Conversas e Pradarias
COMO NÃO GOSTAR DE TEX?
Mas longe das telas, numa linguagem gráfica já consagrada entre os fãs, mas com restrições da dita “cultura séria” e duas décadas antes do sucesso dos “spaghetti westerns”, outros jovens italianos adoradores da mitologia do faroeste, mesmo sem nunca terem colocado os pés em território norte-americano, começaram a saga de Tex Willer que se tornaria um ícone do gênero nas histórias em quadrinhos. Em 1948 Giovanni Luigi Boneli e Aurelio Gallepini publicaram a sua primeira parceria de uma bela longevidade. De início no formato de tiras com no máximo três quadrinhos e publicada semanalmente num “gibi” de 32 páginas. O resto é uma história de sucesso mundial que já dura 74 anos.
Em meu primeiro contato com uma revista do Tex, eu tinha dez anos de idade e encontrei na casa de um primo uma edição de 1973 da editora Vecchi. Sei bem esse detalhe porque o meu primo me presenteou com a revista, tal a admiração que demonstrei pela qualidade dos desenhos em P&B e da história. Durante muitos e muitos anos a mantive como uma relíquia.
Ao longo da minha vida minha paixão pelos quadrinhos se desenvolveu passando pelas histórias do Pato Donald e do Tio Patinhas de Carl Barks, pela Mônica do Maurício de Souza, pelo Homem Aranha do Stan Lee e Steven Ditko, pelo Batman do Dennis O’Neil e Neal Adams, pelo Asterix do Goscinny e do Uderzo, pelo The Spirit do Will Eisner, até chegar nas graphic novels da década de 80 e no “Watchmen” do Alan Moore e Brian Gibson e no “Sandman” do Neil Gaiman. Em meio a isso tudo teve o descobrimento de quadrinhos europeus de Valerian à Tenente Blueberry e tantos outros.
Mas mesmo em meio a tantas descobertas, nunca deixei de acompanhar as aventuras do Tex Willer.
Já bem adulto e ainda fã de quadrinhos, me perguntei do porque ainda gosto dessas histórias do Tex e surgiu disso essa reflexão em forma de questões:
- Como não gostar de um personagem que se move pela integridade de caráter e um senso de justiça e honradez?
- Como não gostar de um homem do velho oeste, que não só respeita os nativos norte-americanos como se integra à cultura de vida da tribo navajo, onde é respeitado e chamado de “Águia da Noite”? E ainda contrai matrimônio como um mulher indígena e tem um filho com ela?
- Como não gostar de histórias que mesclam ação e aventura, sem esquecer toques de humor?
- Como não gostar de histórias que passam por outros desenhistas e roteiristas, trazendo novidades ao leitor fiel, sem nunca perder a essência dos personagens?
- Como não gostar de histórias que tem ótimos personagens coadjuvantes como Kit Carson, o fiel parceiro que motiva as principais tiradas de humor?
Foi nesse momento que formulei pela primeira vez a questão: todas as pessoas de bem, que cultivam valores humanistas e gostam de quadrinhos, já leram alguma vez Tex e em sua imensa maioria, se tornaram fãs.
Afinal, como não gostar de Tex?
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João Luiz Martinez, Porto Alegre, RS, Brasil |
Adão Avila e Tex
É pouco para lembrar do seu amor
Mesmo se tivesse mais tempo
Não seria suficiente para aplacar essa dor
Dor que aperta o peito
Que sufoca, quase até desmaiar
Como é difícil
Como é difícil saber que não vai voltar
Seria pedir demais.
… mais um afago seu
… mais um sorriso encantador
… mais um olhar apaixonado
... mais um beijo de amor
Lembrar dos nossos momentos
Dos vastos campos e planícies
Cânions e trilhas cavalgadas sem demora
Banhos em riachos
Carinhos a luz do luar
Mas nas pradarias celestes
É onde estás agora
Muitas vezes me questionam
Porque enfrento os perigos com ousadia
Se não tenho medo de morrer
Se quero mesmo me matar
Mas não sabem eles
Que meu único desejo
É poder em seus braços novamente estar
Lylith assim chamada
Um presente nos deixou
Lírio Branco para os navajos
Como um uivo o vento levou
Meu amor, sim meu amor
A saudade aqui ficou.
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Zeca, Portugal (segurando arte de Laura Zuccheri |
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Ceroni e Rita, Bahia, Brasil |
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Arte: Leandro Dóro |
o escritor Gian Luigi Bonelli com muita inspiração.
Criou um herói em quadrinhos, valente, forte e durão.
De um personagem desacreditado,
virou um herói aclamado,
hoje já um setentão.
Esse mocinho é Tex Willer, nenhum bandido o segura,
Bonelli escolheu Galepinni, para moldar sua figura.
Percorrendo o velho oeste, passou por mil aventuras.
Seu colt sempre certeiro;
faz bandidos e trapaceiros,
ir mais cedo pra sepultura.
Depois de se regenerar, e de expiar seus erros passados,
lutou contra a MÃO VERMELHA, bando forte e bem armado.
A entrar para o corpo dos RANGERS, ele então foi convidado.
