Naigaron
Capitulo I
Parte 1 clique AQUI
Parte 2 clique AQUI
Parte 3 clique AQUI
Parte 4 clique AQUI
Parte 5 clique AQUI
Capitulo II
Parte 1 clique AQUI
Parte 2 clique AQUI
Parte 3 clique AQUI
Parte 4 clique AQUI
Parte 5 clique AQUI
Parte 6 clique AQUI
Parte 7 clique AQUI
Capítulo III - Primeiras verdades, primeiros passos
Quando Laura chegou, todos já se encontravam ao pé da escada, em frente à porta principal da Casa, despedindo-se. Roul e Hannat não foram nenhum pouco afetuosos. Mal olharam para a garota. Hannat apenas se limitou a lembrá-la de cuidar da pele, pois estavam nascendo novas espinhas. Roul deu-lhe um leve tapa em seu ombro e voltou-se para um dos Conselheiros, perguntando que rota seguiram. Eduardo a fitava com seu olhar indecifrável de sempre. A garota desviou o máximo que pode, distraindo-se com a despedida de Liuk e Lira. Porém sempre que era seguro não ser notada, olhava para Eduardo, arrependendo-se um pouco de suas decisões. Aquele era o fim, o momento em que jamais voltariam a se ver - ambos sentiam isso. Contudo não havia mais volta. Buscava reter o máximo de memória dos seus traços. Por mais que ele a decepcionasse, o sentimento dela não morria.
Alue surgiu no canto de uma das portas atrás das escadas. Acenou para Laura de longe, no instante que seus olhos se cruzaram. Olharam-se fixamente e pareciam se comunicar mentalmente, era como se a amiga lhe dissesse para ser forte e confiar nos Nômades das Águas, a jovem assentiu com a cabeça para a serva, que voltou a desaparecer antes de ser notada.
Todos entraram num veículo parecido com um trem, porém menor e sem trilhos. Era moderno e na última vez que Laura o utilizou, lhe explicaram que funcionava através da energia carregada dos rios e cachoeiras presentes no planeta. Em Naigaron são conhecidos como Orkis.
A viagem não foi longa, assim que o Orki cruzou o centro do Condado logo entrou na densa floresta, onde podiam seguir apenas uma estreita trilha feita para os automóveis. Laura se indagava como seria sua nova vida ao se ver livre daquelas pessoas à sua volta.
- Um dia, você conhecerá o Condado do Gelo e amará a paisagem tanto quanto esta - disse Liuk, sentando-se ao lado da noiva - Às vezes vejo você quieta, perdida no olhar… gostaria de poder ler a sua mente para entender o que tanto pensa.
- Já pensou como seria viver uma vida longe dos nossos Condados - indagou a jovem, aos cochichos com o rapaz. Ele se surpreendeu com a pergunta e olhou para os Conselheiros com cautela.
- Apenas os traidores da ordem vivem assim. Estamos indo encontrar um grupo deles. É melhor que ninguém mais a ouça falar assim.
Laura voltou seu olhar para a janela, era melhor não continuar aquele assunto, Liuk era um bom rapaz, mas não a entendia tanto quanto Eduardo. Estavam prontos para substituírem seus pais e assumirem a vida que lhes foi premeditada. Percebeu que ele a olhava com muita intensidade. Podia sentir que de alguma forma o conquistara, porém não tinha como ela corresponder aos sentimentos. Culpou-se pelas suas atitudes para com ele desde o início… se ao menos tivesse tido responsabilidade emocional.
Finalmente o grupo chegou ao destino.
O acampamento dos Nômades das Águas era diferente do que Laura imaginava. Lindas lonas da cor azul céu estendiam-se pelas copas das árvores. Imensas cabanas cobriam grande parte de uma clareira, acolhendo inúmeras pessoas com trajes simples nos vários tons de azul. A jovem ficou encantada com a alegria que todos demonstraram em seus gestos. Foram recebidos pois dois jovens que prometeram levar o grupo até o chefe. Os Conselheiros Gerais seguiram na frente, enquanto os demais caminhavam com receio. Exceto Laura, que olhava para tudo com curiosidade. Em volta de uma arvore gigante, de tronco tão grosso quanto uma casa, uma escada de madeira serpenteava até o topo. Nos galhos mais extremos e resistentes, cabanas suspensas balançavam com o vento.
