TECITURA

 

Das coisas boas da vida

Sábado, 09/10/2021, fui conhecer a Feira de Rua que ocorre na Rua Pedro Vargas, em Gravataí/RS, no entorno da Escola Clotilde Rosa, convidado pelos queridos amigos do Clube Literário, Srs. Borges Netto e Círio de Melo. 


Uma surpresa agradável! Que feirinha simpática, acolhedora. Brechós, vendas de 
produtos, roupas novas, artesanato variado, delícias para comer, livros! Ah, tinha livros, Círio de Melo e Borges Neto expondo seus acervos, Borges com um sebo muito bom, apresentando além de seus próprios trabalhos, uma boa seleção de livros usados. Balzac, Kundera, Kiefer, Jorge Amado … tinha para todos os gostos, com preços atraentes. Eu comprei dois para enriquecer meu acervo: Risíveis Amores, de Milan Kundera e O Pêndulo do Relógio, de Charles Kiefer, e fui presenteado com um livro do Sr. Borges, intitulado Das Coisas de Pouca Importância, um livro de crônicas, com certeza vai proporcionar ótima leitura. Volto a ele mais adiante, pois há uma crônica deste livro à qual Borges Netto discorreu maravilhosamente, contando a história por trás dela.

Fiquei encantado com a informalidade, a amizade, a boa vizinhança, o encontro 
presencial! Em uma das barracas de vendas, uma simpática vendedora apresentou seus produtos. Almofadas, proteção para a cervical e produtos relacionados, que contém internamente ervas aromáticas, chás e produtos fitoterápicos que, ao se esquentar em forno microondas, produzem efeitos medicinais, curativos e relaxantes. Medicina Alternativa! Que feirinha interessante!




Fui apresentado à idealizadora do projeto, Letícia Martins. Ela e seu pai são donos de uma floricultura muito bonita que funciona na frente de sua casa e, a cerca de um ano, tiveram a ideia de mobilizar a vizinhança, começando a Feira de Rua, atraindo pequenos empreendedores ao evento, realizado sempre no segundo sábado de cada mês, das 9hs às 17hs. Letícia contou-me do funcionamento da feira e do engajamento dos envolvidos, que contém um troca-troca literário, sendo de sua responsabilidade a triagem dos livros recebidos, sobre os custos para divulgação que ocorrem por carro de som e são impulsionados pelas redes sociais dela, de amigos/as e demais envolvidos, podendo ser acompanhada via Instagram: feira_derua. Movimento aumentando devido aos protocolos sanitários atuais, cheguei ao local às 15hs45min, ficando até o final, 17hs, com movimento. Não fosse pelo horário final estabelecido, havia movimento de pessoas pela rua para seguir a Feira por horário indeterminado!

Letícia Martins

Um passeio maravilhoso, bati fotos e conversei com os feirantes, ouvi diversos 
relatos, todos e todas muito simpáticos, empolgados, boas histórias! Conversei com uma vendedora em frente a uma das casas da rua, ocupando os espaços da calçada e de dentro da casa, da garagem e pátio frontal, e que me disse não morar ali, a casa pertencia a sua irmã, que estava na praia, mas deixou-a responsável pelo local para participar da feira. À sua frente, uma empreendedora da cidade que possui loja física e faz vendas via internet, estava ali expondo e vendendo seus produtos, roupas femininas de muito bom gosto, perceptivelmente descontraída e contente pelo local. É isso! As pessoas não estavam só ali expondo seus produtos, vendendo, empreendendo. Estavam ali se divertindo, estabelecendo novas conexões e relações, fazendo amizades. Cada cliente ou possível cliente que ali passava virava um amigo, as conversas fluíam … as pessoas estão carentes deste contato, das presenças. É um evento para o bairro; mais que uma relação comercial, eu vi como algo que agrega, produz significado, estabelece amizades e relações, novos conhecimentos.

