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Capítulo VI - Um encontro com o passado
- parte 5
Na manhã seguinte, mais cedo que o usual, Sole me acordou com muita dificuldade. Como demorei para dormir, meu corpo precisava de mais horas de sono, porém certamente meu caro mestre não iria nem querer saber. Precisava me preparar para ser de grande ajuda na destruição de um planeta, pensei ironicamente. Imaginei a rapidez com que meu mestre me mataria, assim, que soubesse quem eu realmente era. Talvez era disso que a Grande Fey falava. Ela certamente planejou que nós aproximássemos mais, para que ele descobrisse a verdade por conta própria. Eu precisava tomar mais cuidado que nunca!
- Vamos menina, essas são suas roupas de hoje. - disse ela, colocando as roupas sobre a minha cama. - A partir de hoje você usará peças mais confortáveis.
- Confortáveis para o que? - indaguei, sonolenta, tentando abrir os olhos.
- Liugh irá explicar, é claro. Eu não entendo muito disso... Mas vamos, molhe o rosto na água, eu trouxe um mingau reforçado e este chá que levanta até árvore caída! Soube que a senhorita desobedeceu muitas regras ontem, mas mesmo assim o nosso senhor irá cuidar de você e transformá-la numa verdadeira moradora do Condado Oculto! - disse ela, com alegria e orgulho - Eu disse que ele é um bom menino e você também!
Não tinha forças para discutir. Beberiquei o tal chá, quase errando a borda da caneca. Virei um pouco do líquido em mim mesma, porém Sole não estava errada, o chá me acordou quase que instantaneamente. Comi o mingau ao mesmo tempo que me vestia com ajuda da serva. Estava atrasada. Terminei o mingau e saímos apressadas em direção à biblioteca. Sole me explicava que iria me ensinar, naquele mesmo dia, o mapa inteiro do Condado, para que nos próximos dias eu pudesse encontrar Liugh por conta própria. Antes de eu entrar na biblioteca, ela se despediu me desejando boa sorte. Tive a impressão que nos veríamos com menos frequência.
- Está atrasada! - ele rosnou entre os dentes, assim que fechei a porta atrás de mim. Ele estava sentado na mesa, acompanhado de livros e papéis. Ergueu o rosto ao me ver e respirou fundo. Também dormira pouco.
- Eu não consegui dormir direito...
- Vamos começar! - me interrompeu ele - sente-se. - disse, apontando para a cadeira à frente. Sentei rapidamente.
- Hoje, vou contar informações que não tem nos livros que você tentou acessar. Existe um acervo escondido nesse mesmo espaço e apenas eu ou as pessoas da minha família tem acesso.
- Onde está o resto da sua família?
- Mortos - respondeu sem esboçar nenhum sentimento. Quis perguntar mais, porém sua expressão fechada não me deu coragem. - Depois que você souber de tudo, vou treiná-la.
- Você vai me treinar para o que?
- Para lutar. Mas antes, você precisa saber de algumas coisas.
- Você quer que eu lhe ajude a encontrar a filha do Condado das Águas e matá-la? - indaguei com medo.
- Primeiro escute! - ralhou ele, batendo com a ponta do dedo indicador na mesa. Ontem você conheceu a Grande Fey. Ela não é qualquer criatura do nosso planeta, ela é a mãe de todos os mágicos de Naigaron.
- Como assim?
- Nossos poderes vem dela!
- O de vocês?
- Nossos! - frisou ele.
- Nossos? - indaguei rindo.
- Você esteve no Condado das Águas, nunca percebeu que tinha uma conexão forte com o lugar? Com a terra? Com o ar? Com tudo que era natural?
Fiquei em silêncio, encarando-o. Ele só podia estar brincando comigo! Eu sentia saudades, em alguns momentos, do ar úmido, das frutas típicas, da paisagem, das cores. Mas acreditar que eu era uma mágica da água era surreal de mais!
- Você tem a magia da água. - ele disse por fim.
- Está enganado! - exclamei, rindo novamente - Eu achava que você não fazia brincadeiras! Por favor, me poupe!
- Eu jamais poderia salvá-la, quando a encontrei na floresta, se você não tivesse magia também.
- Ah, sim! Uhum! - retornei, incomodada, levantei e caminhei em direção a porta.
- Você estava morrendo, Lau. - disse ele, ainda sério - tinha muitos ferimentos, claramente não comia ou bebia há dias, perdera sangue. Eu só pude salvá-la com minha magia que corresponde a sua magia.
Bufei, com meus braços cruzados diante da porta, esperando que ele parasse de inventar aquelas coisas.
- Você é uma maga da água, eu também manipulo a água. Assim como posso tirá-la das pessoas, posso recriar água com poderes curativos. Porém, só posso curar os que têm a magia da água. Por anos, nossos Condados eram parceiros. A separação veio depois.
- Depois que vocês se esconderam do mundo.
- Sim!
- Não acredito. - respondi, forçando outra risada. Mas eu já estava brava.
- Você não acredita em mim porque cresceu longe da sua origem. Às vezes, me dá a impressão de que cresceu num lugar onde não existe magia alguma, pois tem dificuldades de entender as coisas desse mundo.
- Eu cresci na prisão! - ralhei.
- Ainda assim, é muito descrente! Mas não acabamos nossa conversa, pode sentar! - disse ele, apontando para a cadeira, fazendo muito barulho, para mostrar minha insatisfação - Como eu já lhe contei, a Grande Fey, é a mãe da magia em Naigaron. Ela é a Fênix que manipula o ar e o fogo. Há mais de milênios atrás, quando os primeiros habitantes de Naigaron eram criaturas muito puras, que viviam em seus elementos mais primitivos, a rainha de toda Naigaron era a Grande Fey. Em uma de suas viagens pelo mundo, conheceu o dragão da água, Nixu, que tinha o poder de esgueirar-se pelas matas como cobra. A grande Fey pretendia alimentar-se dele, até que descobriu ser outra criatura poderosa do planeta. Ambos se apaixonaram e uniram suas vidas. Porém essa união ia contra os planos dos irmãos de Nixu, que queriam roubar seus poderes para também terem a oportunidade de sair da água e andar pela terra.Fey e Nixu seguram seus corações, esconderam-se o de é o reino das águas e passaram milênios tendo seus filhos e vivendo de forma pacífica. - ele respirou profundamente, serviu um pouco de água, enquanto eu o encarava. A história me fez mergulhar numa imaginação profunda sobre tudo. Ele se preparou para continuar.
Continua no próximo sábado…
"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes
COLETIVE ARTS, 07 ANOS DE VIDA,
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