- Algumas famílias moram lá em cima - disse o mais jovem dos rapazes, percebendo a surpresa de Laura.
Os nômades não pareciam receosos com a chegada do grupo. Todos viviam suas vidas com tanta espontaneidade que a chegada deles parecia ser comum, como a de velhos amigos.
Chegaram até uma cabana central, sem paredes, toda aberta, fixa por toras de árvores. O lugar parecia solene. Pediram para que todos tirassem os calçados. Havia um pano no chão com almofadas formando um círculo. Antes que sentasse, o líder do grupo chegou acompanhado.
- Saudações, Condado das Águas e Conselheiros - disse um rapaz magro, comprido, de olhos claros e um tanto curioso com o grupo, aparentava ser pouco mais velho que Laura. Olhava para todos rapidamente, mas se ateve na jovem por mais tempo. - Eu sou Liz, o cunhado do Líder. - disse, apontando para o homem ao lado, de aparência forte, olhos claros também, de cantos caídos. Tinha uma expressão doce, porém forte - Estou aqui para ajudar.
Cada um sentou em uma almofada. Laura sentiu uma forte energia invadir o seu corpo desde o instante em que seus olhos cruzaram com os do líder. Havia algo de muito chamativo naquele homem que a incomodava. Seria um aviso para não dar continuidade em seus planos?
- Saudações a todos - disse o líder. - Eu sou Riuky, o líder dos Nômades das Águas. Qual o objetivo da visita ao nosso acampamento? - indagou ele, logo que todos estavam sentados.
- Estamos aqui para pedir que o grupo se retire. - disse o Conselheiro da cicatriz no rosto. - Vocês estão perto demais das terras do Condado das Águas e isso está gerando medo dentro e fora do Condado.
- Mas por que gerarmos medo, se a guerra acabou há muitos anos? Não temos mais como lutar e essa guerra levou muito de nós. - disse Riuky, com sinceridade e melancolia. Laura podia sentir que ele não mentia. Porém tudo naquele lugar estava mexendo com ela… era como se lembrasse de algo que esquecera.
- Talvez estejam aqui por outros motivos! - retrucou o Conselheiro. A única mulher do Conselho tocou em seu braço chamando-lhe a atenção. - Peço desculpas pela indelicadeza do meu novo irmão - disse ela, tomando a frente na fala - ele ainda está aprendendo as nossas regras. Não forçamos ninguém, nós apenas aconselhamos e damos opções em nome da paz e da ordem. Nossa sugestão de hoje é de que se retirem e encontrem outro lugar.
- Teremos de ir embora novamente? - exclamou Liz - Nós não aguentamos mais viver assim! Sempre que nos afastamos, encontramos com o clã Bestial. Eles não têm piedade!
- Achei que vocês fossem amigos? Afinal, o Clã Bestial já pertenceu ao Condado Animal.
- Sim, porém eles também perderam a guerra, ficaram longe do que os alimentava e agora vivem de forma selvagem. Perdemos muitos amigos, todas as vezes que os encontramos - respondeu Riuky.
- Talvez devêssemos levá-los até seus quartos para que descansem. Amanhã pensaremos juntos em outra possibilidade - sugeriu Liz.

O grupo concordou. Todos levantaram-se dos acentos. Laura deu mais uma longa olhada em Riuky, que a observava também. Não parecia um homem perverso, com planos de destruir um Condado e pessoas inocentes, como diziam dentro da Casa Principal. Mas sentia muita tristeza em seu próprio coração ao olhar para aquele homem.
O grupo, que seguia Liz, subiu a imensa escadaria em caracol improvisada ao redor da árvore grande. Aos poucos, cada pessoa foi ficando em um galho. Laura e Liuk - que tratou de dizer rapidamente que era o noivo da garota - ficaram no último andar, na última cabana, abaixo da cabana dos Conselheiros, a pedido destes.
