PAULO MAFFIA, uma jornada
dedicada aos quadrinhos

Não existe no mundo geek/nerd quem não tenha ouvido falar de Paulo Maffia, um nome que esteve presente no mundo trekker (vida longa e próspera, eu também sou um fã de Star Trek), que marcou a vida dos leitores trabalhando na Editora Abril e recentemente na Culturama, cuidando dos tão amados quadrinhos Disney.
Paulo sempre pontuou a sua trajetória com um cuidado mais que especial em relação aos produtos com os quais trabalhava. Como fã de quadrinhos que ele é, sempre pensou em trazer o melhor para o leitor e da melhor maneira o possível. Sempre fui um grande admirador de seu trabalho e tive agora a oportunidade de entrevistar esse grande profissional, confiram como foi.
PAULO MAFFIA

JORGINHO: Quem é o Paulo? Como você se identifica?
PAULO MAFFIA: Sou o Paulo, jornalista com mais de 30 anos de experiência no mercado editorial. Trabalhei 23 anos na Editora Abril, onde fui editor e tive a oportunidade de cuidar de muita coisa legal, como as revistas e livros Disney, álbuns de figurinhas e outros sucessos como Cartoon Network e Simpsons, além dos clássicos Marvel, DC Comics e outras. Depois dessa longa jornada, a convite da própria Disney, fui o responsável por levar as publicações Disney para a Editora Culturama, onde liderei um projeto que impulsionou bastante essa linha de produtos. Lá também participei da criação das áreas de livros de romance, ficção científica e universo Geek.

JORGINHO: Como começou a sua paixão pelos quadrinhos? Quais as HQs que mais te marcaram na infância?
PAULO MAFFIA: Meu interesse por quadrinhos pintou de um jeito meio inesperado, quando eu estudava no Liceu Pasteur, aqui em São Paulo. Tinha que cumprir umas horas de leitura na biblioteca em francês, e foi lá que eu descobri Asterix. Ler aquela coleção em francês me marcou muito e acendeu essa paixão. Depois, claro, segui a onda dos anos 80, com Disney, Turma da Mônica, super-heróis, até começar a curtir ficção científica.

JORGINHO: Como começou a sua jornada no mundo editorial?
PAULO MAFFIA: Desde moleque, eu já curtia ficção científica e quadrinhos, influência total do meu pai. Em 1993, na faculdade de jornalismo, já sabia o que queria: cultura pop, ou nerd, como preferirem. Quadrinhos, cinema, música e Star Trek eram a minha praia. Só tinha um "detalhe": esse mercado quase não existia! Era bem diferente do universo Marvel/Jovem Nerd de hoje. E aí? A gente foi inventar moda.
Nessa época, comecei a frequentar as convenções da Frota Estelar Brasil em São Paulo. Com uns amigos, tivemos a ideia de fazer um fanzine, mas o clube não topou. A gente não se abateu e botou pra fazer: nasceu o "Trekker Report"! Modéstia à parte, o "Trekker Report" fez um barulho! Como a internet ainda era coisa de outro mundo, a gente importava revistas, lia tudo com lupa e criava nossas matérias em cima disso. Era quase uma arqueologia pop para trazer as novidades para os leitores. Na base da tesoura, papel, Xerox e cola, a gente criava cada edição. E pra nossa surpresa, virou um sucesso underground entre a galera nerd, distribuído primeiro nas bancas de São Paulo e, rapidinho, ganhando o Brasil todo.
O sucesso do "Trekker Report" me jogou para as páginas de jornais como O Estado de S. Paulo e A Tribuna, e revistas como Recreio, Set e Contigo. Em 1995, recebi um convite para o primeiro (e até agora único) emprego com carteira assinada no universo nerd: a redação de quadrinhos de super-heróis da Editora Abril.
.jpeg)
JORGINHO: Como foi trabalhar na Editora Abril?
PAULO MAFFIA: Em 1º de março de 1995, um garoto cheio de sonhos botou o pé na Editora Abril Jovem, sem imaginar a baita aventura que viria pela frente.
Tive a sorte de trabalhar na lendária Redação de Super-heróis da Editora Abril no auge, e com as licenças que marcaram minha infância e adolescência: Marvel, DC, Disney, Star Wars... cada uma delas me ensinou um monte, e espero ter passado um pouco dessa magia para vocês através do meu trabalho.
Foram muitas noites viradas, desafios e momentos de pura alegria. Mas o que sempre me moveu foi a paixão por contar histórias, criar mundos e conectar pessoas através da arte.
.jpeg)

