros e das ondas lambendo sem pudor a areia da praia que gemia baixinho, prazerosamente emitindo o seu xiiiiiiiiiiiii . Parecia que eu havia morrido e voltado ao Eden, longe de todos e longe da política, até que, mais adiante, cravada na duna, uma imensa placa de metal anunciava: “Breve aqui, mais um empreendimento Hilton Hotéis”.

A política, que alguns estufam o peito ao dizerem que odeiam, faz parte das nossas vidas. Mesmo andando nu, numa praia deserta, a política está presente.

- E se eu estiver numa ilha? Só eu e a natureza, sem ninguém para interagir politicamente?

Mesmo assim, cada vez que uma maldita garrafa pet chegar, trazida pela maré, receberás as consequências da política adotada em outra parte do mundo referente a produção de lixo não biodegradável. Hoje, cada vez mais, podemos dizer que ninguém está isolado neste mundo. Estamos todos sofrendo as consequências das políticas que refletem o descaso com os avisos dos cientistas sobre a rápida degradação das condições de vida no nosso planeta resultado de uma política de industrialização que visa o lucro imediato, a qualquer preço, mesmo que o preço seja a vida na nossa nave mãe (estão aí as queimadas que não me deixam mentir sozinho).

Meu amigo, tudo isto é política. Aliás, a palavra “política” tem origem grega e vem da palavra “pólis”, que significa comunidade, cidade, portanto política é a relação que as pessoas têm na pólis. Neste embalo, outra palavra surge na roda: democracia, que também é de origem grega (talvez isto explique porque alguns não entenderam o que é democracia: “é coisa de grego!”). O interessante sobre a democracia é que não basta saber sua origem etimológica, é preciso conhecer a sua origem histórica. “Demo”, ao contrário do que alguns pensam, não é demônio, mas povo, em grego, e “cracia” é governo, portanto “governo do povo”. Entretanto a origem histórica da democracia não é tão democrática assim. Criada em Atenas, só os homens atenienses livres eram cidadãos e podiam participar das assembleias onde se decidiam os rumos políticos de Atenas. Dito em outros termos: uma minoria tinha o poder democrático enquanto a imensa maioria, composta por mulheres, escravos e homens estrangeiros, está fora, excluída da democracia na sociedade escravista ateniense. Hoje, ao discutirmos a ampliação da cidadania através da inclusão de tantos, estamos ampliando o conceito de democracia. Afinal, é possível aceitarmos uma sociedade desigual ao extremo, como a nossa, ser chamada de democrática? Enfim, na sua origem, democracia e igualdade social não são a mesma coisa. Estão aí os partidos de direita que se dizem democratas para comprovar. Cabe a nós, que lutamos por uma sociedade justa não só no discurso, mas na igualdade social, ampliar cada vez mais o conceito de democracia.

As eleições, mesmo sendo municipais, passam pela política no seu sentido mais amplo. É na cidade que se constrói caminhos para uma vida melhor para todos. Educação, saúde, emprego, uma vida digna, tudo isto passa pela escolha de projetos políticos para a cidade onde vivemos e construímos relações afetivas, que também são políticas. Eleger quem ocupará o cargo de prefeito não é simplesmente escolher alguém qualquer, mas a pessoa que representa um projeto de vida para os moradores da nossa cidade. A escolha de uma pessoa para ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores passa pela mesma lógica: quem eu votarei será o meu representante, seus projetos políticos me representam, sua história de vida me traz confiança de ser a melhor escolha para a minha vida e a vida da minha comunidade.

Obs.: quero agradecer ao amigo e compadre Renato Guimarães, que um dia me disse: “começa o teu texto com ‘estava  eu andando pelado na beira da praia’, assim vais chamar a atenção de mais leitores’. Acho que deu certo, não é mesmo?



NESTOR OURIQUE MEDEIROS


"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

COLETIVEARTS, 06 ANOS DE VIDA,
CONTANDO HISTÓRIAS, 
CRIANDO MUNDOS!
"O COLETIVE TAMBÉM ESTAVA
ANDANDO PELADO NA
BEIRA DA PRAIA..."

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