O UNIVERSO CONTA

 

 Naigaron

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Capítulo I - Uma estranha no ninho

Parte 4

Naquela manhã, Laura levantou-se alegre, pois era a primeira vez - em tanto tempo - que iria sair daquele quarto. Mas aquela alegria toda se misturou com o peso dos sonhos da noite. Sua cama estava toda revirada, já que acordara diversas vezes. Foi uma batalha com a cama. Correu até a janela, fechou os olhos, encheu seus pulmões de ar úmido, como se estivesse prendendo a respiração há horas. O frio na barriga se pronunciara, certamente encontraria “ele”. Passara a noite inteira sonhando com Eduardo. Em seus sonhos, os sentimentos que carregava escondidos em seu peito eram gritantes. Suspirou, decepcionada consigo mesma. Quando conseguiria esquecê-lo? Uma parte dela queria nunca mais vê-lo, mas outra morria de saudades.

Despertou dos seus devaneios quando ouviu alguém abrir a porta. Era Hannat. Nesse dia, utilizava uma túnica do mais belo e vibrante azul, uma tiara de um prateado azulado, algumas linhas em dourado nas mangas da túnica, simbolizando sua alta posição hierárquica. A roupa combinava com a personalidade dela.

- Que bom que já está acordada. Sei que andou estudando sobre os nossos costumes. Acredito que fará tudo que esperam da sua posição. Qualquer dúvida, pergunte a Eduardo, que estará ao seu lado durante toda a reunião - disse Hannat, com sua voz suave, porém fria, era realmente uma mulher encantadora, mas que causava desconforto na jovem. A garota estremeceu ao ouvir o nome “dele”, o frio na barriga aumentou mais.

- Bem… Vou me comportar como se tivesse vivido aqui desde sempre.

As duas permaneceram em silêncio, olhando uma para a outra. Laura não desviou seu olhar em nenhum momento, sentia que aquela mulher estava analisando e a julgando. Uma onda de raiva cresceu dentro do seu corpo, se Hannat dissesse mais alguma coisa referente a sua imagem, ela a atacaria da mesma forma. Tinha todos os defeitos da Dirigente na ponta de sua língua, era um super poder do mal que carregava dentro de si. Percebia as fraquezas das pessoas só de conversar com elas, mas era algo que ignorava, a percepção nascia em seu inconsciente. Porém, quando estava em um embate, no auge de sua raiva, todas as informações vinham na ponta da língua, na forma mais cruel que encontrava de despejá-las contra o oponente.


- Você se parece com seu pai! - Disse Hannat, rindo e desviando o olhar. A jovem se desarmou na mesma hora. Seu pai? O Dirigente do Condado das Águas? Mas em que se pareciam? Caminhou até a porta e antes de sair ela disse:

- Virão para arrumá-la, lembre-se de tudo que aprendeu - e fechou a porta atrás de si sem chavear.

Laura respirou aliviada quando a aura do quarto finalmente voltou a ser mais leve. Era estranha a comparação com seu pai. Nos breves momentos em que estiveram juntos, não percebeu nenhuma semelhança. Roul era um homem fechado, robusto, alto e muito firme na forma de falar. Tinha um jeito quase que misterioso, (aliás, Eduardo era muito parecido com ele) porém era visivelmente submisso aos Conselheiros Gerais. No que se pareciam? Será que sua atuação fora tão boa assim nos últimos dias? Logo mais, estariam a comparando com Hannat, pensou, rindo da possibilidade. Deu de ombros e se atirou na cama, alegre novamente com a certeza de que a porta do quarto estava aberta.

Alue apareceu em seu quarto com o café da manhã e para ajudá-la a se preparar para a reunião da noite. Ajudou-a a pentear os longos cabelos. Laura se observava diante do espelho com certa estranheza. Há muito tempo que não vislumbrava a própria imagem. Lembrou-se do seu rosto oval, dos olhos azuis  de cantos levemente caídos, do nariz arredondado e arrebitado, cheio de leves sardas que se amenizavam conforme a idade, das sobrancelhas rasas e do jeito de menina que lhe tirava os anos que já havia conquistado. Apesar dos seus 19 anos, poderia passar-se facilmente por uma menina de 15 anos. Tocou em sua testa, notando imediatamente as mãos com covinhas, reforçando sua aparência infantil. Algumas lágrimas rolaram em seu rosto, mesmo sem a careta de dor ou a noção de que estava triste. Por que vieram então? Estaria lembrando-se dele? Sim… certamente seu coração disse que a possibilidade dele vê-la como criança e não como mulher era imensa. Para completar, agora era a “sua irmãzinha”.

- Está arrependida de seguir meu conselho? - indagou Alue, reparando nas lágrimas da garota.

- Não. S-só estou preocupada com essa noite.

- Vai dar tudo certo, a senhorita tem representado muito bem o se personagem, sem trazer desconfianças - disse, tentando acalmá-la. Segurou- lhe as mãos. Porém percebendo que as lágrimas aumentaram e os soluços finalmente começaram a vir acompanhados da face enrugada, entendeu o verdadeiro motivo do choro - O amor tem suas dificuldades. Mas quando é verdadeiro, consegue superar tudo! - disse, num suspiro.

- Só que a dificuldade desse amor está no sangue. Somos irmãos! Irmãos! - bradou Laura, afastando-se de Alue. Surpreendeu-se consigo mesma por falar diretamente dos seus sentimentos - Tenho certeza que até em Naigaron, irmãos não se casam!

- Mas… - iniciou Alue, porém parou no mesmo instante em que algo veio em sua cabeça. A jovem percebeu que a amiga falaria algo, porém outra coisa a segurava.

- “Mas” o que?

Alue permaneceu em silêncio. Qualquer coisa que dissesse, apenas pioraria a situação. A serva conteve-se. Disse que Laura tinha razão e o melhor a fazer era seguir com seus planos. Concluíram o vestuário e a serva dirigiu-se à saída. Antes de fechá-la atrás de si, disse que tudo ficaria bem e aconselhou-lhe força. A porta não foi chaveada.

A alegria voltou novamente. A jovem olhou-se pela última vez em frente ao espelho, sorriu e pulou para a porta. Abriu com euforia e caminhou pelo corredor, olhando para cada canto como se tivesse começado a enxergar pela primeira vez.

Quando chegou na escadaria imensa, feita de mármore branco e corrimões ornamentados de azul celeste, lembrou-se que uma imensa biblioteca ficava no terceiro andar, na única porta ao lado da escadaria.

Ainda tinha muito tempo até a reunião, então desceu as escadas até o terceiro andar com passos leves e cuidando para ninguém encontrá-la, não queria companhia. Quando finalmente chegou em frente a porta, pôs o ouvido para se certificar de que não teria ninguém dentro do lugar e só depois da certeza e entrou.


CONTINUA...

Miriam Coelho


"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

COLETIVEARTS, 06 ANOS DE VIDA,
CONTANDO HISTÓRIAS, 
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