JORGINHO: Fale para o leitor da sua experiência internacional que é riquíssima, dos ícones que encontrou pelo caminho, das coisas interessantes que viveu.
PAULO MAFFIA: Minha jornada também rendeu boas histórias lá fora, desde cobrir a estreia de "Star Wars: Episódio 1" em Nova York, em 1999, até representar a Editora Abril na Comic-Con de San Diego por duas vezes. Cada momento, uma história daquelas!
Em 1997, embarquei numa aventura que parecia tirada de um gibi: minha primeira viagem internacional, primeiro voo e, claro, minha estreia na San Diego Comic Con. Era tanta primeira vez que eu merecia um troféu por cada uma. Naquela época, a Comic Con era mais tranquila, quase formal: editores, gráficas, executivos com pastas e planilhas. Mas bastava chegar a sexta-feira e parecia que alguém ligava um interruptor secreto — e BUM, o multiverso nerd tomava conta com sua energia caótica e maravilhosa.
Logo no primeiro dia, uma cena de "juro que aconteceu, mas ninguém vai acreditar": ouço alguém gritando “Bete! Bete!”, e era ninguém menos que Will Eisner acenando para a minha chefe, Elizabeth di Fiori. Poucos minutos depois, estávamos tomando um chá com o lendário criador de The Spirit. E o papo? Nada de quadrinhos — era sobre o Brasil. Eisner amava o país, a ponto de corrigir jornalistas americanos quando falavam besteira sobre a gente. Um verdadeiro justiceiro editorial.
Mas o momento mais bizarro foi com Peter David, roteirista famoso do Hulk. A gente se encontrou numa área restrita da convenção e, pra nossa surpresa, ele estava sem crachá e sem nenhum documento que provasse quem ele era. Segurança nos EUA não é brincadeira, e o cara que escrevia sobre super-heróis quase ficou barrado na porta.
Diante da confusão, a gente improvisou: nomeamos Peter David como funcionário honorário da Editora Abril. Preenchemos um crachá, colocamos o logo da editora e pronto — por algumas horas gloriosas, ele foi "da casa". Andava com a gente pelos corredores, sorria para as fotos como se fosse o novo contratado do mês. A gente ria da situação ali mesmo, e eu continuo rindo até hoje.
E o final digno de fanfic: pego o ônibus pro hotel e dou de cara com Stan Lee sentado do meu lado. Sim, O Stan Lee. E pra completar, John Romita Sr. também estava lá. Tive a sorte de pegar uma edição do Homem-Aranha na mochila e pedir autógrafos. Uma preciosidade que, infelizmente, se perdeu.
Em 1999, como "comandante" da redação de uma das primeiras revistas de cultura pop do Brasil, vivi um período agitado com a chegada de "Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma". Pra diferenciar a revista das outras publicações, a decisão foi me mandar para Nova York, onde ia rolar a estreia do filme.
Mesmo com a dificuldade de conseguir ingressos para a noite de estreia, consegui acompanhar as primeiras sessões do filme, que começaram cedo e durariam 24 horas. O famoso Ziegfeld Theatre, um cinema de tela única na 141 West 54th Street, no coração de Manhattan, virou um ponto de encontro para os fãs da saga. Cobrimos as filas gigantes na porta do cinema, com gente vestida a caráter, mostrando toda a emoção do evento.
No entanto, num momento crucial da exibição, o projetor do Ziegfeld Theatre deu pane, por causa da maratona de 24 horas de sessões. O público ficou apreensivo. Milagrosamente, o projetor voltou a funcionar, e pude ver o filme até o fim. Quando os primeiros créditos começaram a subir na tela, senti um misto de alívio e decepção. Alívio por ter conseguido registrar o momento histórico, mas decepção porque o filme, infelizmente, não foi o que a gente esperava.
.jpeg)
JORGINHO: Como foi a sua jornada à frente da Culturama?
PAULO MAFFIA: Quando a Abril decidiu não continuar com a Disney, a redação fechou e fomos todos desligados. Na época, a própria Disney sugeriu meu nome para ajudar a levar suas publicações para a Editora Culturama.
Recentemente terminei minha passagem pela Culturama, onde fui Editor-chefe nos últimos seis anos. Foi um período de muito aprendizado, crescimento e conquistas, principalmente no planejamento editorial, na produção de conteúdo multimídia e na liderança de equipes. Tenho muito orgulho de ter ajudado a fortalecer a empresa no mercado.
.jpeg)
JORGINHO: Como você analisa o futuro das publicações Disney no Brasil?
PAULO MAFFIA: Vejo com otimismo e confiança. A equipe editorial da Culturama é uma das mais competentes e preparadas com quem já trabalhei. Tenho certeza que eles vão continuar o trabalho incrível com as publicações Disney.
.jpeg)
JORGINHO: Quais os seus projetos para o futuro?
PAULO MAFFIA: Agora, estou buscando novas oportunidades no mercado, onde possa usar meus 30 anos de experiência e agregar valor a projetos bacanas.
![]() |
Paulo Maffia e Eduardo Bueno no lançamento de Zé Carioca conta a história do Brasil |
JORGINHO: Deixe a sua mensagem para o leitor do Arte e Cultura.
PAULO MAFFIA: Agradeço de coração a cada um de vocês que me acompanhou nessa jornada. Seus comentários, apoio e carinho me deram muita força para seguir em frente.
Que venham mais 30 anos de aventuras, super-heróis e muita cultura pop!

Facebook AQUI
Insta AQUI
![]() | |
|
1 Comentários
Ótima entrevista, Jorginho. O Maffia é um nome muito conhecido por quem curte quadrinhos e cultura pop. E ele teve experiências de nos deixar com muita inveja. Conhecer no mesmo é evento o Will Eisner e o Stan Lee não é para qualquer um!
ResponderExcluir