E as crônicas de Borges Netto. Bom, Borges Netto e Círio de Melo são pessoas agradáveis! Conversar com eles só faz somar, a cultura envolvida nos diálogos estabelecidos com pessoas de tamanha cultura é um deleite. Círio de Melo teceu comentários importantes sobre a poesia e a declamação, sendo ele um ótimo escritor, excelente poeta e declamador. Comentários sobre os perigos envolvendo a declamação de obras de terceiros e a importância de respeitar as leis sobre o tema, ao final conta histórias sobre esta rua, Pedro Vargas, e seus moradores, já que ele mora nela há quase 50 anos. Conversa muito agradável! Borges Netto foi quem me recepcionou e fez as apresentações necessárias, falando com muito carinho sobre a iniciativa destes moradores e a beleza envolvida naquela pequena rua, quase uma travessa. Falou-me de suas viagens, suas pesquisas, seus livros, projetos futuros, e do Mestre em Literatura Eduardo Jablonski, sobre o quanto este tem ajudado com sua qualidade e profissionalismo. Presenteou-me com o livro Das Coisas de Pouca Importância, e falou em especial de uma crônica deste, intitulada Dos restos mortais do Imperador D. Pedro I, página 122. A história por trás deste texto é maravilhosa! A crônica em si é curta, uma página; a pesquisa envolvida para dar vida a esta crônica é digna de um filme! Surgiu de uma visita anos atrás ao Rio de Janeiro e à cidade imperial de Petrópolis. Ao alugar uma carruagem para passar pelos pontos históricos, o Sr. Borges estabelece um diálogo com o condutor e guia chamado Armando, e pergunta sobre os restos mortais de Dom Pedro I, ao que Armando disse não saber, que provavelmente estaria na Europa após Dom Pedro I ir para lá, então transformado em Dom Pedro IV. Borges Netto não se deu por vencido e partiu para as pesquisas históricas, descobrindo nos livros de Octávio Tarquínio de Souza a informação correta, de que o corpo de Dom Pedro I fora repatriado no ano de 1970, e que a cripta de Dom Pedro I está no ponto exato onde deu o Grito do Ipiranga. A beleza desta crônica está na autenticidade, no trabalho de pesquisa, em um lapso temporal de cinco anos, período compreendido entre o primeiro contato com Armando, levantando a questão dos restos mortais do Imperador até o retorno de Borges Netto e o segundo contato com o guia. Trazer esta exatidão a um texto de uma página é um compromisso consigo e com seus leitores, tal atitude traz um respeito do escritor com seu público e a todos que porventura se depararem com tal obra. Este é Borges Netto, dono de um estilo que engloba muita qualidade, autenticidade e respeito com o leitor, proporcionando através da literatura um contato tão próximo com a história e os fatos históricos, em compromisso sempre com a verdade.



Que sábado enriquecedor! Como não aprender, evoluir com tanta energia boa, conversando com pessoas dessa qualidade, testemunhando uma iniciativa entre amigos e vizinhos que só vêm a somar, a agregar. Boa sorte, Letícia Martins, parabéns pela iniciativa. Parabenizo também aos amigos do Clube Literário, além de Borges Netto e Círio de Mello, Ângela Xavier e Cláudio Wurlitzer estiveram por lá hoje. Sigam pelo Instagram @feira_derua, acompanhem as atualizações se puderem, vamos prestigiar a estas tão boas ações!




Sandro Ferreira GomesProfessor de Língua Portuguesa, Conselheiro Municipal de Políticas Culturais em Gravataí/RS, Servidor Público, Porto Alegrense, admirador das belas artes, do texto bem escrito e das variedades de pensamento.







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para contar!

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9 Comentários

  1. Estive na feira e também fiquei impressionada com a iniciativa. Um espaço acolhedor e necessário.
    Parabéns pelo texto!
    Sempre impecável!
    Abraço,Sandro!

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  2. Obrigado, Ângela! Fiquei impressionado. Ótima iniciativa!

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  3. Que linda essa feira, o nome dessa rua me lembrou o nome de outra rua no morungava, mas são bem diferentes. Por mais feiras de rua como essa.

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  4. Faz tempo que não vou a uma feira de rua. Nem no Brique da Redenção eu fui e faz quase um ano

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  5. Sigam pelo Instagram, feira_derua , hoje houve atualização. Vale a pena conhecer, há oportunidades também para quem deseja expor seu trabalho e produtos. Esta iniciativa merece reverberar, crescer ... por mais Feiras assim, que seja a semente de mais iniciativas iguais. Sonho com um futuro possível ... imaginem uma Notting Hill por aqui? kkkkkkk

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  6. Linda a feira, adoro ir expor, tempo passa rápido de tão bom que é! 😆

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    1. Fiquei quase uma hora e meia e pareceu quinze minutos, pois estava realmente muito bom!

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  7. Pessoas conhecidas, amigas, descritas em uma bela crônica, sobre um lugar que desconheço. Ainda!

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    1. todo mês tem! só segui-los no Insta ... a feirinha é encantadora!

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