O UNIVERSO CONTA

 


A Melodia do tempo

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Parte 2 AQUI
Parte 3 AQUI
Parte 4 AQUI
Parte 5 AQUI
Parte 6 AQUI
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Parte 9 AQUI

Parte 10

A garota esperou algumas horas até que ouviu seus pais e seu irmão voltando para o jardim totalmente contrariados. Seu irmão desacreditava de si mesmo e da sua distração que gerou a fuga da irmã. O pai foi até a garagem, deixando a menina com medo de ser descoberta, mas fechou o portão da garagem dizendo que mais tarde pegaria o carro para ir à cidade continuar procurando por ela, talvez esteja na casa de algum antigo colega.

Assim que todos entraram para dentro da casa, Manuela relaxou, respirou fundo e se ergueu do esconderijo, aproveitando para esticar o corpo, que permanecera rígido e tenso por muito tempo na mesma posição. Caminhou pela peça pensando em como poderia fugir sem ser encontrada e nos próximos passos que daria na vida. A cidade era o pior lugar para ir por alguns dias. Vasculhou a garagem na busca de algum item que pudesse trazer informações sobre a sua família, porém não encontrou nada. Eles eram espertos!

Estranhamente o tempo começava a mudar fora da garagem, o vento forte começou a soprar anunciando que uma forte chuva viria. O certo era permanecer ali dentro e esperar para fugir o outro dia, porém seu esconderijo era de tempo limitado, pois logo alguém entraria novamente ali e não tinha muito onde se esconder. A única alternativa era realmente sair e ir até Art.

Colocou a mochila nas costas, abriu as venezianas com cuidado, olhando se alguém estava por perto. Quando concluiu que estava segura, pulou a janela, encostou-a com cuidado e saiu se esgueirando pelo jardim, caminhando agachada, em passos leves e rápidos, para evitar qualquer anúncio do seu paradeiro. Quando finalmente chegou na floresta, atirou-se para trás de uma árvore para tomar fôlego e espiar o paradeiro de sua família. Seu coração batia muito rápido e seu corpo gritava para correr. O vento soprava entre as árvores, facilitando ainda mais a sua passagem ser despercebida. Deu uma última olhada para a casa, confirmando que ninguém a vira e embrenhou-se, por fim, no interior da mata.

Ela caminhou por um longo tempo, sem conseguir encontrar realmente o caminho, até que o sol iniciou seu fim. Parava em alguns momentos para beber água, mastigar algo e reiniciava seu caminho. Onde estava a trilha que a levaria até Art? Foi apenas com as primeiras horas da noite que encontrara a trilha finalmente. Seu amigo tocava violino quando finalmente a viu. Os olhos de ambos enchiam-se de lágrimas ao se reencontrarem.

- Pensei que nunca mais o veria! - disse Manuela, correndo para abraçá-lo. O tronco era duro, porém o aconchego do abraço era indestrutível para ela. Sentia que estar ali e com ele era a coisa mais certa da vida.

- Senti sua falta, mas como prometi, sempre nos veremos. - ele disse, retribuindo seu abraço.

- Não descobri nada sobre minha família. - disse com tristeza - Talvez eu nunca saiba por que me prendiam. Contudo consegui fugir. Precisarei ficar aqui por um tempo, até que desistam de me encontrar. 

 - Um dia você saberá da verdade sobre eles… tudo tem seu tempo.

- Não vou desistir. Mas não vamos mais falar dessa página que virei, nunca mais deixarei que me prendam!

Ambos se desvencilhar do abraço, sorrindo de alegria. Art pegou seu violino e iniciou uma nova melodia, enquanto a jovem se sentava no seu velho canto. Estava tão cansada, no entanto só naquele momento que sentiu toda a exaustão do corpo. Tudo doía, seus olhos pesavam e a música relaxava seu corpo a cada acorde. Finalmente caiu no sono e voltou a ser visitada por seus sonhos.

Ambos se desvencilhar do abraço, sorrindo de alegria. Art pegou seu violino e iniciou uma nova melodia, enquanto a jovem se sentava no seu velho canto. Estava tão cansada, no entanto só naquele momento que sentiu toda a exaustão do corpo. Tudo doía, seus olhos pesavam e a música relaxava seu corpo a cada acorde. Finalmente caiu no sono e voltou a ser visitada por seus sonhos.

