BAIXA AUDIÇÃO, O QUE ISSO SIGNIFICA?
No mês de setembro, quando comemoramos o Setembro Surdo, venho questionar o lugar que a pessoa de baixa audição tem na nossa sociedade.
Até pouco tempo eram poucas as notícias, informes e lutas pela comunidade surda. Eu tive uma tia surda e nos comunicávamos com ela por mímicas adequadas para nosso entendimento. Nada a ver com a língua de sinais (LIBRAS), segunda língua oficial do país. Minha tia teve três filhas que se comunicavam com ela do mesmo jeito e assim íamos levando. Hoje temos uma incessante luta pela divulgação e aprendizado de LIBRAS. A comunidade surda está se posicionando de forma a ocupar o espaço que lhe é devido na sociedade e é nosso dever caminharmos lado a lado, aprendendo o idioma, divulgando os direitos dos surdos e exigindo que sejam respeitados como cidadãos que são. E, embora muito lentamente, isso está se desenhando.
Eu curso Libras com o intuito de conhecimento e para que, ao encontrar um surdo no meu caminho, não fique com “cara de boba” porque não o entendo e não me faço entender. Para quem acha que isso é bobagem, sugiro que assista ao vídeo “E se o mundo fosse surdo?”, que está no YouTube, dura apenas 54 segundos, mas é um grande vídeo. Faz pensar...
Esta semana uma amiga me fez pensar em outra comunidade, a das pessoas de baixa audição. Não podem se incluir na comunidade ouvinte nem na comunidade surda, parece que fica no limbo entre as duas e isso me parece ainda mais cruel. Ela ouve, sim, ouve com o auxílio de aparelho que fica preso ao seu ouvido disputando espaço com a haste do óculos, fazendo mais uma “casinha” atrás da orelha. Para quem usa óculos ou até uma tiara sabe como incomoda qualquer objeto apertando atrás da orelha, imagina dois.
Os aparelhos auditivos, até mesmo os mais modernos, não oferecem uma audição limpa como a que nosso ouvido nos permite. O aparelho é uma máquina e não é capaz de filtrar sons. “O aparelho auditivo é um amplificador de sons, então gritar perto de mim é tortura...” – disse ela, cansada de explicar porque está pedindo que as pessoas baixem o tom de voz. “As pessoas têm que entender que aparelho auditivo é um apoio para a gente conseguir viver melhor, mas não “conserta” nossa audição... Se falar rápido, ou tiver muito barulho no ambiente, o aparelho não faz milagre, porque o cérebro fica confuso.” Pelo que entendi, uma profusão de sons pode ocasionar desconforto, dor de cabeça e até náuseas. “E tem gente que acha que é frescura.” – lamenta minha amiga.
Já a vi mais de uma vez pedir ao interlocutor que repita o que disse olhando para ela, que tire a mão da boca para falar... - “Instintivamente a gente vai passando a olhar para os lábios e expressões das pessoas para ajudar a entender, então falar de costas ou com a mão na boca é inútil comigo.”
Quando estamos conversando ou até mesmo estamos perto de pessoas com aparelho auditivo temos que ter o cuidado de não agredi-lo. E agressão física, para eles, pode ser um grito de alegria, palmas desvairadas, instrumentos de percussão muito perto, muita gente falando ao mesmo tempo, um querendo falar mais alto que o outro...
Parece bobo para ti? Sorte tua que tua audição está perfeita, senão estarias engrossando esta pequena comunidade que não está incluída nos ouvintes nem nos surdos e, muitas vezes, se sente à margem para reclamar ou pedir o direito que na verdade tem. Inclusive a comunidade surda acusa de “traidores” os surdos que recorrem ao implante coclear (dispositivo eletrônico em prótese implantável que estimula o nervo auditivo através de impulsos usado em casos de surdez severa ou profunda que não respondem a aparelhos auditivos convencionais) em detrimento a LIBRAS.
Se teu amigo usa aparelho, pergunta a ele como é viver com um zumbido, um fantasma de som que se perpetua como forma do cérebro compensar a falta de audição. Pergunta como é não entender quando falamos alto demais... Se teu amigo tem baixa audição, cuida para que as pessoas o respeitem, insiste para que falem em tom aceitável e que façam comemorações civilizadas, nada de gritos, por favor.
Esse texto é minha forma de dizer aos meus dois amigos que usam aparelho auditivo que eu os amo muito e que podem contar comigo nessa luta que as vezes é silenciosa e as vezes é tão barulhenta.
Estamos no mês de setembro onde comemoramos o SETEMBRO SURDO, mas que este mês seja também para reflexão das nossas atitudes diante das pessoas com baixa audição e usuárias de aparelho auditivo.
Olhar para o outro é um ato de amor.
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Isab-El Cristina |
EM SUA SOPA, EU SOU A MOSCA
NO SEU PRATO A
ZUMBIZAR!
2 Comentários
Muito oportuna a mensagem Obrigado. Nestor.
ResponderExcluirOi, sou a Isab. Obrigada, Nestor, pelo retorno.
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