Antes de Laura entrar em sua cabana, o Conselheiro mais novo a segurou pelo pulso.
- Estamos atentos! Qualquer coisa fora do normal será motivo para agirmos imediatamente. Não se preocupe com nada, futura líder dos Nômades do Gelo, você estará em casa amanhã e de qualquer forma.
Laura assentiu com medo. Naquele momento, acreditou que seria impossível ter sua liberdade novamente. Entrou no quarto sem perceber que seus olhos estavam escorrendo lágrimas. Tremia entre soluços.
Liuk, ao perceber o estado da jovem, puxou-a pelas duas mãos contro o próprio corpo e a envolveu num forte abraço. Laura sentiu-se confortável nos braços do noivo. Por alguns instantes, sentiu algo que não fosse apenas amizade. Quando voltou a si e da ideia que repentinamente iniciara em sua mente sobre o garoto, ela tentou afastá-lo, mas ele a segurou firme.
- Eu sei que você ainda não me ama. - disse ele - mas aqui, nesse momento, eu sinto tanto medo de perdê-la que tenho certeza de que a amo!
- Nós não daremos certo… - iniciou a fala.
- Não diga isso! - interrompeu, sacudindo-a pelos ombros enquanto procurava o olhar dela - Nós nos conhecemos há pouco tempo, mas sinto que podemos ser felizes.
- Acredita mesmo no papel que lhe deram desde o nascimento? Acredita tanto a ponto de se sacrificar por uma desconhecida apenas porque lhe disseram que deve amá-la? - disse ela, de forma tão seca e desprovida de emoção, que ele soltou-lhe o corpo.
- Eu sei o que você sente por Eduardo! Mas vocês nunca poderão ficar juntos! - ele disso, com tal veemência e irritação que ela se afastou assustada. Ao perceber o que disse, pareceu se arrepender.
Puxou-a novamente pelo braço e tentou beijá-la contra vontade, mas Laura reagiu se esquivando para o outro canto do quarto.
- Laura, eu te amo! - disse Liuk, caminhando até a porta de saída - Eu te amo!
Não percebe? Desde o primeiro momento em que a vi, percebi que a coisa mais certa que nossos pais fizeram foi planejar esse casamento. Há muitos dias que me seguro para não fazer isso, mas agora, aqui, nesse momento tão denso e cheio de perigos, não consigo pensar em nada além do medo de nunca poder dizer o que sinto. Tive medo de nunca poder beijá-la, sentir seu corpo e dizer o que está guardado dentro de mim. Preciso caminhar um pouco. Volto mais tarde - disse ele, deixando a jovem sozinha no quarto.
O coração da jovem disparava de nervosismo. Aquele episódio a deixou muito incomodada. Podia sentir a profundidade dos sentimentos de Liuk invadir seu coração sem ela permitir. Porque Eduardo não era como ele? Por que tinha de ser tão covarde e fazê-la sofrer tantas vezes? Por alguns instantes, pensou se a coisa mais certa a fazer não seria amar Liuk também. Era um homem bonito, corajoso e faria de tudo para não perdê-la. Porém não existe como mandar no coração. Novamente desejou beber alguma poção mágica que a fizesse esquecer de Eduardo para sempre.
A noite começou a cair e as luzes dos fogos em frente às cabanas iluminavam a grande árvore. A jovem podia ver do alto da sua cabana as pessoas rindo e conversando ao redor das cabanas do chão. As crianças corriam, brincavam, enquanto os mais velhos contavam histórias e comiam suas frutas.
Quando entrou novamente no quarto, Liuk já havia voltado e estava deitado na cama, de olhos abertos, olhando para o teto da cabana. Estava tão concentrado, que pareceu não notar a entrada de Laura. A garota só pensava em como poderia fazê-lo dormir antes que a madrugada viesse e perdesse a sua chance de fuga. Finalmente ele a olhou. Ela deitou-se ao lado dele, ajeitou as cobertas e virou para outro canto, fingindo que dormiria. Ele permaneceu concentrado nela até adormecer.
Continua no próximo sábado…
Miriam Coelho |
0 Comentários