- Aqui está uma bruxa! - Gritou uma voz masculina que fez a multidão se  silenciar. O homem usava uma longa capa preta, com capuz. Em sua cintura, uma corda simples amarrava a batina como um cinto. Levava em seu peito uma imensa cruz dourada. Ele descobriu a cabeça e continuou a falar - Temos testemunhas de que essa mulher usava ervas para enfeitiçar pessoas, tirar as doenças que Deus enviava para seus destinos e tentava reviver vidas que já estavam no reino do Pai.

- Não é verdade! Eu nunca tentei ressuscitar ninguém, mas curei pessoas, como qualquer outro curandeiro do povoado!

- Uma mulher curandeira? - gritou com indignação - Uma mulher não deveria nem falar em público ou olhar nos olhos de um homem! Ela enfeitiçou vários homens, - apontou-a para a população que escutava com atenção e raiva - mas seu maior pecado foi enfeitiçar o homem mais proibido de todos, um seminarista!

- Nunca…

- Cale-se! Você desviou um homem do caminho de Deus e o fez mentir, casar com você e viver uma vida escondida de sua família!

Sophie engasgou-se com aquelas palavras. Miguel era seminarista? Ele mentiu para ela? Por isso nunca pudera conhecer seus pais. Mas ela fora enganada, pois ele sempre dissera que era órfão, que todos haviam morrido queimados em um acidente que destruiu a casa onde viviam. Como ele poderia mentir daquela forma e para ela? Algo estava errado, talvez aquele homem estivesse mentindo! Ela desabou no chão aos prantos. Seu coração estava mais dolorido que antes. Quem era o homem com quem casara?

- Por essas práticas, eu condeno essa mulher a afundar no rio! - ele sentenciou por fim, aplaudido por todos.

- Eu não sabia quem era Miguel! - urrou ela, dilacerada entre a raiva e o desespero - Ele não me contou quem realmente era! Ele mentiu!

- Cale-se, bruxa! Meu sobrinho jamais mentiria! Você sabia de tudo e ainda assim o enfeitiçou, casou-se com ele e o afastou do seu caminho!

A jovem foi arrastada pelos servos do padre até o rio, seguidos pelo povo gritando injustamente por seu fim. Amarraram uma pedra em seus pés, enquanto o padre lia um trecho da bíblia. Depois de algum tempo sendo obrigada a ouvir todo aquele sermão, ela reconheceu o rosto do seu amado em meio a multidão. Ele a olhava com aflição, mas não tinha nenhum movimento para ajudá-la. Parecia estar travado, enraizado no fundo da terra. A garota o olhava com súplica, ele poderia defendê-la, contar a verdade a todos, porém não foi capaz de dizer uma palavra. Naquele momento ela teve certeza de sua morte, aquele era o seu fim. Assim que a leitura terminou, o padre acenou para os seus servos que a atiraram nas águas profundas do rio, amarrada por cordas e puxada por uma pedra até o fundo escuro das águas. Sophie afundava cada vez mais, lamentando-se de cada momento em que salvara a vida de alguém, mas, acima de tudo, lamentava-se de ter conhecido e amado Miguel, o homem que prometera diante de seu pai que a cuidaria, a amaria e a protegeria para sempre. Cada lembrança dos momentos juntos era marcada pelo som do violino que tocava para ela nas noites em que ainda eram enamorados e felizes.

Chegando no fundo do rio, quando parecia que daria seu último suspiro, ela gritou de tanta raiva e ódio que carregava em seu peito, amaldiçoando-os eternamente por sua morte. Todos eram infames! Porém, ao invés do seu fim, a força da sua raiva arrebentou as cordas, destruiu a pedra e a levou para as margens do outro lado do rio. Ela emergiu na superfície, tomou um grande fôlego de ar e tomou a decisão que mudaria vidas para sempre.


Continua no próximo sábado ...


Miriam Coelho


"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

COLETIVEARTS, 06 ANOS DE VIDA,
CONTANDO HISTÓRIAS, 
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