Integrou suas fileiras;
e fez uma amizade verdadeira,
com outro ranger afamado.
KIT CARSON é o nome dele, Ranger maduro, firme e forte,
junto com esse parceiro, Tex desafia a sorte.
Montado em seu DINAMITE, cavalga de sul a norte.
Pelos índios foi aprisionado;
e a filha do chefe num gesto ousado,
foi quem lhe salvou da morte.
Casou a moda indígena, com LYLITH a esposa amada,
Lhe deu um filho, KIT WILLER, mas sua sorte estava traçada
Por mãos assassinas e traiçoeiras, ela foi assassinada.
Tex não chorou, foi forte,
e jurou vingar a morte,
de sua esposa adorada.
Vingou a morte da esposa, e para a aldeia retornou,
Com seu amigo índio Jack Tigre, a quem ele se afeiçoou.
A criar o pequeno Kit, Tigre muito lhe ajudou.
Tendo ele e Carson como amigos ,
enfrentaram muitos perigos,
e eis que o tempo passou.
Kit tornou-se rapaz, tornou-se Ranger também.
Como o pai é inteligente, atira e briga muito bem.
Esse quarteto valente não tem medo de ninguém.
São valentes, destemidos,
mandaram muitos bandidos,
ir mais cedo pro além.
Entre tantos inimigos, de uns não esquecerei,
Mefisto, seu filho Yama, El Muerto e o Grande Rei.
Lucero, Jack Thunder, Tigre Negro e o Mestre (Andrew);
Tex, Contra Marcus Parker, viu a coisa ficar feia
Pois foi parar na cadeia,
na história EM NOME DA LEI.
.
Para enfrentar tanta gente, Tex tem seus camaradas.
Jim Brandon e Gros Jean no Canadá, Pat com suas trapalhadas.
Cochise e Montales, no México, palco de muita enrascada
El Morisco, o Bruxo Mouro,
com o vinho Sangre de Toro;
e Eusébio na retaguarda.
Desejo longa vida a Tex, o nosso herói de papel,
Ajudou a formar meu caráter, ser um amigo fiel.
Mestres Bonelli e Gallep, escutem aí do céu,
A minha modesta homenagem,
a vocês e ao seu personagem,
pra todos tiro o chapéu...
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Arte: Sérgio Streiechen |
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Luís Roberto, Alvorada, RS, Brasil |
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Arte: Sérgio Streiechen |
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Kelvin Monteiro Gonçalves |
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Antonio Garcia |
Nesse tempo minha coleção de Tex tinha aumentado. A Vecchi lançou a segunda edição e fui completando os anteriores que faltavam. E surgiu a vontade de desenhar HQs de faroeste que eu fazia quase diariamente, mas com um desenho ainda muito tosco.
Em dado momento Tex passou a ser quinzenal e bateu o pavor: adolescente sem dinheiro, como fazer pra continuar comprando? Abri mão dos super heróis.
Em 1984 mudei de Rio Grande para Porto Alegre, onde conheci pessoas como Canini, Vasques, Santiago, Uberti entre outros que viriam a ser amigos, colegas e orientadores dos meus trabalhos. Nessa mudança aos 20 anos, sem profissão e vivendo em uma casa de estudantes, minhas coleções foram vendidas para que eu pudessem me manter na capital.
Seguindo, trabalhei na publicidade e em parques gráficos até abrir meu próprio estúdio de produção gráfica em 1988. Nesse meio tempo, sobrevivendo, as HQs foram ficando de lado.
Em 1993 com o estúdio em boa fase financeira, havia retomado a compra de HQs e consequente Tex, e Tex Gigante foi um achado para quem ficou tantos anos sem ler o personagem. Por Tex nunca ter cessado nas crises econômicas do Brasil, percebi que tinha um bom publico. E isto em empolgou a criar o Brett no ano seguinte. Mas essa história vocês já sabem, foi contada aqui no ColetiveArts.
Mas em 2000 o estúdio fechou as portas e com ele minhas coleções de novo foram vendidas. Na verdade as HQs e os livros me salvavam nas vacas magras. E Tex tinha compradores garantidos. Tex sempre esteve presente ao longo da minha trajetória tirando os hiatos da minha sobrevivência. E hoje com graphic novel, Tex capa dura e em breve em formato italiano, voltei a colecionar e ter o mesmo empolgamento de quando ia as bancas na adolescência.
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Rodrigo Rudiger, Penha, SP, Brasil |
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Jorginho |
Jorginho é Pedagogo, Filósofo, ilustrador com trabalhos publicados no Brasil e exterior, é agitador cultural, um dos membros fundadores do ColetiveArts, editor do site Coletive em Movimento, produtor do podcast Coletive Som - A voz da arte, já foi curador de exposições físicas e virtuais, organizou eventos geeks/nerds, é apaixonado por quadrinhos, literatura, rock n' rol e cinema. É ativista pela Doação de Órgãos e luta contra a Alienação Parental.
1 Comentários
Indiscutivelmente Fenomenal, parabéns a todos os participantes em especial ao Jorginho.
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